Do sedentarismo ao Iron Man, triathlon leva paraense de Barcarena para a Europa

Claudinei Souza deixa para trás lesão no joelho e passado sem exercícios após descobrir, por acaso, como a rotina de triatleta transformaria sua vida

Luiz Guilherme Ramos

Todos os dias, às 4 da manhã, Claudinei Souza desperta religiosamente para conciliar as atividades na administração de empresas, nas pistas de corrida e ciclismo, bem como nas águas. A rotina sugada e exaustiva tem uma explicação bem simples: Claudinei é atleta de triathlon e está em pleno trabalho para disputar uma das provas mais conceituadas do esporte, o Campeonato Mundial de Longa Distância, entre os dias 18 e 21 de agosto, em Samorin, Eslováquia.

Competir no triathlon não é nenhuma novidade para este cidadão criado na cidade de Barcarena, interior do estado. Claudinei conta que começou no esporte por acaso, ao descobrir que o estímulo para a reviravolta na vida partia justamente de onde ele menos esperava.

“Eu era sedentário até o ano de 2016, pois tenho LCA [ligamento cruzado anterior] do joelho direito rompido. E aí tinha a desculpa para não fazer exercícios. Mas comecei a pedalar, fazer percursos de estrada. Aí procurei uma assessoria, que foi a CPH Brasil. Com a orientação do treinador a gente consegue mensurar onde podemos chegar. Recebemos uma planilha de treinamento e os resultados vêm a partir da disciplina e da dedicação. Foi assim que eu entrei no esporte”, recorda.

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Rapidamente começou a disputar campeonatos e acumular seus primeiros feitos, que hoje servem de inspiração para o aperfeiçoamento contínuo. “Em março já participei do primeiro duatlon noturno. Já participei de dois Iron Man, com 3.800 metros de natação, 180 km de ciclismo e uma maratona de 42.2 km. Também participei do Campeonato Brasileiro de Triathlon de longa distância, que deu vaga ao Campeonato Mundial, que será realizado em agosto, na Eslováquia”, detalha.

Claudinei é casado e tem uma filha. Sempre que pode volta sua atenção aos treinos. E como o esporte envolve três modalidades, ele entendeu que a preparação vai muito além da parte física. Para suportar o desafio que exige energia, força e concentração, Claudinei passou a enxergar uma variável psicológica.

“Acima de tudo, muitos atletas estão passando a olhar para isso agora, que é o treinamento mental. Você precisa ter uma mente forte, caso contrário se auto sabota e interrompe o treino. É preciso visualizar cada passo da sua prova e, acima de tudo, acreditar em si próprio, que você vai fazer o seu melhor, ao ponto de que, se estiver correndo e porventura sua mente comece a vaguear, você vai perder a sua postura de corrida, seu comprimento de passada vai diminuir, então é uma alta concentração durante a prova. Para isso é preciso estar com a mente e a alma leves”, defende.

Claudinei Santos triathlon

E como tudo na vida é equilíbrio, o maratonista não descuida da parte física observando cada detalhe das provas. “Naturalmente a natação é mais técnica, exige mais paciência e dedicação para desenvolver a técnica de nado. Já o ciclismo exige maior resistência, que você consiga pedalar cinco horas sem parar. A corrida exige um controle, acima de tudo. Cada modalidade tem o seu desafio. O que ajuda a vencer esses desafios é ter uma piscina para treinar e nadar, ter um tênis confortável, compatível com o tipo de treinamento ou uma bicicleta que te ajude”, enumera.

Mas para atingir esse nível, o atleta precisa de apoio que nem sempre está acessível. A estrutura para a prática do triathlon tem custo elevado. Uma bicicleta apropriada, por exemplo, não sai por menos de R$ 20 mil, enquanto um capacete pode chegar a R$ 1.500. Com tantas necessidades e itens com valor elevado, ele precisa se desdobrar para obter ajuda.

“Estamos buscando apoio da Federação Paraense de Triathlon, também junto à Seel. Em Barcarena tenho buscado apoio com um vereador e com o secretário municipal de esporte. Eles ajudam como podem. Atualmente temos a parceria com a Tuna Luso e nos sentimos honrados pela infraestrutura para treinos que o clube oferece. Financeiramente fazemos rifa, contamos com o apoio de todos, inclusive pessoas desconhecidas que gostam do trabalho”.

Para o desafio da Eslováquia, Claudinei tem trabalhado todos esses aspectos e um a mais que pouca gente sabe. Sabe aquele momento onde o atleta troca de um esporte para o outro, no meio da prova? Segundo o maratonista, o ato é visto como uma modalidade à parte, que muitas vezes decide provas.

“Chamamos a transição de quarta modalidade. Temos duas, uma quando sai da natação para o ciclismo e outra do ciclismo para a corrida. Ao sair do primeiro, o cenário já está montado com a toca e o óculos de natação na mão, deixando no local indicado. A sapatilha já fica ‘clipada’ na bicicleta para ganhar tempo. O capacete fica na posição para você nunca esquecer de pegar na bicicleta sem antes o capacete estar afivelado. Geralmente não colocamos meia para o ciclismo, porque leva tempo. Colocamos mais quando entramos na corrida. Aí entra tênis, meia e um boné para garantir o controle da temperatura corporal”.

Resultados obtidos

Entre outras conquistas, em setembro de 2017, Claudinei se tornou o primeiro triatleta da região a cumprir uma prova de triathlon de longa distância (70.3 milhas, cerca de 113 km), ficando em quarto lugar na categoria, com 1.900m de natação, 90km de ciclismo e 21,2km de corrida. O evento aconteceu na praia de Cumbuco, em Fortaleza. No ano seguinte, em maio, Claudinei virou o primeiro cidadão de Barcarena a completar uma prova do Iron Man, em Florianópolis, com um tempo de 10h52min, divididos entre 3.800 metros de natação, 180km de ciclismo e 42,2km de corrida. Em abril deste ano, Claudinei representou bem o Pará no Triathlon Iron Man Brasil e Florianópolis, completando a prova em 11h21min.

Uma mudança de vida radical, que só foi possível graças ao enfrentamento dos seus medos, transformados em força. Uma prova muito clara de determinação ocorre no próprio Iron Man, que vem a ser uma competição de alto nível, com participantes dos mais diversos locais do Brasil e do mundo.

"Quando fui com a minha bicicleta para o Iron Man, eles olharam para a roda e perguntaram se eu não ia colocar a roda de prova. Eu disse que a minha roda era de treino e prova. Ela que lute. Geralmente eles usam carbono. A principal diferença são os equipamentos. Todos os dias, se me ligarem, vão me ver treinando, pedalando, correndo; sábado, domingo. Essa diferença é apenas de equipamento”, conclui.

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