Venezuelanos tentam se integrar ao mercado de trabalho no Pará; conheça a realidade
Embora representem uma pequena parcela do mercado de trabalho formal no estado, imigrantes da Venezuela enfrentam desafios de inserção econômica, com foco em setores como serviços, construção civil e agricultura

Em 2024, os trabalhadores venezuelanos no Pará somam apenas 566, ou 0,06% do total de empregos formais no estado, conforme levantamento exclusivo do Dieese/PA. Apesar do número reduzido, muitos imigrantes têm encontrado oportunidades no setor informal, enfrentando obstáculos como barreiras linguísticas, falta de qualificação e desafios emocionais.
A situação dos imigrantes venezuelanos no mercado de trabalho do estado é marcada por uma forte inserção em empregos de baixo nível de qualificação e salários baixos, mas também por histórias de superação, como o caso de mulheres que, com a ajuda de abrigos e apoio institucional, conquistaram autonomia financeira e agora sustentam suas famílias com o trabalho formal.
Os número no mercado formal de trabalho
Com uma população de 969.975 trabalhadores formais no Pará em 2024, os venezuelanos ainda representam um número muito reduzido no universo do emprego formal, conforme aponta o levantamento exclusivo do Everson Costa, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), em parceria com o Observatório do Trabalho do governo do Estado e a Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster).
Entre os cerca de 970 mil trabalhadores formais, apenas 566 são imigrantes vindos da Venezuela, refletindo uma inserção modesta no mercado de trabalho local - representando uma ínfima porcentagem de 0,06% do total de empregos formais.
Principais áreas de atuação
Entre as ocupações mais comuns para os trabalhadores venezuelanos no Pará estão os setores de serviços e indústria. O levantamento, que também tem dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho, aponta que, em 2024, a maioria dos imigrantes ocuparam funções como alimentadores de linhas de produção (98 trabalhadores) e trabalhadores de manutenção de edificações (63 trabalhadores).
Outras funções incluem vendedores, escriturários administrativos, montadores de equipamentos eletrônicos e até mecânicos de manutenção. A diversidade nas ocupações demonstra que, embora a quantidade de imigrantes no mercado de trabalho seja limitada, a presença deles é visível em várias frentes, como no setor de serviços e na indústria de transformação.
Escolaridade e gênero dos imigrantes no trabalho
A maior parte da força de trabalho venezuelana no estado possui ensino médio completo (42,9%), mas também há um contingente significativo de trabalhadores com ensino fundamental completo (19,6%) e até mesmo analfabetos (2,5%).
Outro aspecto relevante desse cenário é a desigualdade de gênero e faixa etária entre os trabalhadores venezuelanos. A maioria dos imigrantes é do sexo masculino (76,5%).
A faixa etária mais representativa entre os venezuelanos é a faixa dos 30 a 39 anos, que reúne cerca de 29,7% da força de trabalho imigrante.
Imigrantes Warao no Pará: superando desafios e buscando autonomia econômica
Nos últimos anos, Belém tem sido um destino para milhares de imigrantes venezuelanos, muitos deles vindos de regiões devastadas pela crise humanitária. Entre eles, estão os indígenas da etnia Warao, que, após atravessar várias dificuldades, tentam reconstruir as vidas no Brasil. No bairro do Tapanã, o Espaço de Acolhimento Institucional tem sido um ponto de apoio fundamental para essas famílias, oferecendo abrigo, assistência e orientação para a integração à vida econômica local.
O Grupo Liberal conversou com algumas mulheres Warao que, apesar das dificuldades, conseguiram se inserir no mercado de trabalho formal, especialmente em empresas de limpeza de resíduos sólidos, um dos setores que mais emprega imigrantes no estado.
A luta pela sobrevivência: o que fez Andreína deixar a Venezuela?
Andreína Cedeño, de 21 anos, vive em Belém há dois anos e, como muitos outros, foi forçada a deixar a Venezuela devido à escassez de recursos básicos, como comida e trabalho. "A comida está muito cara e a necessidade nos levou a sair", explica. Com dois filhos, Andreína encontrou no Brasil a esperança de um futuro melhor.
