Estudo mostra poluição do rio Tapajós em áreas próximas a Santarém e Itaituba
Universidade Federal do Oeste do Pará e Instituto Evandro Chagas detectaram substâncias que degradam ambiente e levam riscos à saúde de populações

Um estudo da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em parceria com o Instituto Evandro Chagas, apontou presença de poluentes inorgânicos, derivados da ação do homem, em pontos de coleta nas águas de regiões do rio Tapajós, nos municípios de Santarém e Itaituba. As amostras merecem atenção porque, quando são encontradas em grandes quantidades, estão relacionadas à possibilidade de incidências de casos de "síndrome do bebê azul" - meta-hemoglobinemia, que afeta o transporte de oxigênio no corpo, pela oxidação de ferro na hemoglobina - e a problemas dermatológicos, estomacais, e dos rins.
A pesquisa foi liderada pelo professor Arthur Abinader Vasconcelos, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef) da Ufopa, em parceria com os pesquisadores Kelson Faial e Bruno Santana, do Instituto Evandro Chagas, e com a participação de outros professores da Ufopa. O artigo "Quantificação de Ânions Inorgânicos em Regiões Antropizadas do Rio Tapajós, no Estado do Pará, Brasil", foi publicado recentemente na Revista Virtual de Química.
O trabalho investigou a presença das substâncias químicas chamadas ânions entre esses poluentes nas regiões do Tapajós. "Esses ânions são substâncias que podem apresentar certas afinidades com componentes de nosso sistema biológico, como o nitrato, que pode gerar a chamada 'doença (ou síndrome) do bebê azul' ou meta-hemoglobinemia, que afeta o transporte de oxigênio no corpo pela oxidação do ferro Heme presente na hemoglobina. Destacam-se também outros ânions no estudo, como o cloreto, que pode causar problemas dermatológicos e estomacais; o fosfato e o sulfato, que podem afetar os rins", detalhou a Ufopa, em um comunicado feito esta quarta-feira (22) sobre o estudo.
Região da orla de Santarém teve as maiores concentrações de nitrato
Segundo diz a pesquisa, a região I, compreendida pela orla de Santarém, teve as maiores concentrações de nitrato, apresentando algumas residências e a presença de esgotos despejados no rio. O esgoto de áreas urbanas é uma das causas mais comuns da poluição com nitrato nos rios, de acordo com relatório agroambiental da União Europeia. Na região II, em Pajuçara, foram encontrados os maiores valores de concentração para o sulfato. Alguns pontos também indicaram a presença de fosfato em valores mais elevados. “Os altos valores de fosfato possivelmente ocorrem devido ao depósito de esgoto doméstico no rio, pois estão localizados na região limítrofe da cidade de Santarém”, aponta o artigo.
Na orla de Itaituba, que corresponde à região III, apenas em dois pontos coletados se detectou a concentração do nitrato. Segundo o artigo, “o fluxo do rio nessa região é bastante intenso além disto, os valores não encontrados na maioria das amostras nesta região possivelmente representam a presença de atividade microbiana”. Na conclusão do trabalho, o fluxo das embarcações é apontado como um possível responsável por parte dessa contaminação.
Locais do estudo foram escolhidos por serem regiões populosas
De acordo com o professor Arthur Vasconcelos, os locais do estudo foram escolhidos, entre outras razões, por serem regiões populosas por onde o rio Tapajós corre. “Trata-se, exatamente, da região que concentra o maior aquífero de água doce do planeta, o aquífero do Tapajós”, disse.
O pesquisador apontou a importância do estudo devido à não existência de registros dos parâmetros relacionados à contaminação de esgoto doméstico a partir de elementos químicos como o fosfato, o sulfato ou ácido sulfônico, que podem estar presentes em detergente e shampoo. Outros elementos são o cloreto e o nitrato, que podem estar presentes devido às áreas de agricultura, nas quais são usados produtos químicos.
A Redação Integrada de O Liberal entrou em contato com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e aguarda um posicionamento sobre o assunto.
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