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Venezuela quis vir ao Brics e driblar calote de US$ 1,7 bi com Brasil antes de parar negociação

Regime de Maduro tenta retomar espaço no bloco internacional, mesmo após veto brasileiro e crise diplomática provocada por eleições contestadas

Estadão Conteúdo
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Antes de suspender as negociações sobre a dívida bilionária com o Brasil, o governo da Venezuela sugeriu que os débitos — que somam mais de US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 9,8 bilhões, na cotação atual) — fossem pagos com os “lucros” obtidos por novos investimentos brasileiros no país.

Paralelamente, o regime de Nicolás Maduro voltou a manifestar interesse em participar das atividades do Brics, grupo do qual tentou fazer parte no ano passado, mas foi barrado por objeção política do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A quatro dias da Cúpula de Líderes do Brics, que será realizada no Rio de Janeiro, Maduro ficou de fora da lista de convidados especiais do governo brasileiro. O evento é o principal da agenda do bloco neste ano, que está sob presidência brasileira até dezembro, quando o Brasil transferirá o comando para a Índia.

O desejo da Venezuela foi comunicado à Coordenação-Geral do Brics. No entanto, o Estadão/Broadcast apurou que o governo Lula não cogitou convidar Maduro ou representantes de sua equipe. Interlocutores afirmam que, se o fizesse, o presidente poderia passar por um constrangimento, especialmente após o episódio da eleição venezuelana de 2024, amplamente denunciada por fraudes e perseguição à oposição.

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Como país que ocupa a presidência temporária do bloco, o Brasil tem a prerrogativa de sugerir pautas e convidar nações aliadas da região ou do Sul Global para as reuniões chamadas de Brics+ e Brics Outreach. Para o encontro deste ano, foram convidados México, Uruguai, Colômbia, Chile, Angola e Turquia, além de dois outros países não revelados pelo Itamaraty.

Um telegrama diplomático obtido pelo Estadão revela que a Venezuela vinha mantendo contatos e insistia em participar das atividades do Brics durante a presidência brasileira. A movimentação ocorreu mesmo após o veto brasileiro à entrada do país no grupo. A justificativa foi de que apenas nações com relações amistosas com todos os membros do bloco poderiam ser admitidas.

Na cúpula anterior, realizada em Kazan, na Rússia, o governo venezuelano tinha tanta convicção de que seria aceito como “parceiro do Brics” — categoria de associação criada naquele momento — que Maduro viajou de surpresa ao país. No entanto, saiu frustrado, acusando o governo Lula e o Itamaraty de tê-lo “apunhalado pelas costas”. O episódio agravou as tensões entre os antigos aliados de esquerda.

O veto brasileiro foi motivado pelo não reconhecimento da reeleição de Maduro, marcada por denúncias de fraude e repressão a opositores. Lula, que havia investido capital político para tentar reabilitar o governo venezuelano e negociar eleições transparentes, acabou ignorado. Passou meses cobrando da Venezuela a divulgação de documentos que comprovassem a suposta vitória de Maduro, sem sucesso.

Desde então, o presidente brasileiro deixou de atender telefonemas do venezuelano e determinou o esfriamento das relações diplomáticas. Por sua vez, o regime chavista passou a acusá-lo de ingerência externa e até de agir como "agente imperialista dos Estados Unidos", entre outras críticas públicas.

Apesar das divergências, Caracas voltou a buscar aproximação após o governo brasileiro retomar discretamente os laços bilaterais, sinalizando que não pretendia romper relações diplomáticas. Em 5 de março, a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, relatou ao Itamaraty um encontro com a ministra venezuelana do Comércio Exterior, Coromoto Godoy, realizado em 28 de fevereiro.

Durante a reunião, a diplomata brasileira afirmou que uma das principais barreiras ao avanço do comércio bilateral era a dívida pendente da Venezuela, relacionada a operações de financiamento às exportações de bens e serviços por empresas brasileiras.

Segundo Glivânia, a ministra respondeu de forma vaga, mas reiterou o interesse em estreitar os laços com o Brics. Ela sugeriu que o governo brasileiro considerasse convidar algum representante venezuelano para futuras atividades do grupo.

"Minha interlocutora disse estar ciente da questão da dívida e manifestou, em tom vago, a expectativa de que esse entrave possa ser equacionado entre os dois países. Adicionou que o distanciamento não gerou benefícios para nenhum país e que um dos caminhos para a retomada do desenvolvimento da Venezuela seria a aproximação com o Brics. Nesse contexto, fez um apelo a que o Brasil considerasse convidar representante venezuelano para participar de eventuais atividades que possam contribuir para estreitar laços com o grupamento", reportou a embaixadora.

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