"Não tinha emprego, não tinha nada", lembra a jovem. Quando chegou, levou dois meses até conseguir um trabalho em uma empresa de limpeza de resíduos sólidos. "Eu consegui o emprego com a ajuda das pessoas do abrigo. Hoje, trabalho com varrição e recebo um salário mínimo", conta.
Para Andreína, o emprego não só representa uma fonte de renda, mas também estabilidade financeira, permitindo-lhe criar e sustentar seus filhos.
"Com essa renda, consigo viver e manter meus filhos. Estou em uma posição melhor do que estava antes”, declarou.
Mariangela Bolívar: a jovem que se tornou chefe da família
Mariangela Bolívar, de 19 anos, tem uma história semelhante, mas com uma responsabilidade extra: ela é a responsável por seus três irmãos. "Eu saí da Venezuela porque a situação estava muito difícil. A comida e a medicação eram escassas. A situação lá continua complicada", relata.
Mariangela chegou a Belém há quatro anos e, desde então, tem enfrentado a difícil tarefa de sustentar a si mesma e aos irmãos.
"Agora, sou eu que cuido de tudo o que eles precisam. Compro material escolar para a minha irmã e ajudo no que for necessário", afirma.
Ela também trabalha em uma empresa de limpeza de resíduos sólidos, na função de varrição, e recebe um salário mínimo, além de benefícios. O trabalho foi conquistado com a ajuda das pessoas no abrigo, que a orientaram durante o processo.
"Eu já tinha experiência como jovem aprendiz na área administrativa, o que me ajudou a entrar no mercado de trabalho", explica Mariangela, que se sente grata pela oportunidade de emprego e pelas possibilidades que isso oferece para ela e sua família.
Marimar Cedeño: o orgulho de conquistar o próprio sustento
Marimar Cedeño, de 30 anos, vive em Belém há dois anos e, como muitas outras mulheres venezuelanas, passou a ser a principal provedora da família após a partida da Venezuela.
"Eu vim para cá porque minha mãe já estava no Brasil. A situação lá estava muito difícil, e eu precisava garantir um futuro melhor para meus filhos", diz.
Com seis filhos, Marimar enfrentou grandes dificuldades para se estabelecer, mas, com a ajuda do abrigo, conseguiu um emprego em uma empresa de limpeza de resíduos sólidos, após cinco meses de chegada.
"Hoje, estou trabalhando há um ano. Me sinto muito orgulhosa do trabalho que consegui. Estou muito feliz com a oportunidade que me deram no Brasil", comenta emocionada.
A renda dela, de um salário mínimo, é utilizada para sustentar a família e planejar o futuro. "Quero comprar um terreno e construir minha casa para ficar com meus filhos", afirma, mostrando que, apesar dos desafios, seu sonho de estabilidade e autonomia está cada vez mais próximo.
A dificuldade de se integrar ao mercado de trabalho: um obstáculo comum
Embora todas as três mulheres tenham conquistado empregos formais, elas reconhecem que a trajetória até esse ponto não foi fácil. O processo de integração no mercado de trabalho foi demorado e marcado por obstáculos, como a barreira linguística, a escassez de experiência profissional no Brasil e a adaptação ao novo contexto.
"A ajuda das pessoas aqui no abrigo foi essencial para conseguir o meu emprego", afirma Andreína. Mariangela também destaca o papel do abrigo em sua trajetória: "Eu já tinha um pouco de experiência, mas sem o apoio aqui, eu não teria conseguido entrar nesse emprego."
Para Marimar, o apoio emocional e institucional foi crucial para superar a insegurança e as dificuldades financeiras. "Sem o abrigo, eu não teria conseguido me adaptar tão rapidamente. O emprego foi uma grande conquista, mas o que realmente fez a diferença foi a ajuda que recebi de todos."
