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Categorias de base no Pará: times que insistem em sonhar

No mês em que é delebrado o Dia do Futebol, O Liberal conta um pouco da realidade das categorias de base paraenses pela lente do time sub-17 do Sport Belém

Igor Wilson

Na beira da recém reformada avenida Rômulo Maiorana, em Belém, garotos com coletes vermelhos driblam cones, vão e vem correndo, concentrados, parecem nem se importar com todos os sons ao redor da movimentada via. A voz de Edmilson Melo, treinador das três categorias de base do Sport Clube Belém, sub-15, 17 e 20 anos, orienta o grupo de adolescentes como se estivesse à frente de um time profissional. “Aqui o que a gente oferece é o aprendizado”, resume ele, ex-jogador, hoje técnico e educador.

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O Sport Belém, fundado há 59 anos, é uma das 21 equipes que disputam atualmente a Copa Pará Sub-17, que já somou oito das onze rodadas da primeira fase. Com três vitórias e cinco derrotas, o tempo parece longe do favoritismo, mas segue competitivo, como tem sido a tônica de sua trajetória recente. Com estrutura mínima, o clube sobrevive pela força de sua base — e pela insistência em participar, mesmo diante de tantas dificuldades, de tudo o que for possível.

A Federação Paraense de Futebol (FPF) oferece duas sessões de treino por semana no Centro Esportivo da Juventude (Ceju). Nos outros dias, o elenco improvisa. Já treinou no Bosque Rodrigues Alves, no recém-inaugurado Parque da Cidade, em campos de periferia e até mesmo entre as árvores, na sombra das mangueiras. É onde se faz o que é possível com o que se tem. "A maior dificuldade é o local para treinar. Mas assim mesmo o Sport Belém está conseguindo sobreviver", conta Edmilson.

Sonho de menino

Boa parte do elenco sub-17 veio do interior do estado. Alguns chegam com chuteiras emprestadas, hospedadas em casas de parentes ou amigos, sustentadas por familiares que torcem de longe. Não há alojamento, nem ajuda de custo. "Ano passado, 90% do nosso time sub-20 era do interior. Esse ano, no sub-17, são 50%. Eles já chegam sabendo que precisam ter onde ficar", explica o treinador. Muitos desistem antes do fim da temporada. Outros persistem.

O clube não tem patrocinador. Sobrevive com o pouco que entra da escolinha de futebol e da colaboração de pais de atletas e sócios abnegados, que ajudam como podem — seja com transporte, lanche, como massagistas ou enfermeiros improvisados. O que se constrói ali é uma rede de apoio feita de esperança.

Entre as vitórias silenciosas está o vice-campeonato da Copa Metropolitana Sub-20 do ano passado. A vaga na Copa São Paulo de Futebol Júnior escapou por pouco, mas veio um prêmio alternativo: disputar a Copa Capital, em Brasília, em dezembro. "Vamos correr atrás de como chegar lá. É tudo pago por eles: alimentação, estadia. Estamos tentando um patrocínio pra alugar um ônibus, vamos conseguir", diz Edmilson.

Realidade

Não se trata de um caso isolado. A precariedade é uma marca persistente no futebol paraense. Nem os gigantes escapam. "Remo e Paysandu, que são os grandes, não oferecem estrutura completa para a base. Imagina o Sport Belém", compara o técnico. Ainda assim, a equipe foi campeã da Copa WAR sub-20 neste ano e ficou em 4º na Super Campeões, que garantiu uma vaga para Brasília.

No elenco, cerca de 30 garotos. No clube, 90 atletas entre as categorias sub-15, sub-17 e sub-20, todos registrados na FPF. Numa conta simples, se cada clube tivesse o mesmo número, seriam quase três mil jovens em busca do mesmo sonho — a maioria sem salário, sem estrutura, sem saber se conseguirá vai conseguir permanecer na capital. Mas todos em campo, treinando, correndo, insistindo.

Edmilson tenta transformar cada treino em uma aula. “O que nós adquirimos como jogadores e com a formação acadêmica que temos, como professores e educadores, é isso que passamos aos atletas”, explica. Os materiais são simples — cones, coletes, bolas. Mas o conteúdo vai além. Há orientações técnicas, conversas sobre carreira, incentivo. O esforço é para que cada treino seja o mais próximo possível da realidade profissional.

A Copa Pará Sub-17 segue, rodada a rodada, como uma espécie de retrato das condições do futebol de base do estado. Não se trata apenas de resultados, mas de permanência. Jogar já é vencer. Neste mês de julho, em que se celebra o Dia do Futebol, a história do Sport Belém é simbólica. É uma lembrança de que, para milhares de jovens paraenses, o futebol ainda é uma possibilidade de um futuro. Mesmo que ele comece na travinha da rua, da piçarra e não ofereça quase nada, precisa ser regado à força de vontade.

No fim do treino, os garotos juntam os cones, calçam seus chinelos, arrumam suas coisas na mochila e atravessam a avenida de volta para casa. Final de semana tem jogo importante.

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