Re-Pa: batida que ecoa das arquibancadas celebra o Dia Mundial do Rock

O maior clássico do mundo mostra que tem peso nas arquibancadas, unindo futebol e rock n'roll através das torcidas organizadas Remowar e Metal Bicolor

Luiz Guillherme Ramos e Aila Beatriz Inete
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Neste dia 13 de julho, o mundo celebra o Dia Mundial do Rock. A data institucionalizada a partir da realização do festival Live Aid, em 1985, comemora não apenas o som pesado e suas vertentes, mas um estilo de vida que molda a cultura ocidental há pelo menos sete décadas, ocupando os mais diversos espaços, entre eles... as arquibancadas.

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Em Belém não é diferente. A capital paraense já foi considerada berço de movimentos musicais importantes no cenário musical brasileiro, especialmente nas décadas de 80 e 2000. No primeiro, bandas como Delinquentes, Baby Loyds e Mosaico de Ravena estremeciam a juventude com sons pesados e letras fortes, cantando a liberdade de expressão em um país recém-saído da Ditadura Miltar. 

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Na era mais recente, o rock paraense teve um renascimento marcante, com crescimento de público, produção e circulação de bandas. Belém foi apelidada por alguns de “Nova Brasília”, numa alusão ao boom de bandas autorais e ao surgimento de selos, festivais e coletivos independentes.Daí surgiram nomes como Madame Satan, Cravo Carbono, Eletrola e A Euterpia. 

Com tanta riqueza cultural, não demorou muito para que o movimento roqueiro invadisse "outra praia": o futebol. Segundo exemplo de outras regiões, as torcidas de Remo e Paysandu adotaram essa mistura de paixões, criando assim torcidas conhecidas não só pelo apoio às locomotivas paraenses, mas também um movimento cultural de resistência, embalada ao som de guitarras pesadas que ecoam dentro e fora dos estádios de futebol.

Metal Bicolor e Remowar

Futebol e Metal

Em Belém, o futebol e o rock and roll andam lado a lado. Duas torcidas organizadas, uma do Paysandu e outra do Clube do Remo, mostram como a paixão pelas guitarras distorcidas e pelos clubes do coração pode formar algo maior do que apenas apoio nas arquibancadas. São movimentos culturais que resistem ao tempo, unem gerações e mantêm viva a chama do rock dentro e fora dos estádios.

A Metal Bicolor, do Paysandu, nasceu em 2002 e foi oficializada dez anos depois. A ideia veio do saudoso Rogério Pantera, que reuniu amigos do circuito do metal para formar uma torcida com identidade própria. Hoje, a organização tem diretoria, estatuto e realiza eventos como o “Metal na Roça” e festas com bandas da cena local.

“A Metal Bicolor nasceu desse vínculo com o metal e o rock. Então pensamos: por que não criar uma torcida que juntasse isso ao amor pelo Paysandu?”, lembra Marcelo Souza, atual presidente. A inspiração da torcida é pesada e traz nas letras do nome a referência dos britânicos do Iron Maiden, clássico absoluto do metal mundial, que passou por Belém em 2011.

Com cerca de 60 membros ativos e presença constante na Curuzu, a torcida carrega faixas, bandeiras e camisas com referências visuais ao metal, como o mascote Eddie (do Iron Maiden) e logotipos estilizados. Tudo isso aliado a uma estrutura organizacional sólida:

“Nossa estrutura é organizada como a de uma empresa. Temos presidente, vice, diretoria comercial e administrativa, e sócios que contribuem com mensalidades”, explica Marcelo. A origem da torcida tem raízes também no espírito coletivo da cena rock de Belém, como conta Clever Loureiro, o Carlão, um dos fundadores:

“Era uma galera que jogava bola, ouvia rock e se reunia em peladas como o Re-Pa dos metaleiros. Vimos que o pessoal do Remo já tinha torcida e pensamos: ‘tá na hora da gente criar a nossa’”. O ponto de virada foi a confecção de uma faixa de 30 metros de comprimento, pintada à mão, levada até Paragominas para um jogo decisivo do Paysandu:

“Ela pesava 50 kg molhada! Mas estendemos bem na frente das câmeras. Muita gente perguntava que torcida era aquela. Dali em diante, não teve mais volta”, lembra Carlão.

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Re-Pa "na veia"

Do outro lado do clássico Re-Pa, a Remowar surgiu em 2007 com uma proposta semelhante: reunir torcedores apaixonados pelo Clube do Remo e pela música pesada. “A inspiração para o nome veio da banda Manowar. A gente queria levar o público fiel da cena rock para dentro do estádio”, conta Iran Favacho, atual presidente.

Com quase 20 anos de estrada, a Remowar conta hoje com sede própria, CNPJ, conselho ativo no clube e mais de 100 membros. As festas da torcida são marcadas por shows ao vivo, e a produção autoral já gerou um álbum completo:

“Temos um CD com oito faixas exclusivas da Remowar, letras próprias compostas por membros da torcida, gravadas pela banda Comando Etílico. É profissional, com encarte e tudo”, destaca Iran.

A torcida também desenvolveu projetos de inclusão, como o Comando Feminino e o Comando Kids, mostrando que há espaço para todos — sem preconceito com estilo de vida ou idade.

“A Remowar representa liberdade: liberdade para ouvir o som que a gente ama, mesmo sendo um gênero às vezes discriminado. Tem pais, mães, professores, crianças. É uma família”, diz Iran.

Ambas as torcidas mantêm relação respeitosa com os demais grupos organizados. A rivalidade fica em campo — nas arquibancadas, o respeito prevalece.

“Já fomos convidados para festas da Papão Chopp, da Alma Celeste, e eles também frequentam as nossas. É troca, é respeito”, afirma Carlão, da Metal. “Hoje fazemos festas com 150, 200 pessoas, tranquilamente. Quando o clube se reestrutura, a torcida vem junto”, acrescenta Iran.

Mais do que torcer, Remowar e Metal Bicolor são expressões culturais únicas. Elas mostram que o rock não está morto — apenas trocou o palco pelas arquibancadas, motivando ainda mais a paixão que une os dois maiores clubes da Amazônia. 

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