O futuro: construindo uma vida no Brasil
Apesar das dificuldades enfrentadas, essas mulheres mostram um espírito de resiliência e determinação. Ao conquistar sua autonomia financeira, elas não apenas garantem o sustento de suas famílias, mas também se tornam agentes de transformação em suas próprias comunidades.
"Hoje, tenho mais confiança no futuro. Quero que meus filhos tenham uma vida melhor do que eu tive na Venezuela", diz Andreína.
Mariangela, por sua vez, compartilha o mesmo sentimento: "Eu só quero que meus irmãos tenham uma oportunidade que eu não tive."
Marimar, que sonha em construir sua casa, simboliza o desejo de muitas outras imigrantes venezuelanas que, ao enfrentar adversidades, encontram no trabalho e na solidariedade a chave para sua integração e sucesso no Brasil.
O perfil dos migrantes Warao em Belém
A Fundação João Paulo 23 (Funpapa), por meio do Espaço de Acolhimento Institucional para os Migrantes Indígenas Warao, tem sido um ponto de apoio fundamental para a população em situação de vulnerabilidade. Amarildo Cruz, coordenador do espaço e servidor público da Funpapa há 33 anos, compartilha detalhes sobre como esses migrantes estão se adaptando e buscando autonomia econômica no estado do Pará.
Atualmente, o espaço de acolhimento abriga 100 pessoas, entre adultos e crianças, e já recebeu cerca de 800 migrantes indígenas da etnia Warao desde sua implantação. Segundo Amarildo Cruz, os migrantes chegam ao abrigo após uma jornada árdua, vindos de várias cidades brasileiras até chegarem a Belém.
"Os migrantes Warao têm uma origem rural, a maioria vinha da zona rural da Venezuela, sobrevivendo basicamente da agricultura e pesca. Essa transição para um ambiente urbano, onde a maioria tem um nível de escolaridade baixo, torna o processo de adaptação muito difícil", explica Cruz.
A maioria dessas famílias veio para o Brasil fugindo de uma crise humanitária em seu país natal, e hoje, além das questões emocionais, enfrentam a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho formal devido à falta de qualificação.
O desafio do acolhimento e da autonomia
O tempo ideal de permanência no abrigo é de seis meses, mas isso varia de acordo com a situação de cada família. Amarildo destaca que o objetivo do espaço de acolhimento é garantir que os migrantes adquiram a autonomia necessária para viver de forma independente, com o devido acompanhamento institucional.
"Apesar de todos os esforços de assistência social e inclusão, a grande maioria ainda precisa de apoio para garantir uma transição segura para a vida fora do abrigo. No entanto, estamos trabalhando para que as pessoas possam seguir suas vidas com dignidade e autonomia", afirma o coordenador.
O apoio institucional no espaço inclui serviços como regularização de documentos, acesso ao sistema de saúde, e inclusão em programas sociais. Contudo, Cruz alerta que a verdadeira inclusão econômica depende de uma articulação mais eficaz entre as políticas públicas locais e as necessidades específicas dos imigrantes.
Trabalho informal e formal: as oportunidades de inserção no mercado
A inserção dos imigrantes venezuelanos no mercado de trabalho tem sido, em grande parte, em funções de baixo nível de qualificação, como varrição de ruas, um serviço que eles desempenham na empresa de resíduos sólidos de Belém. Outros migrantes, especialmente homens, têm trabalhado em outros municípios, como Ulianópolis e Marianópolis, no Tocantins, em atividades relacionadas ao setor de energia e agricultura.
"A grande maioria executa serviços de nível elementar, mas já temos alguns que se destacam em atividades mais especializadas, como em usinas de açúcar e biodiesel", diz Cruz.
A dificuldade de comunicação devido à barreira linguística é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos migrantes na busca por empregos formais. A maioria dos Warao fala seu dialeto nativo, além do espanhol, o que dificulta ainda mais sua integração ao mercado de trabalho.
"A língua é um empecilho grande. Muitos chegam com o Warao como língua principal e o espanhol como língua oficial mais próxima. Isso dificulta o acesso a empregos que exigem fluência no português", lamenta Amarildo Cruz.
