Jovens de 20 a 34 anos concentram a maioria dos novos casos de HIV e Aids no Pará
Em Belém, cerca de 18.700 testes rápidos foram realizados até setembro de 2025, com 645 resultados positivos.
A faixa etária entre 20 e 34 anos representa o maior número de novos registros de HIV e Aids no Pará em 2025, mesmo em um cenário geral de queda das notificações. Até 24 de novembro, esse grupo acumulou 1.307 dos novos diagnósticos de HIV e 324 dos casos de Aids registrados no estado, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). A persistência da alta entre jovens reforça o alerta para prevenção, testagem e educação sexual voltada especificamente a esse público.
Mesmo com esse recorte etário em destaque, o estado apresentou redução nos números gerais. De janeiro a novembro, os casos de HIV caíram de 3.280, em 2024, para 2.538 neste ano — queda de 22,6%. No mesmo período, os diagnósticos de Aids diminuíram de 970 para 756, representando redução de 22%. Os dados foram divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
Os números e a prevenção ganham visibilidade nesta segunda-feira (1/12), no Dia Mundial de Combate à Aids, data, instituída pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1988. No Brasil, o mês de dezembro é marcado pela campanha Dezembro Vermelho, que visa conscientizar a população sobre a prevenção, testagem, tratamento e, especialmente, sobre a importância de combater o estigma em torno das pessoas que vivem com HIV.
Em um cenário mais específico, Belém tendência nacional, com um aumento nos casos de HIV entre jovens de 15 a 29 anos, além de populações mais vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans, profissionais do sexo e usuários de drogas. Cerca de 18.700 testes rápidos foram realizados até setembro de 2025, com 645 resultados positivos. O número de pessoas que iniciaram o tratamento antirretroviral também aumentou, refletindo a expansão dos serviços de saúde.
O contexto da luta contra a Aids, porém, não é apenas de prevenção e tratamento. O estigma social, a desinformação e as dificuldades de acesso aos cuidados médicos continuam a ser barreiras que afetam diretamente a vida das pessoas vivendo com o HIV. Em Belém, capital do Pará, diversas ações são realizadas ao longo do mês para reforçar a mensagem de que testar é saber, e saber é cuidar.
Embora o Brasil tenha avançado na implementação dessas estratégias, ainda existem desafios significativos em algumas regiões, especialmente no Pará, onde o Grupo Paravida, uma organização de apoio às pessoas vivendo com HIV, identifica a falta de acesso à testagem e tratamento como um dos maiores obstáculos. Jair Santos, presidente do grupo, ressalta que muitos moradores de áreas periféricas da cidade enfrentam dificuldades para acessar serviços de saúde adequados, muitas vezes devido ao medo do estigma social. "O preconceito faz com que muitas pessoas evitem o teste e o tratamento, o que coloca suas vidas em risco", afirma Santos.
Atualmente, a prevenção ao HIV deve ser feita de maneira combinada, ou seja, com o uso de múltiplas estratégias para reduzir o risco de transmissão. Lourival Rodrigues Marsola, médico infectologista, destaca que o uso correto e consistente de preservativos continua sendo uma das formas mais acessíveis e eficazes de proteção. "Além disso, a testagem regular é fundamental para o diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento", explica o especialista.
Uma das inovações mais importantes nos últimos anos foi a introdução da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP). A PrEP, uma medicação preventiva, tem sido indicada para pessoas com maior risco de exposição ao HIV, enquanto a PEP é uma medida emergencial a ser tomada até 72 horas após a exposição ao vírus.
Outro avanço importante é o tratamento antirretroviral (TARV), que permite que as pessoas vivendo com HIV mantenham a carga viral indetectável, o que, segundo a teoria "Indetectável = Intransmissível" (I=I), impede a transmissão do HIV. A combinação de todas essas estratégias tem se mostrado altamente eficaz para reduzir as novas infecções e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas.
Dezembro Vermelho: Mobilização em Belém
Em 2025, a Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), inicia as ações do Dezembro Vermelho com o objetivo de ampliar a prevenção e o diagnóstico precoce do HIV, fortalecer o tratamento e reduzir o estigma em torno da doença. O evento, que será de 1 a 21 de dezembro, inclui uma série de atividades como testagem rápida, distribuição de preservativos, aconselhamento, e ações educativas em espaços públicos, escolas e comunidades vulneráveis.
De acordo com a coordenação da campanha, o público-alvo são pessoas vivendo com HIV, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas trans, usuários de drogas, jovens de 15 a 24 anos e gestantes. A mensagem central da campanha, "Testar é Saber. Saber é Cuidar", reforça a importância do autocuidado e da testagem regular para prevenir o HIV e as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A Casa Dia, centro de atendimento especializado em doenças infecciosas, realizará ações de testagem e orientação durante todo o mês. Além disso, serão feitas mobilizações em locais como o Shopping Bosque Grão-Pará, o Mercado Ver-o-Peso, Mosqueiro e Outeiro, buscando atingir especialmente populações de difícil acesso.
Para o Grupo Paravida, o combate ao estigma e à discriminação é uma das prioridades. O estigma relacionado ao HIV ainda impede muitas pessoas de buscarem o tratamento adequado e de se sentirem plenamente integradas à sociedade. "É fundamental garantir que as pessoas vivendo com HIV tenham acesso não só a medicamentos, mas a suporte psicológico e social. No Paravida, trabalhamos para que essas pessoas se sintam acolhidas, respeitadas e incluídas na sociedade", explica Jair Santos.
Apesar dos avanços, o cenário ainda exige esforços contínuos. O acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e PEP precisa ser expandido para todas as regiões do estado, e a luta contra o estigma deve ser constante. A educação em saúde, além de ser um ponto fundamental nas campanhas, também precisa ser uma prioridade em todas as esferas da sociedade.
A Prefeitura de Belém também se compromete a fortalecer a prevenção e a educação em saúde, com ações intersetoriais que envolvem escolas, universidades e organizações comunitárias. O objetivo é reduzir a discriminação, promover o acolhimento e garantir que todos, independentemente de sua condição sorológica, possam viver com dignidade e respeito.
Onde buscar ajuda em Belém
A população de Belém pode acessar os serviços de testagem e acompanhamento médico em diversas unidades de saúde da cidade, incluindo o Centro de Atenção à Saúde em Doenças Infecciosas Adquiridas (Casa Dia) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS). Além disso, a Casa de Testagem e Aconselhamento (CTA) oferece orientação e suporte para pessoas que desejam realizar o teste do HIV ou receber informações sobre prevenção.
Campanha do Dezembro Vermelho, contra o HIV, começa segunda, em Belém
Cronograma de ações
- 01/12 – Lançamento oficial (Auditório da SESPA)
- 05/12 – Jantar do Selo Dezembro Vermelho
- 06 e 07/12 – Ações no Shopping Bosque Grão-Pará
- 10/12 – Testagem para população em situação de rua (Icoaraci)
- 11/12 – Ação no Ver-o-Peso
- 13/12 – Mobilização em Mosqueiro (Vila)
- 19/12 – Ação para trabalhadoras sexuais (Centro Comercial)
- 20/12 – Ação em Outeiro
- 21/12 – Encerramento na Praça do Horto (Bairro dos Campos)
Público-alvo
- A campanha prioriza grupos em maior vulnerabilidade:
- Pessoas vivendo com HIV
- HSH (homens que fazem sexo com homens)
- Pessoas trans
- Profissionais do sexo
- Usuários de drogas
- População em situação de rua
- Pessoas privadas de liberdade
- Jovens de 15 a 24 anos
- Gestantes e puérperas
Palavras-chave
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