Aumento do aquecimento global é risco para vida no planeta, diz ambientalista
Amazônia tem papel estrutural para conter processo, mas conservação depende de todos

Quem verifica populações no mundo sofrendo com o calor extremo, furacões, inundações e outras situações adversas relacionadas a mudanças climáticas no Planeta Terra, é bom saber que esse cenário pode piorar muito nos próximos anos. De acordo com o 6 Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também conhecido abreviadamente como 6º Relatório do IPCC (a partir da sigla do Painel em inglês, IPCC), o mundo provavelmente atingirá ou excederá 1,5 °C de aquecimento nas próximas duas décadas – mais cedo do que em avaliações anteriores.
"Os eventos climáticos catastróficos que vemos na TV, provavelmente irão acontecer com você em um futuro próximo. Cuide!". O alerta é do professor Hyago Souza, engenheiro ambiental e doutorando na Escola de Engenharia da UFMG.
O Sexto IPCC é a mais recente atualização das atividades do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e resulta da cooperação entre a Organização Meteorológica Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O IPCC, segundo o professor Hyago Souza, apresenta cinco possíveis cenários ou prognósticos para o futuro. Dentre eles, o cenário SSP 1 – 1,9 demonstra a visão mais otimista frente às mudanças climáticas, com baixas emissão de gases de efeito estufa GEE, incluindo o CO2. O conteúdo do IPCC está sendo considerado bem direto pelos pesquisadores ao redor do mundo, todavia há maior certeza sobre a contribuição humana ao aquecimento global, refletindo a evolução dos modelos climáticos e uma ampla abordagem histórica de dados. "Na perspectiva do melhor cenário, com 1,5 °C de aquecimento nas próximas duas décadas, temos a previsão de significativos extremos climáticos muito mais intensos e frequentes", pontua.
Hyago ressalta que o relatório possui 3.500 páginas, representa anos de pesquisa sobre o tema, foi escrito por mais de 200 cientistas de mais de 60 países e cita mais de 14.000 estudos.
Em risco
O significado do aquecimento global para a vida na Terra, como destaca o professor, pode ser comprendido em: "ondas de calor extremas, como recorrentes em países de clima temperado, citando-se o caso recorrente no noroeste do Pacífico e no Canadá no início deste verão boreal; secas prolongadas como tem sido lamentavelmente sentidas em algumas regiões do Brasil, desfavorecendo principalmente o abastecimento de água potável, a agricultura e a geração de energia hidroelétrica, deixando a “conta de luz” cada vez mais cara".
"Inundações, a partir da intensificação e alteração do ciclo hidrológico - além do Brasil sofrer severamente com esta mudança, outras regiões do mundo como a Europa Ocidental e a China estão demonstrando sua vulnerabilidade a este extremo climático neste momento; furacões no Caribe e tufões no sudeste asiático têm sido registrados cada vez mais frequentes e intensos - como observado no Caribe, após o terremoto no Haiti que sugere a fragilidade socioambiental destes países da américa latina. E o mais conhecido, o aumento do nível do mar, que afeta diretamente todas as regiões costeiras do mundo, e seus ecossistemas considerados significativos berçários da fauna marinha, como os manguezais".
Amazônia
Como explica o professor, o bioma Amazônia apresenta capacidade alta e comprovada de sequestrar gás carbônico da atmosfera, compondo sua biomassa vegetal, bem como transferindo-o para o solo. Pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Pará, Universidade Federal rural da Amazônia, Embrapa Amazonia Oriental e Museu Paraense Emilio Goeldi têm estudado ineditamente os manguezais da Amazônia e sugerem que este ecossistema possui significativa capacidade de reter CO2 na vegetação e no sedimento.
Estudos do professor da Embrapa Amazonia Oriental, Alessandro Carioca de Araújo, demonstram os diferentes usos do solo e seus efeitos/interação ao clima da Amazônia, sugerindo uma forte relação entre as atividades humanas com as mudanças climáticas. "Portanto, o uso sustentável dos recursos naturais na região amazônica é indispensável e fundamental".
No entanto, "as queimadas são, sem dúvida, o maior desafio de combate à fiscalização ambiental bem como à educação ambiental", salienta Hyago. "Os incêndios florestais criminosos emitem para a atmosfera toneladas de CO2 que irão contribuir ao efeito estufa e consequentemente as mudanças climáticas", acrescenta.
PEAA
O Estado do Pará, recentemente instituiu (agosto de 2020), o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA), lembra o professor. "Esta política pública é considerada como a principal plataforma de ação para estabelecer um modelo de desenvolvimento social e econômico baseado na valorização de ativos ambientais, no Pará. O Plano mira a integridade da floresta e, ao mesmo tempo, aumento da eficiência das cadeias produtivas e na melhoria das condições socioambientais no campo. Ademais, o PEAA objetiva levar o Pará à neutralidade climática ate 2036", frisa.
Para isso, como afirma Hyago Souza, o PEAA atua na fiscalização e licenciamento ambiental; ordenamento territorial (Programa Regulariza Pará); desenvolvimento socioeconômico de baixas emissões de GEE (Programa Territórios Sustentáveis); financiamento ambiental de longo alcance (Fundo da Amazônia Oriental). Para Hyago Souza, a sociedade e os governantes públicos precisam se sensibilizar, se engajar e partir para tomadas de decisão que possam de forma efetiva promover mudanças.
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