Premiação do Mundial de Clubes vai criar mais desigualdade entre clubes sul-americanos? Estadão Conteúdo 07.07.25 10h18 A América do Sul já vive uma hegemonia no futebol. A última edição da Libertadores que não ficou com um time brasileiro já tem sete anos. Neste intervalo, mudanças na economia dos dois principais países do continente - Argentina e Brasil - afetaram também o esporte, além de novas formas de gestão, como as SAFs. Agora, seis clubes voltam dos Estados Unidos com premiação recorde pelo Mundial de Clubes, o que levanta dúvidas sobre como a tal injeção financeira irá interferir no mercado sul-americano. Os valores ainda passam por descontos na declaração de impostos. As alíquotas variam a cada caso e país. Ainda assim, o prêmio do Flamengo, por exemplo, é próximo do que Paris Saint-Germain faturou com o título da Champions League: 25 milhões de euros (cerca de R$ 152,8 milhões, pelo câmbio atual). Outro exemplo que demonstra a grandiosidade dos valores é a vitória do Palmeiras sobre o Botafogo, nas oitavas de final. Paulinho custou US$ 18 milhões (R$ 115 milhões na cotação da época) ao clube, que recebeu US$ 13,125 milhões (R$ 72,8 milhões) por ter avançado às quartas de final, graças a bola colocada na rede pelo atacante. A premiação total distribuída pela Fifa chega a US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões). O valor tem origem no que foi pago pela DAZN pelos direitos de transmissão do campeonato. A compra foi feita após a estatal de comunicação da Arábia Saudita, parceira da gestão do presidente Gianni Infantino, comprar 10% da companhia de streaming. A Fifa prevê um pagamento de "solidariedade" a clubes que não entraram na disputa do Mundial. O objetivo é minimizar distorções nos continentes em relação a quem estava na competição. "O Mundial de Clubes da Fifa não será apenas o ápice do futebol de clubes, mas também uma demonstração viva de solidariedade que vai beneficiar os clubes em larga escala como nenhuma outra competição já fez", disse Infantino. BRASIL TEM "BOLHA" NO MERCADO DO FUTEBOL E CONTRASTA COM VIZINHOS Diferentes fatores apontam para uma inflação do mercado do futebol no País. Desde 2021, clubes brasileiros podem receber investimentos como empresas, por meio da Lei da SAF, o que facilitou a injeção de recursos e renegociação de dívidas. Além disso, as casas de apostas passaram a ser os principais patrocinadores dos times do Brasil. Somente em 2025, é estimado que essas empresas aportem R$ 1 bilhão nos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. O economista Cesar Grafietti, referência no Brasil sobre finanças no futebol, avalia que a bolha no futebol nacional irá estourar em algum momento. Ele destaca que o movimento acontece porque, naturalmente, uns clubes podem gastar mais do que outros, já que não há lastro que distribua aportes de maneira competitiva. "A bolha vai estourar, isso é fato. Já enxergo que os números de 2024 serão muito ruins do ponto de vista de resultado e dívida, e 2025 será ainda pior. Não adianta todo mundo gastar o que não tem porque o resultado será sempre prejuízo e aumento de dívida. O que Flamengo e Palmeiras fazem é justificável. O Bahia também, porque é do Grupo City, que tem muito dinheiro. Os outros, não, porque ninguém tem todo esse dinheiro. Só que eles se sentem na obrigação de 'correr' para acompanhar esses que têm mais condição", explicou o economista ao Estadão. FUTEBOL ARGENTINO VIROU "MERCADO" DO BRASIL Enquanto os brasileiros viram as cifras crescerem, os clubes argentinos lidam com a desvalorização da moeda local. O dólar tem atingido o patamar de 1.238 pesos argentinos, e a inflação chega a 43,5% ao ano no país. Multifatorial, a crise argentina afeta também os clubes. A exemplo do Brasil, há quem pense em buscar investimentos maiores, por meio das SADs (Sociedades Anónimas de Desporto, no espanhol), semelhantes às SAFs brasileiras. Um incentivador do modelo é o próprio presidente Javier Milei, entusiasta do setor privado e do estado mínimo. O chefe do Executivo publicou, em 2024, um decreto que obrigava a Associação de Futebol Argentino (AFA) a permitir as SADs. O tema divide figuras históricas do esporte no país. Verón, ídolo e presidente do Estudiantes, é favorável. Riquelme, de mesmo status e cargo, mas no Boca Juniors, é contra. Houve disputa judicial e política a partir do decreto de Milei. A AFA chegou a acionar Conmebol e Fifa. A entidade sul-americana argumentou, na época, que "estabelecer a obrigação de que os clubes prevejam a transformação em uma SAF é uma flagrante ingerência do Estado". A questão social dos clubes argentinos tem uma relação de pertencimento diferente em relação ao Brasil. "O processo político eleitoral dos clubes é muito importante. É uma noção de que os sócios são donos dos clubes. Eles votam nos candidatos. Não é um assunto transparente e perfeito, mas há a oportunidade de votar", explicou a antropóloga e pesquisadora de política e esporte da Universidade de Buenos Aires (UBA) Verónica Moraes ao Estadão. Um efeito prático disso são clubes brasileiros contratando talentos da Argentina. Eles são a maioria entre os estrangeiros no futebol do País. A Série A de 2025 tem 47 jogadores argentinos. Em 2018, quando o River Plate foi o último time argentino a ser campeão da Libertadores, o Brasileirão tinha apenas 23 atletas do país vizinho. Apenas em 2021, outra nacionalidade (os colombianos) foram maioria entre os estrangeiros. O número de argentinos oscilou no intervalo, mas estourou a partir de 2022. Dois anos depois, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aumentou o limite de estrangeiros por equipe de sete para nove jogadores. Em oposição ao aumento de aportes (e de gastos), há a cobrança pelo fair-play financeiro. O sistema busca "o equilíbrio da indústria do futebol por meio da saúde financeira dos clubes", explica Grafietti. Boas práticas incluem não atrasar o pagamento de salários e encargos trabalhistas, recolher impostos em dia e evitar o acúmulo desenfreado de dívidas. A ideia nasceu há cerca de 15 anos na Europa, após a Uefa ver clubes de maior investimento ficarem em débito com outros mais modestos, que, por sua vez, não conseguiam manter suas operações estáveis. A CBF já deu o primeiro passo para criar um Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), o chamado Fair Play Financeiro. Um grupo de trabalho será montado para estabelecer as regras. "A implementação gradual é para dar tempo de recuperação a situações críticas. Acompanhado de um trabalho até acadêmico, que podemos pensar como fazer por meio da CBF Academy. É muito fácil só aplicar sanção e virar as costas. Não resolve problema assim", analisa Ricardo Glock Paul, vice-presidente da CBF e coordenador do futuro grupo. A situação na América do Sul, contudo, já é de disparidade. O equilíbrio no Brasil pode até ter impactos no futebol da América do Sul, mas apenas um modelo da Conmebol poderia ser base para maior competitividade no continente. Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave futebol Mundial de Clubes premiação desigualdade América do Sul COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Esportes . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. 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