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Europa ameaça destruir Exército russo se Putin usar bomba nuclear

União Europeia diz que reação seria convencional

Luciana Carvalho

Nesta quinta-feira (13), o chefe da diplomacia da União Europeia disse que um ataque nuclear russo contra a Ucrânia resultaria na "aniquilação" do Exército de Putin, e o primeiro-ministro alemão elevou o usual tom comedido e afirmou que a guerra do russo é "uma cruzada contra a democracia liberal". As informações são da Folha de S.Paulo.

O espanhol Josep Borrell, alto representante da União Europeia para assuntos estrangeiros e segurança, afirmou em Bruges (Bélgica) que "deve ficar claro que qualquer ataque nuclear contra a Ucrânia vai gerar uma resposta". "Não será uma resposta nuclear, mas uma tão poderosa do lado militar que o Exército russo seria aniquilado", afirmou.

É a declaração mais clara sobre o tema dada por uma autoridade ocidental até aqui. Os americanos, donos da bola quando o assunto é a defesa militar dos aliados europeus na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), já haviam falado em "consequências catastróficas" em caso de uso da bomba atômica, mas não as tinham desenhado em público.

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Já o alemão Olaf Scholz se manifestou em um vídeo gravado para uma conferência de sociais-democratas em Berlim. "Não é só sobre a Ucrânia. Eles [Putin e seus apoiadores] consideram que a guerra contra a Ucrânia é parte de uma cruzada maior, uma cruzada contra a democracia liberal", afirmou.

A cerca do conteúdo, Scholz não está errado. Putin deixa claro desde 2004 que encara a relação com o Ocidente como uma disputa de civilizações e valores, e o percebido avanço de estruturas ocidentais na periferia ex-soviética, como uma ameaça existencial.

O russo reafirmou isso tudo quando discursou no evento em que anexou quatro territórios da Ucrânia, de quem já tinha tirado a Crimeia, sem conflito, em 2014. Antes, havia prometido defender as áreas, que não controla totalmente, com "todos os meios necessários".

Isso, somado a falas mais diretas dele e de aliados, é uma ameaça nuclear. Ainda que do ponto de vista militar seja algo duvidoso e politicamente suicida, o emprego de uma bomba atômica tática, de baixa potência, é vista como uma possibilidade baixa, mas existente, entre analistas.

Por conta da recorrência do tema, a Otan realiza nesta quinta (13) uma reunião de seus ministros da Defesa para debater o envio de mais sistemas antiaéreos. Desde a segunda-feira (10), após uma série de derrotas para Kiev e o ataque à ponte que liga a Crimeia à Rússia continental, o presidente da Rússia tem sinalizado uma mudança na condução da guerra, assustando o Ocidente, enquanto mobiliza reforços.

Ataques com mísseis e drones kamikazes passaram a atingir de forma deliberada alvos de infraestrutura civil, embora isso tenha acontecido durante todo o conflito de uma forma ou de outra. Assim, os ocidentais querem enviar sistemas antiaéreos mais eficazes e mísseis de longo alcance para Kiev, o que os russos consideram uma linha vermelha em termos de envolvimento. Mas tais linhas são bastante turvas, e o Ocidente vem elevando a barra e dobrando a aposta contra as ameaças de Putin pouco a pouco. Agora, debatem equipar a Ucrânia com sistemas americanos Patriot, israelenses Arrow-3 ou mais alemães Iris-T.

Como os próprios americanos já se queixaram, tais movimentações costumam demorar e ser insuficientes por parte dos europeus. O fato de Washington não ter populações e indústria dependentes do aquecimento e da energia do gás russo ajuda a explicar o cenário, mas a pressão cresce.

Do lado russo, o discurso é o mesmo. Comentando o pedido feito pelo presidente Volodymyr Zelensky de ser admitido na Otan, uma possibilidade remota mesmo pensando em longo prazo, mas que foi usado como "casus belli" por Putin, um membro do Conselho de Segurança da Rússia disse que o resultado seria a Terceira Guerra Mundial.

"A natureza suicida de um passo desses é compreendida pelos membros da Otan também", afirmou Alexander Vediktov, segundo a agência Interfax. Outro que voltou a falar do risco de um conflito amplo foi o ditador belarusso, Aleksandr Lukachenko, que negou ter intenção de atacar a Ucrânia apesar de ter formado uma tropa de fronteira conjunta com seu aliado Putin.

(Luciana Carvalho, estagiária da Redação sob supervisão de Keila Ferreira, Coordenadora do Núcleo de Política).

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