Desafios para os jovens: educação e qualificação profissional
As crianças e adolescentes têm um papel central na estratégia de integração. Desde o início, a inclusão na rede oficial de ensino é uma prioridade. Contudo, Cruz alerta que a baixa escolaridade dificulta o ingresso de jovens venezuelanos em cursos de qualificação profissional e, consequentemente, em empregos formais.
"Temos dificuldades em incluir os jovens no mercado de trabalho formal, pois muitos acabam buscando vagas em cursos que não estão alinhados com o que o mercado de trabalho exige. Por isso, procuramos parcerias com instituições como a Fundação Bradesco para oferecer cursos de qualificação profissional", diz o coordenador.
Empreendedorismo como caminho para a autonomia econômica
Apesar das dificuldades, o Espaço de Acolhimento Institucional também tem buscado alternativas para fomentar a autonomia econômica dos migrantes por meio do empreendedorismo. Uma das iniciativas mais bem-sucedidas tem sido o incentivo à produção artesanal. Muitos imigrantes Warao possuem habilidades naturais para confeccionar pulseiras, colares e brincos, e o abrigo tem promovido a venda desses produtos em feiras e mercados locais.
"Temos dois migrantes Warao que já fazem parte da Cooperativa de Trabalhadores da Praça da República. Eles vão aos domingos vender seus artesanatos, e isso foi possível graças a uma educadora da associação que percebeu a qualidade do trabalho deles e garantiu um espaço para que pudessem vender seus produtos", explica Cruz.
Além disso, o abrigo continua buscando parcerias para oferecer mais cursos e aperfeiçoamento, garantindo que os migrantes possam competir de igual para igual no mercado de trabalho local.
A falta de apoio público: uma crítica ao poder público local
Apesar dos esforços da Funpapa e outras entidades, Amarildo Cruz critica a falta de apoio concreto por parte do poder público, especialmente no que se refere à inserção econômica dos imigrantes venezuelanos. Ele defende uma abordagem mais estruturada por parte da Prefeitura e do Governo do Estado para absorver as potencialidades dos migrantes e incluí-los nos processos econômicos locais.
"Belém tem um número grande de migrantes, não só os indígenas Warao, mas também haitianos, colombianos e cubanos. A cidade precisa de uma decisão política para absorver essas pessoas de forma mais eficaz, aproveitando as habilidades de cada um. A falta de uma política de inclusão mais ampla é um grande desafio", afirma Cruz.
Os desafios emocionais na busca por trabalho e autonomia financeira, segunda uma psicóloga
A psicóloga Ariane Vulcão, que acompanha de perto o processo de adaptação dos imigrantes, observa um impacto emocional significativo ao chegarem ao abrigo, especialmente relacionado à busca por trabalho e autonomia financeira.
Segundo ela, que também trabalha no Espaço de Acolhimento Institucional para os migrantes indígenas da etnia Warao desde janeiro de 2022, muitos migrantes venezuelanos chegam com uma experiência predominantemente rural, onde estavam acostumados ao trabalho no campo. Quando chegam ao Pará, enfrentam a difícil transição para o mercado de trabalho urbano e formal.
“A questão do impacto emocional é uma das muitas rejeições que eles passaram nesse período de migração até aqui da adaptação. Muitos eram trabalhadores rurais na Venezuela e, ao chegarem, enfrentam a dificuldade de inserir-se no trabalho formal, mesmo sendo em funções básicas. Eles não chegam com o conhecimento necessário, por isso buscamos parcerias com entidades para facilitar essa transição”, explica a psicóloga.
As barreiras culturais e linguísticas no mercado de trabalho
Segundo a psicóloga, a adaptação cultural e a dificuldade com o idioma são dois aspectos que afetam diretamente a autoestima e a confiança dos migrantes, principalmente no que diz respeito à inserção no mercado de trabalho.
A falta de fluência no português e as diferenças culturais são barreiras que geram um sentimento de insegurança, somado à xenofobia, que ainda é uma realidade para muitos.
