Tomate, café e hortaliças: Frio no Sul e Sudeste pressiona preços de alimentos no Pará

Dependência quase total de outros estados e logística desafiadora tornam o Pará mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas na produção agrícola nacional.

Jéssica Nascimento
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As temperaturas extremas registradas nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, com recordes de frio neste inverno, já começam a afetar o bolso dos paraenses. A produção de alimentos como tomate, café, hortaliças e frutas sofre com o clima adverso, reduz a oferta nacional e encarece os preços no Pará, estado fortemente dependente de mercadorias importadas de outras regiões.

Produção afetada e menos oferta na Ceasa

As alterações no clima, principalmente as frentes frias que atingem estados produtores do Sul e Sudeste, comprometem o desenvolvimento de diversas culturas agrícolas que abastecem o mercado paraense. 

De acordo com Denivaldo Pinheiro, diretor técnico da Ceasa (Central de Abastecimento do Pará), alimentos como cebola, alho, abacate, maçã e cenoura já apresentam queda de oferta na central de abastecimento, o que deve se refletir em aumento nos preços nas próximas semanas.

“Esses produtos são oriundos das regiões mais afetadas pelas mudanças de temperaturas. A diminuição no volume ofertado é perceptível. Nossos permissionários têm buscado alternativas em outras regiões para evitar o desabastecimento, mas os custos acabam sendo repassados ao consumidor”, explica Denivaldo.

Tomate, café e carnes: os mais impactados

Para Everson Costa, supervisor técnico do Dieese/PA ((Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o frio intenso e prolongado no Brasil impacta diretamente a produção de culturas sensíveis, como tomate, banana, milho, trigo, cana-de-açúcar, café, cítricos e hortaliças em geral.

“No Pará, a dependência de fornecimento de alimentos de outros estados é enorme. Temos produtos, como o tomate, em que a dependência chega a quase 100%”, destaca o técnico. 

Ele lembra ainda que o café, produto que teve alta de mais de 50% no primeiro semestre de 2025, é outro exemplo crítico:

“Produzimos café apenas para o consumo doméstico. Toda a demanda maior vem de fora, e a produção nacional está sendo afetada pelas baixas temperaturas. O resultado é um café mais caro e em menor quantidade”.

Clima e logística elevam os preços no Norte

O cenário se agrava no Pará por causa da logística, segundo Costa. Produtos perecíveis saem do Sul e Sudeste em temperaturas baixíssimas e percorrem longas distâncias até chegar ao Norte, enfrentando o calor extremo da região, o que prejudica ainda mais a qualidade dos alimentos e amplia as perdas durante o transporte.

“É uma transição drástica: sai de um frio intenso e chega a um calor de 44 °C à sombra. Isso compromete a integridade de muitos produtos. E quando há perda ou queda de qualidade, a oferta é reduzida e o preço sobe”, analisa Everson Costa.

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Segundo semestre ainda pode trazer novos aumentos

De acordo com a Ceasa/PA, o período entre agosto e outubro pode registrar novos impactos, devido à transição dos fenômenos El Niño e La Niña, que historicamente afetam o ritmo da produção agrícola no Sul, Sudeste e parte do Nordeste — principais fornecedores do Pará.

Com a perspectiva de redução contínua na oferta e sem autossuficiência local, o cenário para os próximos meses é de atenção redobrada.

“Já encerramos o primeiro semestre com aumentos expressivos na cesta básica. Tomate, óleo de soja, café, carnes, frutas e hortaliças tiveram reajustes que chegaram a ultrapassar os 50%, muito acima da inflação. Tudo isso por causa do clima e da nossa forte dependência de outros estados”, conclui o técnico do Dieese.

 

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