Ato paralisa atividades na UFPA e chama a atenção para cortes no orçamento
Uma carreata percorre ruas de Belém nesta quarta (19). Comunidade acadêmica critica redução de R$ 30,3 milhões
Servidores (professores e técnicos) e estudantes da Universidade Federal do Pará (UFPA) promoveram uma carreata, nesta segunda-feira (19), alusiva ao Dia Nacional de Luta "A educação precisa resistir". A pauta da manifestação era, principalmente, questionar o mais novo corte de orçamento das universidades públicas brasileiras, anunciado pelo Governo Federal na semana passada. E também mobilizar contra o projeto de lei 5.595/20, que obriga a retomada de aulas presenciais. Os manifestantes aproveitaram para exigir vacinas contra a covid-19 para toda a população e com urgência.
“Não temos onde reduzir despesas para cobrir essa perda. Além disso, perdemos seis milhões de recursos da assistência estudantil, em um momento em que a pobreza e a pressão pela evasão aumentam. Ou seja, mesmo que nenhuma atividade específica paralise totalmente, tudo que entregamos à sociedade será prejudicado. E como a universidade tem impacto em todos os setores da sociedade, cedo ou tarde todos sentirão os efeitos dessas decisões sobre os nossos orçamentos”, diz nota divulgada pela UFPA.
A mobilização foi nacional. Em Belém, foi coordenada pela Associação dos Docentes da UFPA (Adufpa) e teve apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE). No recente corte, a maior universidade do norte deixou de receber R$ 30,3 milhões. Em comparação com o orçamento de 2020, significa uma redução de 18,5%. A falta dessa verba impacta todo o funcionamento da instituição: ensino, pesquisa, extensão, projetos e atendimentos sociais e apoio tecnológico a entes diversos, além da manutenção geral. O total nacional de cortes chega a R$ 1 bilhão.
"Não se trata de algo novo. As universidades vêm sofrendo cortes desde 2014. Orçamentos sendo reduzidos ano a ano. Esse corte mais recente compromete todo o cotidiano da universidade e mais que isso: serviços, como hospitais universitários, que fazem anualmente quase 5 mil cirurgias gratuitas. Os projetos de extensão chegam a 100 mil pessoas. Há 1,3 mil projetos de pesquisa e alguns deles na área da covid-19. A população acadêmica é de quase 61 mil pessoas, sendo 55 mil alunos espalhados em mais da metade dos 144 municípios paraenses, o que exige estrutura forte", observa Gilberto Marques, diretor-geral da Adufpa.
Este, diz Gilberto, foi o primeiro de uma série de atos públicos. O próximo está previsto para o dia 29 deste mês, que deve seguir com as mesmas pautas, além de condições de trabalho, recursos e valorização da educação pública e de pesquisadores e cientistas brasileiros. Em palavras dele, a ciência e as instituições de ensino e pesquisadas estão asfixiadas pelos cortes em várias fontes de recursos.
Ana Cláudia Neri é quilombola, acadêmica de Direito e faz parte do DCE-UFPA. Ela ressalta que parece ser necessário lembrar, a todo tempo, que as universidades não são apenas salas de aula. São locais prestadores de serviços públicos, formação de profissionais e de sustento de comunidades inteiras. "Esses cortes afetam, mais diretamente, a nós, estudantes de baixa renda. Eu, enquanto estudante quilombola, necessito de bolsa para permanecer e essas bolsas estão sendo cortadas. Este ato é importante para dialogar com a sociedade e mostrar a gravidade dessas medidas genocidas", disse.
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