Com a chegada das chuvas, aumentam riscos de contaminação de doenças ocasionadas pela falta de saneamento

No Pará, apenas 4,4% dos esgotos são tratados

Cleide Magalhães
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O Pará, que conta com cerca de 8,3 milhões de habitantes, ainda pouco avança nos serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos. O Estado oferece serviços de água tratada a 45,3% dos habitantes, mas apenas 6,3% deles têm acesso à coleta de esgoto. As perdas de água potável nos sistemas de distribuição chegam aos incríveis 40%. Com isso, o Pará está acima da média nacional neste quesito, que é 38,3%. Ainda no Estado apenas 4,4% dos esgotos são tratados. Dessa forma, o Pará se destaca como o segundo estado brasileiro com maior déficit em tratamento de esgoto. É o que aponta o novo Ranking do Saneamento Básico, com base no Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) 2017, publicado pelo Instituto Trata Brasil este ano.

Ainda conforme o estudo, no Pará, o baixo investimento em esgoto tratado repercutiu também em números alarmantes de casos de doenças por veiculação hídrica, como verminoses, diarreias, hepatites, problemas de pele, além de ajudar na proliferação do mosquito Aedes aegypti. O estado é um dos que apresentam mais números de internações e óbitos por doenças de veiculação hídrica no Brasil. Em 2017 foram registradas 31.510 internações que geraram 91 mortes de paraenses.

Diante desse cenário e com a chegada do período chuvoso no Pará, onde muitas cidades ficam alagadas e os canais, com lixos, transbordam, a exemplo do que ocorre em Belém, a falta de saneamento básico reflete, ainda mais, no prejuízo à saúde da população.

Para a infectologista Luciene Nogueira, uma cidade saneada com quatro elementos - água, esgoto e lixo (resíduos sólidos) tratados, e águas pluviais drenadas – é fundamental para ajudar a diminuir drasticamente os índices de doenças causadas por veiculação hídrica, principalmente.

“O saneamento envolve várias coisas, como a água, que deve ser oferecida com qualidade à população, precisa ser potável. Além do esgoto, pois os dejetos não podem ser eliminados caindo diretamente nos rios. Tem também a questão da coleta e destinação dos lixos. Todas essas coisas deveriam chegar à população da maneira correta, pois, caso contrário, podem gerar doenças, prejudicando principalmente as crianças e idosos. Eles estão mais sujeitos a terem as doenças pela própria imunidade deles. A criança porque ainda não está forte. E o idoso porque está fragilizado”, alerta a infectologista.

A especialista destaca que a água de má qualidade e contaminada leva a pessoa adquirir alguns tipos de doenças transmitidas por vias fecal e oral. “São doenças que os agentes podem ser as bactérias, e a pessoa pode ter diarreia, desinteira, cólera, giardíase, amebíase, ascaridíase (que é a lombriga). Se a pessoa não usar a água de forma correta, como limpeza da higiene pessoal e da casa, pode adquirir outras doenças, como infecções na pele e nos olhos”, explica.

Ainda na visão dela, a prevenção disso depende bastante das ações de políticas públicas para garantir o direito à água de qualidade. Mas a população também pode fazer a sua parte. “As pessoas podem evitar entrar em contato com essas fontes possivelmente contaminadas. Assim, podem ferver a água, armazenar na geladeira e fazer uso dela, e cuidar da higiene pessoal”, orienta.  

Doenças ocasionadas pelo contato com as fezes e os lixos

A infectologista Luciene Nogueira enfatiza também outras doenças ocasionadas pelo contato com as fezes. “A gente nem imagina que pode comer em algum lugar e a água utilizada teve contato de fezes de uma pessoa doente, e, assim, a pessoa adquire doenças ocasionadas por microrganismos, como a poliomielite, hepatite A, giardíase e diarreia por vírus, como o rotavírus. Essas são formas de transmissão fecal-oral não bacterianas. Tem também as de transmissão fecal-oral por bactérias, como a febre tifoide e outras diarreias”.

Ela esclarece que não é possível a pessoa ver os microrganismos contidos nesses ambientes a olho nu e, por isso, é fundamental estar atenta. “É melhorar o abastecimento de água, a moradia, a vida das pessoas. Mas no cotidiano é também importante a higiene pessoal, como, antes de ter contato com os alimentos, lavar bem as mãos e embaixo das unhas, e logo após sair do banheiro, para não se contaminar nem contaminar os outros”, frisa a infectologista que atua no Hospital João de Barros Barreto da Universidade Federal do Pará/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.

Mais uma situação de calamidade envolve os lixos, que levam doenças às pessoas por meio de vetores, como insetos (moscas, mosquitos e outros) e roedores, como os ratos. “Uma das doenças mais relacionadas com a mordida e urina do rato em contato com a pessoa ocasiona a leptospirose, que pode ser leve ou grave, com febre, dor na cabeça e no corpo, evoluindo para a icterícia (pele amarela) até à insuficiência renal (parada dos rins). Alguns sintomas são febre, dores no corpo, na cabeça e na panturrilha”.

Já os mosquitos podem transmitir a malária, leishmaniose, febre amarela, dengue, chikungunya, zika. As moscas, pela saliva, patas e fezes podem transmitir febre tifoide, amebíase, salmonela. “Se a mosca entrar em contato com fezes contaminadas e posar na comida, pode levar estas doenças”.

Em caso de malária alguns sinais são febre persistente, com momentos que a febre vai e vem. Na leishmaniose a pessoa também sente febre e, em estado mais grave, pode ter aumento do volume abdominal devido aumento do fígado e do baço, fraqueza, falta de apetite. Na dengue há febre, dores na cabeça e nos olhos.

Para ajudar a evitar a proliferação desses vetores, a especialista enfatiza, mais uma vez, que a população pode colaborar. “Precisa depositar o lixo no local e dias corretos, não jogar lixos no chão. Então, nós também podemos cobrar, ajudar e incentivar as pessoas a cuidar mais do lixo para não serem elas mesmas prejudicadas. Assim, o cuidado é do poder público e dos cidadãos”, afirma Luciene Nogueira.

Por fim, a infectologista orienta que, na presença de qualquer sinal ou sintoma suspeito de alguma dessas doenças ocasionadas pela falta de saneamento, a pessoa deve buscar imediatamente o serviço de saúde para detectar e tratar as doenças.

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