“Eles ainda sofrem muita xenofobia, e relatam isso com frequência. São vistos como vulneráveis e, muitas vezes, como se não tivessem direitos no Brasil. Isso afeta a autoestima deles, até mesmo os que já estão inseridos no mercado de trabalho. A dificuldade de comunicação é constante, o que faz com que eles não se sintam completamente validados”, relata Vulcão.
A psicóloga destaca que, apesar das dificuldades, seu trabalho é voltado para mediar essas questões e estimular a autonomia dos imigrantes, para que possam ter voz própria na sociedade e não dependam apenas do apoio externo.
“Nós trabalhamos para que eles se sintam pertencentes ao novo ambiente. É importante que se vejam como parte dessa nova comunidade”, afirma.
Mulheres venezuelanas: empoderamento e inserção no mercado de trabalho
A inserção no mercado de trabalho tem sido especialmente significativa para as mulheres venezuelanas, que estão encontrando uma nova forma de se empoderar e reconfigurar seus papéis dentro da família e da sociedade. Para Ariane, as mulheres têm demonstrado uma força e resiliência surpreendentes.
“Eu percebo que as mulheres estão mais empoderadas. Elas começaram a se inserir no mercado de trabalho de forma mais ativa e resiliente. Passaram de um papel de chefes do lar para se tornarem chefes de família, o que tem feito com que se sintam mais confiantes e prontas para conquistar seus objetivos”, aponta.
Além disso, muitas delas estão investindo em cursos e qualificações, buscando aumentar suas oportunidades de trabalho. “Elas estão florescendo. As mulheres que acompanho passaram de um momento de introspecção e medo para um momento de protagonismo, onde tomam a frente e buscam se qualificar e aprender”, ressalta a psicóloga.
O impacto das histórias de sucesso no estado emocional dos imigrantes
Casos de inserção econômica bem-sucedida têm funcionado como fonte de inspiração para outros imigrantes. No abrigo, a superação de dificuldades por parte de um colega muitas vezes gera um efeito motivacional positivo em outros. Isso contribui para a criação de uma rede de apoio entre os migrantes e fortalece o sentimento de pertencimento e esperança.
“Quando um migrante observa outro que conseguiu se adaptar, que venceu as dificuldades, isso traz uma motivação extra. Eles começam a acreditar que também podem conseguir. Mesmo aqueles que ainda não têm casa própria, como é o caso dos que estão no abrigo, se sentem mais confiantes ao ver que é possível conquistar bens materiais e se estabelecer”, afirma Vulcão.
De acordo com a psicóloga, esse processo de troca de experiências e apoio mútuo reflete diretamente na autoestima e no desenvolvimento emocional dos migrantes, contribuindo para que se sintam parte integrante da nova comunidade.
O acolhimento e as políticas públicas, segundo a visão econômica
O prof. pós-Dr. André Cutrim Carvalho, economista socioambientalista e professor-pesquisador da UFPA, destaca que o processo de integração dos venezuelanos no Pará se dá por meio de uma série de políticas públicas e iniciativas coordenadas tanto pelo Governo Federal quanto por organizações internacionais.
“A regularização documental, promovida por ações como a Operação Acolhida, tem sido fundamental para garantir que os imigrantes acessem serviços básicos e possam trabalhar legalmente”, explica o economista.
A presença de organismos como a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) em Belém tem sido outro pilar nesse processo de inserção, ajudando a garantir a documentação de muitos imigrantes e facilitando sua inserção em serviços e empregos formais.
Mercado de trabalho: a informalidade predomina
Para o economista, apesar dessas iniciativas, a inserção dos venezuelanos no mercado de trabalho local tem ocorrido, em grande parte, nos segmentos informais da economia. “A absorção dessa força de trabalho tem se dado em atividades historicamente marcadas pela informalidade, como comércio ambulante, construção civil, serviços gerais e trabalho doméstico”, afirma Cutrim.
