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Haiti se classifica à Copa 21 anos após 'Jogo da Paz' da seleção e envio de missão do Brasil

Estadão Conteúdo

Toda Copa do Mundo reserva histórias marcantes de times improváveis, e a classificação do Haiti é um dos momentos mais comoventes das Eliminatórias. A nação caribenha, que retorna ao Mundial depois de 52 anos, recebeu ajuda humanitária do Brasil em 2004, ano marcado por um amistoso com a seleção brasileira que ganhou o nome de "Jogo da Paz".

O Brasil havia conquistado o pentacampeonato dois anos antes e o time contava com alguma das maiores estrelas do futebol nacional, como Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos. O time, então comandado pelo técnico Carlos Alberto Parreira, foi recebido por uma multidão de fanáticos torcedores haitianos e desfilou em um comboio pelas ruas da capital Porto Príncipe em veículos militares.

À época em seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos principais incentivadores da realização da partida. Cerca de 600 soldados brasileiros participavam da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti, que sofria com diversos conflitos internos.

No início daquele ano, Jean-Bertrand Aristide foi deposto da presidência por guerrilheiros armados e uma missão militar provisória liderada por tropas americanas tomou conta do país. O Haiti é o país mais pobre das Américas, com elevadas taxas de analfabetismo, de desnutrição infantil, de mortalidades infantil e materna.

A ideia de levar a seleção para amenizar a dor do povo haitiano foi de Lula, que tentava fazer o Brasil ganhar papel de liderança no cenário político internacional. A iniciativa veio depois de o primeiro-ministro do Haiti, Gerard Latortue, sugerir que a seleção brasileira seria capaz de mobilizar os rebeldes por um cessar-fogo. A CBF se entusiasmou com a ideia e recebeu o aval da Fifa para realizar a partida.

O amistoso não foi visto com bons olhos por alguns clubes. O Milan não liberou Dida, Cafu e Kaká, e o Bayern de Munique vetou as idas de Lúcio e Zé Roberto. O Haiti ocupava apenas a 95ª posição do ranking mundial naquele momento.

"Quando a gente desceu (no aeroporto) foi impressionante. Você via aquela multidão com dificuldades de sobreviver, e, mesmo assim, todo aquele povo todo alegre. Só quem estava lá viu como o futebol pode ajudar uma sociedade", relembrou o zagueiro Roque Júnior, ao Estadão, em 2016. "Nós só fomos recebidos daquele jeito no Brasil após ganharmos a Copa do Mundo e lá era só um amistoso."

Latortue chegou a oferecer US$ 1 mil para o jogador que balançasse as redes contra o Brasil, mas o Haiti não chegou perto. Em 18 de agosto de 2004, a seleção venceu por 6 a 0, com três gols de Ronaldinho Gaúcho, dois de Roger Flores e um de Nilmar. A partida foi realizada no Estádio Sylvio Cator, em Porto Príncipe, para um público de aproximadamente 15 mil pessoas. O árbitro brasileiro Paulo César de Oliveira apitou o jogo.

A partida virou tema do documentário O Dia em que o Brasil Esteve Aqui, de Caíto Ortiz e João Dornelas, lançado em 2005. A CBF recebeu o Prêmio Fifa Fair Play em 2004 pela ação. O Brasil voltou a jogar contra o Haiti em 2016, quando venceu por 7 a 1.

A presença dos militares brasileiros no Haiti foi pensada para durar poucos meses, mas acabou se estendendo por 13 anos, sendo encerrada somente em 2017. A crise humanitária no país caribenho foi ampliada pelo terremoto que matou mais de 200 mil pessoas. A série Diários do Haiti mostrou a situação catastrófica de um local onde crianças comiam "bolachas" feitas de terra.

Segundo a ONU, estima-se que 90% da capital Porto Príncipe esteja agora sob o controle de grupos criminosos que estão expandindo os ataques não apenas para as áreas vizinhas. O poder das gangues cresceu desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho de 2021. Desde então, o cargo da presidência está vago e uma missão do Quênia tenta reprimir a violência no país.

HAITI NA COPA COM TREINADOR QUE NUNCA FOI AO PAÍS A crise de segurança no Haiti é tão grande que o técnico do Haiti, o francês Sébastien Migne, nunca pisou no país. Em seus jogos como mandante, a seleção realiza partidas em Curaçao. "É impossível porque é muito perigoso. Normalmente moro nos países onde trabalho, mas não posso aqui. Não há mais voos internacionais para lá", disse o treinador à revista France Football.

Segundo Migne, ele montou o time com base em informações passadas por dirigentes. Ele também trabalhou para convencer atletas europeus filhos de pais haitianos a defenderem a nação da América Central. O ex-jogador da seleção francesa sub-21 Jean-Ricner Bellegarde, o ponta Josué Casimir, do AJ Auxerre, e o ex-zagueiro belga Hannes Delcroix são alguns dos casos.

A última vez em que o Haiti jogou a Copa do Mundo foi em 1974, na Alemanha. O país sofreu incríveis 14 gols em três jogos e deu adeus ao torneio ainda na primeira fase.

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