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Preparação física de 'mulher para mulher' influencia mudança de patamar da Esmac

No Dia Internacional da Mulher, atletas da Esmac contam as vantagens de ter uma preparadora física do sexo feminino

Daleth Oliveira
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Desde 2018 o preparo físico das atletas da Associação Atlética Escola Superior Madre Celeste (Esmac) é feito por uma mulher. Cássia Gouveia é a profissional responsável pelo treinamento fora de campo que já garantiu três dos seis títulos do Campeonato Paraense conquistados desde que assumiu o cargo no time.

Apesar das demandas técnicas e táticas do futebol feminino e masculino serem semelhantes, as diferenças biológicas dos atletas devem ser consideradas na hora do preparo físico. A própria CBF recomenda que, devido às disparidades, a preparação seja conduzida por profissionais que conheçam as exigências físicas específicas da modalidade.

Cássia concorda que, independente do gênero, o profissional precisa ser especialista em corpos femininos para contribuir com o melhor rendimento das atletas em campo. “É importante que a pessoa, homem ou mulher, entenda bem sobre hormônios, diferenças anatômicas e fisiológicas para trabalhar com futebol feminino. A gente não pode fazer essa diferenciação de gênero para trabalhar com a modalidade, todos são bem-vindos, contanto que tenham plena consciência de que estão trabalhando uma modalidade completamente diferente do futebol masculino”, explica.

image A preparação física do time feminino envolve fatores físicos e fisiológicos específicos (Sidney Oliveira/O Liberal)

A profissional de Educação Física pondera, no entanto, que é essencial a presença de mulheres na equipe da seleção para trazer mais conforto às atletas. “Acredito que existe uma importância em ter ao menos uma mulher na comissão técnica. Porque muitas vezes, para as atletas, é mais fácil falar e explicar certas situações para uma mulher do que para um homem. Então é importante termos pessoas que entendam as características de cada uma delas, mas eu não excluo de forma alguma que homens também possam trabalhar na modalidade até porque não deveria ter essa diferenciação, ou seja, não é para trabalhar só mulher no feminino e não é para trabalhar só homem no masculino. Deveria ter uma uma possibilidade que todos trabalhassem em todas as áreas”, reitera.

Para o técnico da Esmac, Mercy Nunes, o trabalho da Cássia, de fato, vai além do preparo físico. A cumplicidade, confiança e bem-estar que o trato “de mulher para mulher” traz para a equipe é o diferencial.

“A professora Cássia já está consolidada como umas das melhores do país na categoria. Ela é extremamente competente e dedicada, faz um trabalho de excelência, buscando sempre o que tem de melhor para a preparação feminina. Fora que, ainda por cima, é o meu braço direito e minha conselheira nas horas de tomada de decisões difíceis. Com ela na preparação, as atletas têm mais liberdade para falar assuntos pertinentes às mulheres, como menstruação, TPM, sensibilidade emocional, psicológica, coisas que entre mulheres a conversa sai com mais harmonia, e isso é muito positivo”, elogia o técnico.

Diferenças biológicas

Sobre as características das atletas femininas, a CBF explica que as mulheres têm a reduzida massa muscular, menor volume cardíaco, níveis menores de hemoglobina, menor estatura, peso e massa corporal, maior massa de gordura e de percentual de gordura, menor resistência aeróbia, velocidade, força, potência e agilidade, maior risco de lesões articulares e, em alguns casos, comprometendo a saúde (tríade da atleta feminina).

Em virtude dessas peculiaridades, as jogadoras percorrem menores distâncias em alta intensidade, por exemplo. “É imprescindível que haja uma reformulação estrutural nas bases do futebol feminino brasileiro, para que as mulheres tenham condições de obter uma adequada e eficiente preparação física e possam disputar, em pé de igualdade, com outras potências mundiais”, diz a CBF.

image Cássia comanda a preparação física da Esmac desde 2018 (Sidney Oliveira/O Liberal)

A anatomia feminina, por exemplo, também contribui para aumentar os riscos de lesões nas atletas, explica Cássia Gouveia. “Existem também diferenças anatômicas que interferem diretamente na possibilidade de lesões. Por exemplo, as mulheres têm os quadris mais largos e joelhos mais valgos, isso implica numa facilidade maior de ter certos tipos de lesões, como por exemplo, a lesão de ligamento cruzado anterior, que em mulheres é duas vezes mais fácil do que em homens”, detalha.

