Estimativa de casos de câncer no Pará cresceu quase 25% entre 2020 e 2023

Campanha alerta para o aumento de casos e a urgência de mudanças de hábito para prevenção

Camila Guimarães
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Os mais de 25 mil casos de câncer esperados em 2023 na região Norte, sendo quase metade deles (45,4%) só no Pará, representam um aumento de 3,2% no número de casos para a região e de 24,9% para o estado, em comparação com o que era estimado há três anos, em 2020. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Com a Union for International Cancer Control’s (UICC), o Instituto também avalia que cerca de 6 milhões de pessoas podem morrer a cada ano, até 2025, no mundo todo, caso não haja mais conscientização sobre a doença. É justamente com o objetivo de disseminar informações sobre prevenção e controle do câncer que foi instituído o Dia Mundial do Câncer, celebrado neste sábado, 4 de fevereiro.

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O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Luis Eduardo Werneck, explica que o câncer é uma doença com mais de 100 tipos diferentes, que pode ser entendida, de modo simplificado, como uma desordem das células do organismo. Dependendo do tipo de célula do corpo afetado, tem-se tipos de câncer diferentes – como os carcinomas, relacionados às células da pele e mucosa, ou os sarcomas, quando as células acometidas são de ossos, músculos ou cartilagens.

“A gente pode pensar na arrumação das células como um monta-monta: se uma peça começa a se encaixar errado, essa desarrumação se perpetua e todo o resto fica desarrumado. É uma desordem que tende a aumentar, gera um nódulo que se torna um tumor. Pode acontecer em qualquer lugar do corpo”, exemplifica o médico.

 

Diversidade e especificidade de cada tipo de câncer são desafios

As causas dos diferentes tipos de câncer também são diversas. Em parte, fatores biológicos podem estar relacionados ao desenvolvimento da doença e, em parte, fatores ambientais, pelo modo como cada pessoa se relaciona com o ambiente e o estilo de vida que leva. Entretanto, alguns fatores de risco já são amplamente conhecidos da medicina como potencialmente perigosos, como o hábito de fumar (uma das principais causas de câncer de pulmão); ter alimentação à base de ultraprocessados e industrializados (aumentando as chances de câncer de intestino), entre outros.

“O câncer é uma doença individual e não coletiva. Isso faz com que a gente tenha uma das maiores características do câncer: eles são todos diferentes. Nenhum é igual ao outro. Além disso, cada ser humano é mais propenso a ter câncer que o outro, o que a gente chama de afinidade biológica. Mas também depende de como a pessoa se relaciona com o ambiente. Por exemplo, se uma pessoa trabalha na lavoura desde a infância, pegando sol todos os dias, ele tem mais chance de desenvolver câncer de pele que outra pessoa que trabalha como balconista. Mas o balconista pode desenvolver outro tipo de câncer, dependendo da vida que leva ou da afinidade biológica que tem”, detalha o médico.

 

Casos da doença aumentam ao passo que o tratamento evolui

Diante do desafio de lidar com tantas variáveis, o tratamento do câncer acaba sendo múltiplo também. Luís Werneck afirma que as técnicas e os estudos voltados para o tratamento têm avançado muito nos últimos anos, sendo capazes, hoje em dia, de garantir melhor sobrevida às pessoas diagnosticadas, sobretudo àquelas que descobrem a doença mais cedo.

“A imunoterapia é a grande novidade do tratamento. Até os anos 1990 ou 2000, os medicamentos eram mais genéricos: eles agiam sobre as células do câncer, mas também sobre as células saudáveis. Hoje em dia, a gente consegue tratar só as que têm câncer, o que é uma grande evolução”, destaca Luís.

Com o avanço das tecnologias no tratamento, Luís estima que, no futuro, menos pessoas morram por câncer no mundo, ainda que o número de casos da doença cresça – ele diz que isso se deve à banalização de maus hábitos que têm contribuído para mais casos de câncer na população:

“Nos próximos 20 anos, o número de pessoas com câncer vai dobrar. Vai ser quase uma pandemia de câncer. Porque nos últimos 20 anos passados, a gente veio fazendo um monte de bobagens: mais estresse, exposição ao sol, consumo de álcool, fumo, mulheres têm tido menos filhos, pessoas tomam ou comem mais hormônios etc… Só que com o avanço da ciência, as mortes devem diminuir cerca de 30%”.

 

Educação de futuras gerações é a esperança

A campanha do UICC, organização da qual o Inca é parceiro, trouxe como lema #IAmAndIWill (#EuSoueEuVou) ao longo do último triênio, afirmando que qualquer pessoa tem o poder de reduzir o impacto potencial do câncer na própria vida, na vida das pessoas que ama e no mundo. Até 2024, o tema escolhido é “Por cuidados mais justos”, um convite para que indivíduos e organizações trabalhem para reduzir o impacto do câncer. Para o vice-presidente da SBC, esse engajamento depende de uma ampla rede educação em saúde:

“Na grade curricular dos estudantes, desde os níveis iniciais, não há uma disciplina que ensine sobre saúde. É claro que, em algumas delas, são mencionadas e estudadas algumas doenças, como na biologia, por exemplo, mas esse trabalho poderia ser mais profundo. Eu acredito que essa educação nas bases pode mudar as perspectivas futuras, porque é uma geração que ainda está estabelecendo hábitos, que podem ser melhores que os da geração atual – que são mais difíceis de mudar, uma vez estabelecidos”, pondera Luís Werneck.

Além disso, o especialista destaca práticas urgentes que podem ser assimiladas por cada pessoa para reduzir o potencial do câncer: hábitos de vida saudáveis, prática de exercícios físicos e alimentação balanceada. Junto com isso, Luís enfatiza a importância de exames e outros recursos preventivos que ainda são subutilizados no Brasil:

“Todos os exames preventivos estão disponíveis no SUS, mas são pouco utilizados pela população: o preventivo (PCCU), ultrassom, mamografia e, principalmente, vacina contra HPV para crianças de 9 a 14 anos, que tem sofrido um grande impedimento moral e cultural porque responsáveis acreditam que ela está relacionada ao estímulo ao sexo precoce. Aí também vemos a importância da educação”.


12 dicas para prevenir o câncer:

– Não fumar;
– Adotar uma alimentação saudável;
– Manter o peso corporal adequado;
– Praticar atividades físicas;
– Amamentar;
– Realizar exame preventivo de câncer do colo do útero a cada três anos, para mulheres com idade entre 25 e 64 anos;
– Vacinar as meninas de 9 a 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos contra o HPV;
– Vacinar-se contra a hepatite B;
– Evitar bebidas alcoólicas;
– Evitar carnes processadas;
– Evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h;
– Evitar a exposição a agentes cancerígenos no ambiente de trabalho.

Fontes: Instituto Nacional do Câncer – INCA / Union for International Cancer Control’s (UICC)

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