Tenho mais de 50 anos e só quero trabalhar: os desafios de quem enfrenta o etarismo

Caracterizado pelo preconceito baseado em estereótipos de idade, o etarismo está entranhado na sociedade. A dificuldade é ainda maior para as mulheres.

Igor Wilson

Envelhecer é um processo inerente à todo tipo de vida existente no planeta, porém, para muitas pessoas, especialmente à medida que avançam em idade após os 50 anos, o preconceito se sente na pele, principalmente no mercado de trabalho. Encontrar emprego torna-se uma tarefa árdua justamente por causa da idade, logo numa sociedade que envelhece cada vez mais. O etarismo, caracterizado pelo preconceito baseado em estereótipos de idade, continua a ser uma pedra no caminho de muita gente que só quer trabalhar.

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Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em janeiro apontam que 16,8% dos brasileiros com mais de 50 anos já se sentiram vítimas de discriminação por estarem envelhecendo. Nas mulheres, essa conta chega mais cedo, em média, a partir dos 37 anos. Minimizar essas barreiras é o desafio para as empresas, pois a expectativa de vida média no Brasil passou a ser de 76,2 anos pós-pandemia segundo a OMS.

Neste contexto e diante do aumento dos casos nos últimos anos, empresas e especialistas em Recursos Humanos debatem a urgência em implantar medidas para combater o etarismo através de conceitos como ‘pluralidade geracional’, não apenas como uma questão de justiça social, mas também como um fator de crescimento e inovação.

Como identificar

image Psicóloga e analista de RH Sênior na Suzano, Jucimara Passos acredita na pluralidade geracional como método mais eficiente no trabalho (Philip Falzer)

Conversamos com Jucimaram Passos, psicóloga e analista de RH Sênior, atuante em recrutamento inclusivo, membro da Diretoria de Educação e Comissão de Diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Pará, que enfatizou a importância de combater o etarismo nas organizações. Segundo ela, o etarismo no trabalho pode acontecer de várias maneiras.

"Esse etarismo pode ser vivenciado de forma explicita ou velada, podendo aparecer em forma de violência psicológica,verbal ou física e traz muitos desafios para o mundo do trabalho, mesmo sendo considerado crime pelo Estatuto do Idoso. Ele está pautado em esteriótipos, vieses inconscientes e falta de conhecimento cristalizados em nossa sociedade”, explica a especialista.

Estratégias

Para Jucimara, investir na diversidade etária traz às empresas uma variedade de perspectivas e experiências que enriquecem o ambiente de trabalho, promovendo a criatividade e a resolução de problemas.

"Buscar incentivar relações intergeracionias gera valor para todos os envolvidos. Campanhas de combate ao etarismo, reconhecimento de vieses inconscientes, provocar representatividade nas campanhas promocionais, mentorias reversas, melhorar beneficios e programas de saúde, criar diálogos intergeracionais são boas práticas saudáveis pra um clima de trabalho transformador. Afinal, podemos ter muitos ganhos com as gerações convivendo entre si, pois trazem, em geral: uns, fidelidade a empresa, comprometimento com o trabalho, maior equilíbrio emocional, enquanto outros trazem a criatividade, a inovação a facilidade tecnológica”, diz Jucimara.

Calvário

Para entender melhor os desafios enfrentados por profissionais mais maduros na busca por emprego, a reportagem do Grupo Liberal procurou indivíduos com mais de 50 anos que enfrentam o etarismo. A técnica em enfermagem Hilma de Almeida, de 56 anos, destacou as dificuldades adicionais que enfrentou devido à sua idade após sair de uma empresa onde trabalhou por 15 anos.

Foram mais de dois anos levando ‘nãos’ na tentativa de se recolocar no mercado de trabalho. No começo, não suspeitava o motivo das recusas, uma vez que possui vasta experiência no setor. No entanto, com o passar do tempo, começou a perceber que sua idade se tornou um entrave para conseguir um trabalho. Sem sucesso no mercado formal, decidiu oferecer serviços de enfermagem, como curativos e aplicação de injeções, em sua residência, em Icoaraci.

"Trabalhei por 15 anos numa empresa e quando saí nunca poderia imaginar que iria ter tanta dificuldade. Fui tentando me colocar no mercado, tentando de tudo, e sempre recebendo não. No começo não imaginava o motivo, mas depois percebi que para o tal do mercado eu já estava ficando velha”, conta a paraense.

Mulheres

Recentes estudos realizados no ano passado pela empresa EY Brasil e Maturi revelaram que, embora 42% das empresas brasileiras de grande porte tenham contratado profissionais com mais de 60 anos nos últimos cinco anos, quase 10% ainda se mostram relutantes em contratar indivíduos nessa faixa etária. Além disso, as vagas afirmativas para pessoas com mais de 50 anos diminuíram em 53% entre 2022 e 2023, conforme observado pelo estudo.

Os dados apresentados demonstraram que mulheres com mais de 50 anos, como Hilma, são particularmente mais afetadas pelo desemprego prolongado. Uma em cada quatro mulheres nessa faixa etária enfrenta desemprego há mais de dois anos, enquanto para os homens a proporção é de 13%. Além disso, negros e pardos são ainda mais impactados, com 37% enfrentando desemprego prolongado.

Outro aspecto relevante revelado pela pesquisa é a diferença nas escolhas de ocupação entre homens e mulheres com mais de 50 anos. Enquanto 20% das mulheres optam por trabalhos autônomos ou freelancer, como Hilma, os homens buscam mais frequentemente vagas como consultores, indicando uma menor presença das mulheres em postos formais de trabalho.

"Não só os profissionais de RH, mas os gestores em geral, precisam urgentemente, contribuir pra que possamos vencer o etarismo. A começar por reconhecer que todos temos, pois ele é o mais presente em todo o mundo.Trabalhando seus vieses inconscientes e olhando além da idade, da experiência ou do currículo técnico, precisamos observar perfil e potencial, assim vamos ser capazes de criar ambientes com equidade , diversidade e inclusão e pertencimento. Todos sairão ganhadores”, explica Jucimara.

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