Pesquisa aponta futebol como modalidade que registra mais casos de discriminação racial no Brasil

Mesmo sendo um país com diversos ídolos negros, atitudes racistas são corriqueiras no esporte mais popular do país

Aila Beatriz Inete e Fabio Will / O Liberal
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Boa parte dos maiores ídolos do futebol brasileiro são negros. Pelé, Neymar, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho são alguns nomes de peso do Brasil. Mas, ainda assim, a modalidade, que é tão popular no pais, continua sendo um espaço em que a discriminação racial é constante.

Em 2020, o levantamento do Observartório da Discriminação Racial no Futebol registou 37 casos de discriminação relacionacionado a raça no esporte, sendo que 31 foram no futebol. Além disso, o relatório registrou cinco casos de racismo na modalidade, no exterior, com atletas brasileiros. 

Das 31 ocorrências relacionadas a discriminação racial no futebol brasileiro, cerca de 77% das vítimas são atletas. O levantamento também registrou que em mais de 60% das vezes o agressor foi um torcedor. E os estádios são onde os incidentes mais ocorrem (17), seguido pela internet (10) e em outros espaços (4). Para a equipe do Observatório, pelo ano atípico que foi 2020 e a falta de torcedores nos jogos, o número de casos é considerado alto.

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No Pará

Em outubro deste ano, no jogo entre Remo e Cruzeiro, o atacante azulino Jefferson foi vítima de racismo por parte da torcida mineira, que o chamou de "macaco''.  A diretoria do Leão não ficou indiferente ao acontecimento e denunciou o caso ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). 

“Eu recebi apoio e suporte do clube. No momento nem ouvi, nem sabia o que estava acontecendo, só fui saber depois que o vídeo chegou até mim”, contou Jefferson em contato com a equipe de OLiberal. 

image Remo tem feito campanhas contra o Racismo (Ascom/Remo)

Este ano, os ataques sofridos pelo meia do Londrina, Celsinho, também chamaram atenção. Por duas vezes ele recebeu comentários preconceituosos sobre o seu cabelo por parte de narradores e um comentarista. Já na terceira vez, na partida contra o Brusque, pela Série B, Celsinho afirmou ter sido chamado de "macaco" por um dirigente do clube de Santa Catarina. 

O Brusque foi punido com uma multa de R$ 60 mil e, inicialmente, perdido três pontos no campeonato. Mas, na última quinta-feira (18), o Pleno do STJD anulou parcialmente a primeira decisão, devolveu os pontos e puniu o time catarinense com a perda de um mando de campo.

“Justo no mês da Consciência Negra, uma coisa ser revogada. Mas não me surpreende, por isso essas coisas continuam acontecendo. Esperamos que situações como essas não possam mais ser vistas no esporte, assim como na sociedade. Esperamos que daqui pra frente as coisas sejam diferentes”, declarou Jefferson a O Liberal. 

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Racismo e Injúria Racial

A injúria Racial consiste em ofender alguém por conta de elementos relacionados à raça, cor, etnia, religião e origem.  É quando alguém tenta ofender, desmerecer e agredir outra pessoa em virtudes da sua origem etnico-racial. 

Já o racismo é quando alcança uma coletividade. É quando se tenta impedir um indivíduo ou um conjunto de pessoas de exercer direitos, a conduta diária por conta da etnico-racial.

“A pena para a prática de racismo vai de um a três anos de reclusão. Se for praticada através de mídias sociais, de divulgações, de símbolos midiáticos, a pena aumenta para de dois a cinco anos”, detalhou Júlio Jorge Farias, vice presidente da Comissão de Defesa e Promoção da Igualdade Racial da OAB/PA

image Júlio Jorge Farias, vice presidente da Comissão de Defesa e Promoção da Igualdade Racial da OAB/PA (Divulgação)
 

Luta contra o racismo

Quando George Floyd foi brutalmente assassinado por um policial norte-americano,no ano passado, atletas pretos dos Estados Unidos se juntaram ao movimento Black Lives Matter e trouxeram consigo as maiores entidades esportivas. NBA, Fórmula 1, NFL e outras ligas do mundo apoiaram a manifestação e juntaram forças no combate ao racismo. No Brasil, o movimento foi “tímido”. 

“As campanhas ajudam, porém elas precisam crescer mais. É bom lembrar que o estatuto do torcedor prevê sanções que são pecuniárias, que forçam o clube a praticar campanhas antirracistas, mas ainda assim não alcançam uma função pedagógica, de cercear o indivíduo racista a não ser inserido naquele ambiente de futebol”, apontou Farias.

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O advogado citou como exemplo de punições por crimes raciais o que acontece nos Campeonatos Europeus. “Quando um time, uma torcida, como um coletivo, pratica um ato racista, o clube todo é penalizado, os torcedores. O time perde pontos, deixa de participar de jogos, a torcida deixa de entrar nos estádios. E isso no Brasil é um pouco tímido. Um exemplo é o que aconteceu com o Brusque, que foi devolvidos os pontos. A sanção pecuniária não resolve o problema”,  finalizou Júlio Jorge Farias.

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Vários times de futebol do Brasil têm se manifestado, com campanhas nos estádios e nas redes sociais, contra o racismo. Mas é preciso ir além. O ex-jogador francês de futebol Lilian Thuram, campeão do Mundo em 1998, faz uma reflexão e provocação quando ele diz: 

“Os clubes devem se sentir responsáveis pelo que acontece, porque certos episódios ocorrem dentro de um espaço fechado ou de um estádio. E quando digo ‘responsável’, não quero dizer ‘culpado’. As pessoas devem dizer: ‘Somos responsáveis. O que podemos fazer?’ Se você admitir ser responsável, é um bom começo, porque não acontece novamente. Se, em vez disso, ninguém se sente responsável… nada muda”.

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