O ciclo menstrual das atletas também precisa ser acompanhado pela comissão técnica. A preparadora esclarece que, em fases diferentes, as mulheres tendem a se lesionar mais. “A gente sabe também da interferência da menstruação no desempenho delas. Existem períodos do ciclo menstrual que a mulher fica mais suscetível a lesões e momentos em que ela está mais suscetível ao ganho de força. Tudo isso precisa ser analisado para termos uma melhora no desempenho da seleção”, diz a profissional.

No último domingo (6) a Esmac estreou na elite do Brasileirão Feminino contra Ferroviária (SP). Cássia conta que, nas preparações para a competição, foram coletados dados menstruais das atletas, com o intuito de adequar calendários de treinos sem prejuízos à performance da equipe.

“Antes do início do campeonato eu peguei os dados da última menstruação de cada atleta para que eu pudesse acompanhar e tentar adaptar o máximo possível, amenizar essa questão das cólicas e dores causadas pela menstruação, entre outras coisas, tudo sem fazer o controle. Existem clubes e seleções que, com uso de remédios, controlam a menstruação das atletas para que elas não venham a menstruar em datas importantes. Mas, aqui na Esmac, a gente ainda não lida com a menstruação dessa forma”, conclui Cássia.

Experiências das atletas

A meio-campista da Esmac, Lora Soure, sentiu na pele a diferença do tratamento específico para mulheres. Ela conta que antes, quando era preparada por um homem, sentia que não tinha um direcionamento específico para sua fisiologia, mas agora, ao ser assistida por uma mulher, sente-se mais segura seguindo os treinos que respeitam seu corpo e ciclo menstrual.

“Quando comecei na Esmac, em 2008, os treinos eram basicamente os mesmos dos homens, sem especificidades. Sobre o ciclo menstrual, nós apenas comunicávamos o técnico, pois tinha que ser feito. Então, ele perguntava se dava para treinar e a gente treinava se estivesse tudo bem, sempre houve compreensão. Mas hoje temos treinos específicos, ninguém fica sem treinar mesmo no período menstrual, pois se a atleta não pode fazer a atividade de campo com o técnico, a Cássia leva ela para uma atividade específica com menos impacto ou dinâmica, mas não deixa de treinar”, conta Lora.

image Lora Capanema e Lora Soure, ao centro, recebendo orientações do técnico Mercy Nunes (Sidney Oliveira/O Liberal)

Para a jogadora de futebol, os treinos direcionados têm ajudado não apenas no seu rendimento nos jogos, mas também no desenvolvimento do porte físico das atletas. “Desde 2018 percebemos a melhora no nosso preparo físico. Com o olhar específico para mulheres, ganhei mais força nos músculos usados especificamente no futebol, sem ter que ficar musculosa ou masculinizada. Com a Cássia, estamos treinando mesmo 'naqueles dias', e assim não perdemos o condicionamento”, considera.

No Flamengo, a paraense Nayra Coelho considera essencial o trabalho específico com as mulheres. “Eu acho importante a preparação física ser feita por mulher, apesar de eu só ter passado por duas em clubes anteriores, que foram pessoas excelentes no meu preparo físico. Não apenas pelo preparo físico, mas também por ter mais mulheres envolvidas com a gente dentro e fora de campo”, conta a jovem que já teve passagem pela Esmac, Vasco e hoje está no Mengão.

“Para melhorar o rendimento dentro do campo, eu acho que os profissionais de ambos sexos são excelentes, tanto preparador homem quanto preparadora física. Aqui no Flamengo, treino com o Saulo, ele tem um cuidado com a gente, faz adaptação de período menstrual, entende bastante nossas questões e nos ajuda bastante. Sempre é levado em consideração nosso período menstrual, quando a gente se encontra mais estressada, mais frágil, então a gente tem uma adaptação para treinar e se não der para treinar, a gente não treina, eles nos veta do treino sem problemas”, relata Nayra, sobre sua preparação física no Rubro-negro.

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