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Formigas da bola: as dificuldades e a incerteza do Parazão 2021; confira o impacto da pandemia no futebol feminino

Técnica do Paysandu é a primeira convidada e fala sobre a incerteza do calendário da modalidade

Beatriz Reis

Na última quarta-feira (14), o decreto-lei 3.199, que afirmava que mulheres não poderiam praticar o futebol, completou 80 anos - exatamente no dia 14 de abril de 1941, quando o então presidente Getúlio Vargas assinou o documento por ser “incompatível com a sua natureza”.  Alguns anos antes, as mulheres já frequentavam as praças esportivas acompanhadas por uma figura masculina de sua família.

O decreto viria a cair em 1979. Numa trajetória de dificuldades, o futebol feminino conseguiu ser uma modalidade ativa nos últimos anos, porém, ainda assim, há diversos problemas estruturais a serem superados. E se não bastasse, a pandemia de covid-19 atingiu em cheio os planejamentos para a atual temporada. 


No Pará

Mesmo em 2021, o futebol feminino segue sendo um tabu para muitos clubes e federações. Durante o Campeonato Paraense de 2020 apenas oito equipes participaram, entre elas Remo e Paysandu, sendo o Papão o segundo colocado no torneio. A campeã foi a Esmac, a única representante paraense no Campeonato Brasileiro da Série A2.

A treinadora da equipe feminina do Paysandu, Aline Costa, comentou sobre o futebol feminino no Pará. Contando sobre sua trajetória na modalidade e do que podemos esperar para Parazão de 2021, que estava previsto para começar em maio, mas devido ao agravamento da pandemia foi adiado e ainda não possui data definida.

“Até antes de, infelizmente, se agravar a pandemia, tivemos uma reunião com a Federação Paraense de Futebol (FPF), e estava tudo marcado para começar agora no final de abril e início de maio, agora creio eu que seja em junho e julho”, afirmou a treinadora.

E adiantou também que se depender dela, a equipe do Paysandu só retorna as suas atividades como treinos, jogo e afins, com total segurança para todos, pois é um ponto muito importante para o momento em que estamos vivendo. 

A reportagem entrou em contato com o diretor de competições da Federação Paraense de Futebol (FPF), mas não tivemos retorno. 

Ainda segundo Aline, ela precisou suspender os treinos da equipe bicolor por conta das dificuldades que o treino online trouxe para as atletas. “É muito difícil incentivar uma menina a treinar online, é muita reclamação e até suspendi os treinos esperando um novo decreto que libere os treinamentos por grupos”, afirmou.

Sobre os protocolos de prevenção, Aline disse que será o mesmo usado durante o ano passado e que também é utilizado pelas equipes masculinas durante o campeonato que está em curso.

Fique por dentro

A série 'Formigas da bola' é uma série da editoria de O Liberal que debaterá a origem e as dificuldades enfrentadas pelo futebol feminino no Pará, trazendo pesquisadores, dirigentes e atletas para discutir sobre o assunto.

 

História 

A primeira partida de futebol feminino pode ter acontecido em Belém, ainda em 1916, segundo noticiado em um jornal da época. “As três horas da tarde de domingo, 23 de janeiro, no campo dos Srs. Ferreira e Comandita, realizou-se o grande festival de Remo e Guarani. O programa estava constituído dos seguintes números: 1º parte – grande match de futebol travesti”, constava no jornal. Entretanto, essa partida pode ter tido a presença de homens vestidos de mulheres, de acordo com estudiosos.

Durante o ano de 1924, deu-se o registro do que poderia ser o primeiro time de futebol feminino: seu nome seria ‘Bloco das Palmeiras’, pois sua sede se localizava na avenida 16 de novembro, que na época era cercada de palmeiras colônias. Na época até médicos começaram a se posicionar sobre o assunto, já que para eles o esportes poderia modificar o corpo feminino e masculiniza-los.

História do decreto

Em 1941, aconteceu a primeira proibição da pratica da modalidade através de um processo de regulamentação do esporte no Brasil. Foi criado o Conselho Nacional de Desportos (CND), era comandado pelo Ministério da Educação. O decreto-lei (3.199, art. 54), trazia de formas gerais que as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados para a sua natureza.

Durante o período da ditadura militar, no governo de Castelo Branco, o decreto-lei foi novamente publicado, mas desta vez mais detalhado. Assim como em anos anteriores, circulavam notícias de que mulheres continuavam jogando futebol de forma clandestina pelo país. Desta vez, o decreto era mais especifico sobre a modalidade feminina.

Relembre

DECRETO-LEI N. 3.199 - DE 14 DE ABRIL DE 1941
CAPÍTULO IX: DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 54. Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.

O fim da proibição só veio no ano de 1979, quando foi revogada a lei que proibia a prática da modalidade no país, mas o futebol feminino continuava sem estímulos dos clubes das federações estaduais. A regulamentação da modalidade só veio em 1983, com isso foi permitido a utilização de estádios, criação de calendários, ensino nas escolas.

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