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500 professores paraenses se unem para produção de conteúdo sobre fascismo e racismo

Grupo se formou nos últimos eventos envolvendo esses conceitos, buscando uma forma de se posicionar e trazer informação à população

Victor Furtado e João Paulo Jussara
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"Defender a liberdade passou a ser um compromisso". A frase é do geógrafo Aiala Colares, professor doutor da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e coordenador do Movimento Professoras e Professores Antifascistas do Brasil Regional Norte Pará. O grupo já conta com 500 professores paraenses de diferentes posicionamentos políticos e se formou frente à onda de protestos antidemocráticos, questões de violência, racismo, aproximação de simbologias fascistas e nazistas e outros temas. Vários conteúdos serão produzidos, com diversos pontos de vista, e publicados nas plataformas de redes sociais digitais.

Para o primeiro momento, os Professores Antifascistas farão conteúdos apenas digitais, com palestras em formato de transmissão ao vivo — que a população já entende bem como "live". O principal objetivo é explicar, de forma ampla e acessível, alguns temas que se tornaram constantes nas últimas semanas, como fascismo, nazismo, democracia, ideologias, desinformação, fake news e posicionamentos políticos, por exemplo. E ainda: racismo, violência policial, violência contra a mulher, direitos humanos. E como ainda é tema, a pandemia de covid-19.

"Somos um grupo de professores das mais variadas modalidades de ensino e temos o compromisso moral e ético de defender a liberdade e a democracia. Por isso, reunimos educadores muito diversos em termos de bandeira partidária. Porém, o nosso ponto de convergência é a defesa da liberdade política. Nos identificamos como um grupo suprapartidário", explica Colares.

"Além disso, estamos em defesa da educação, que vem sendo atacada constantemente pelo governo federal com corte de investimentos, perseguição aos professores, principalmente da área de ciências humanas, e fechamento de escolas do campo. Nossa luta é bem ampla, ela se opõe a todas as formas de opressão possíveis contra a população e contra a educação como um todo. Sabemos que uma sociedade muda com a educação e por isso ela se torna alvo de ataques", completa.

O professor define o movimento antifascista como um grupo de pessoas que se posicionam contrariamente a construções sociais que alimentam ideais racistas, xenófobos, misóginos, LGBTfóbicos e antidemocráticos. "No Brasil, simpatizantes dessa ideologia ganharam forças nos últimos dois anos, com discursos de desprezo às populações indígenas, quilombolas, negros, homossexuais e outros grupos minoritários", defende.

Aiala explica que dentro do Estado do Pará já havia militantes que se colocavam contra o fascismo, mas ainda não existia um grupo organizado como movimento. "O movimento surgiu no final de semana passado. Nós tivemos a ideia de reunir um grupo de professores e fazer a articulação de organizar um movimento antifascista. É óbvio que tivemos inspiração dos movimentos que aconteceram em São Paulo, então aquilo acabou servindo de modelo para que pudéssemos, também, a partir de um grupo de professores, organizar o movimento de Belém", afirma o professor.

Racismo

A questão racial é um dos pontos centrais no contexto dos novos movimentos antifascistas que se espalharam pelo mundo, especialmente após o assassinato de George Floyd, homem negro que morreu sufocado por um policial branco nos Estados Unidos no último dia 25 de maio. Este caso foi o estopim para manifestações que ultrapassaram as barreiras do território norte-americano e chegaram até o Brasil.

O historiador e pesquisador Rafael Ferreira, que também faz parte do grupo de professores antifascistas do Pará, explica que trazer o tema para o debate é importante, já que a sociedade brasileira "convive cotidianamente com racismo, preconceito, exclusão, discriminação e, consequentemente, com o genocídio dos afrobrasileiros. E a sociedade brasileira trata, a grosso modo, com indiferença esses assassinatos".

Rafael relembra o caso do menino João Pedro, que foi morto pela Polícia Militar com um tiro pelas costas dentro da própria casa no último dia 18 de maio, no Rio de Janeiro, e defende que é necessário que a sociedade tenha um olhar crítico, mas principalmente, com expectativa de mudança, para que este sentimento de indignação não fique apenas no campo virtual. “Isso precisa se transformar em prática, em um valor que a sociedade brasileira não só compartilhe nos meios virtuais, mas também no meio social. Devemos sair desse processo de manifestações, que são completamente justas, com a certeza de que a indignação pelo racismo precisa ser permanente, e não somente quando um negro é assassinado”, destaca o historiador.

Movimento negro no Pará

Diferente do movimento antifascista, que se organizou no Estado mais recentemente, o movimento negro já faz parte da história do Pará há muitos anos. Rafael ressalta que o povo negro, no contexto amazônico, lutou e resistiu dentro do processo de escravidão. “A resistência sempre existiu no universo da escravidão do negro, em especial aqui na Amazônia”, pontua.

Mas foi no contexto da ditadura militar (1964-1985), principalmente no final da década de 1970, que o movimento negro ganhou uma estrutura mais sólida, com a organização do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa). “O Cedenpa deu a cara, foi às ruas, lutou por direito e igualdade racial e, sem sombra de dúvidas - isso não acontece só no Pará, mas no Brasil inteiro - trouxe uma consequência, que foi o estatuto da igualdade racial mais recentemente, e um pouco mais atrás, a própria constituição de 1988, que estabelece a igualdade racial. Essas conquistas foram conquistas do movimento negro”, explica o pesquisador.

Além do Cedenpa, o historiador destaca que outros agentes importantes atuaram no fortalecimento do movimento negro no Pará, como movimentos de religiões afrobrasileiras, o movimento hip-hop no final da década de 1980, além de organizações de comunidades de bairros periféricos que também se estruturam e têm em pauta a luta antirracista.

O historiador também faz questão de destacar a importância da professora Zélia Amador para o movimento negro no Pará, que “tem uma importância central, fundamental, no processo de organização da luta negra”. “Mas é importante destacar: a resistência negra sempre existiu, desde quando foi introduzida a escravidão. Escravidão e resistência são duas partes da mesma moeda, então a gente precisa compreender esse processo dessa forma”, conclui.

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