Segundo ele, muitos venezuelanos trabalham como diaristas, vendedores ambulantes ou em frigoríficos, onde há maior demanda por mão de obra. No entanto, esses empregos são, em sua maioria, de baixa qualificação e oferecem salários baixos, o que torna difícil a ascensão social e a estabilidade financeira desses trabalhadores.
O desafio da formalização
De acordo com André Cutrim, apesar dos esforços para promover a formalização do trabalho, a realidade é que muitos venezuelanos ainda atuam no mercado informal, onde as condições de trabalho são mais precárias. Conforme ele, dados da Operação Acolhida apontam que a formalização é limitada, com salários médios de aproximadamente R$ 1.325 mensais, abaixo da média nacional, que gira em torno de R$ 3.057, de acordo com a PNAD Contínua de 2024.
“Os postos formais têm baixa demanda de mão de obra qualificada, o que faz com que muitos imigrantes se vejam forçados a buscar trabalho na informalidade, o que implica em rendimentos instáveis e a ausência de direitos trabalhistas”, afirma o economista.
O perfil ocupacional e os setores de trabalho
Em relação à distribuição dos venezuelanos nos diversos setores, o economista observa que a maior parte está concentrada em atividades de baixo nível de qualificação. Em Belém, Ananindeua, Marabá e Santarém, a presença de migrantes é crescente em áreas como trabalho doméstico, construção civil e transporte urbano, onde há uma oferta contínua de vagas com exigências mínimas de qualificação.
“Esses setores demandam mão de obra imediata e, muitas vezes, não exigem qualificação formal, o que acaba atraindo muitos imigrantes. No entanto, as condições de trabalho nesses setores geralmente envolvem longas jornadas e baixos salários”, comenta o economista.
Levantamento
- Realizado por: Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA
- Parceria com: Observatório do Trabalho do Governo do Pará
- Convênio com: Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster)
Total de Trabalhadores no Pará (RAIS/2024 - dados parciais)
- Trabalhadores formais brasileiros: 969.975
- Trabalhadores formais venezuelanos: 566
- Participação dos venezuelanos no mercado formal: 0,06%
Principais Ocupações dos Venezuelanos no Pará (2024 - parciais RAIS)
- Alimentadores de linhas de produção – 98
- Serviços de manutenção de edificações – 63
- Almoxarifes e armazenistas – 21
- Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados – 17
- Montadores de equipamentos eletroeletrônicos – 16
- Trabalhadores auxiliares nos serviços de alimentação – 14
- Ajudantes de obras civis – 14
- Escriturários, agentes, assistentes e auxiliares administrativos – 13
- Cozinheiros – 12
- Operadores de máquinas de escritório – 10
- Contínuos – 7
- Garçons, barmen, copeiros e sommeliers – 5
- Caixas e bilheteiros (exceto banco) – 5
- Mecânicos de máquinas pesadas e equipamentos agrícolas – 3
- Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias – 1
Escolaridade dos Trabalhadores Venezuelanos (RAIS/2024 - dados parciais)
- Médio completo: 243 (42,9%)
- Fundamental completo: 111 (19,6%)
- Médio incompleto: 69 (12,2%)
- 6º ao 9º ano fundamental: 35 (6,2%)
- 5º ano completo: 29 (5,1%)
- Superior completo: 45 (8%)
- Superior incompleto: 9 (1,6%)
- Até 5º ano incompleto: 11 (1,9%)
- Analfabeto: 14 (2,5%)
- Total: 566 (100%)
Faixa Etária dos Trabalhadores Venezuelanos (RAIS/2024 - dados parciais)
- 30 a 39 anos: 168 (29,7%)
- 40 a 49 anos: 119 (21%)
- 25 a 29 anos: 115 (20,3%)
- 18 a 24 anos: 98 (17,3%)
- 50 a 64 anos: 62 (11%)
- 65 anos ou mais: 4 (0,7%)
- Total: 566 (100%)
Sexo dos Trabalhadores Venezuelanos (RAIS/2024 - dados parciais)
- Masculino: 433 (76,5%)
- Feminino: 133 (23,5%)
- Total: 566 (100%)
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