Taxas sobre importados fazem brasileiros desistirem de compras internacionais

Pesquisa aponta que a desistência aumentou para 66% após aplicação de impostos

Maycon Marte | Especial para O Liberal
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As discussões sobre a taxação de importados nas plataformas de e-commerce como Shein e Aliexpress segue acalorada. Em pesquisa recente do Plano CDE e encomendada pelo Grupo Alibaba, donos da gigante chinesa Aliexpress, dados revelam aumento na desistência dos consumidores brasileiros devido aos impostos sobre os produtos. Segundo o levantamento, o número de desistências em compras internacionais subiu para 66% após a implementação do programa Remessa Conforme.

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O programa do governo federal estabelece um conjunto de regras que antecipa a aplicação de impostos. A principal característica da medida, aplicada desde agosto do último ano,  é taxar o consumo de bens que ultrapassem US$50, ou valor equivalente em outra moeda. As empresas que aderem ao programa recebem isenção de 60% sobre os impostos de importação para pessoa física até esse valor limite.

A pesquisa também destaca que 62% dos consumidores brasileiros entrevistados afirmam que a importação ajuda quem tem menos renda. Em média 56% também apontam a oferta de produtos mais diversificados como um dos benefícios. Este é o caso da estudante paraense, Yris Soares, que costumava comprar nas plataformas de e-commerce pela variedade. “Eu comprei na Shein pelo fato de não achar roupas para o meu tamanho por ser uma pessoa plus size, eu opto por comprar online, mas sempre até R$100 ou R$150 reais”.

Os dados ainda revelam que 45% dos entrevistados não recorreram a outras lojas, seja no mercado internacional ou nacional. A produtora de conteúdo, Ingrid Lima, sempre consumiu ativamente nas plataformas de e-commerce e para contornar a taxação precisou recorrer ao mercado brasileiro novamente. “Eu evitei um pouco mais de comprar, eu tenho comprado por aqui mesmo, tanto aqui no Pará quanto em alguns outros estados do Brasil”, pontua.

A produtora de conteúdo ainda descreve algumas desvantagens entre os diferentes mercados. “Na Shein por exemplo, eu conseguia comprar uma calça de até R$100 reais com um material bom, já aqui no mercado brasileiro a gente não encontra mais calça nesse valor… e se tu encontrar, ela não tem uma durabilidade boa, então acaba que tu paga mais caro por um produto de menor qualidade”, explica a consumidora. Para ela, esperar por ofertas na plataforma ainda é mais vantajoso. “Quando tem oferta relâmpago que eu consigo por exemplo incluir mais produtos que eu sei que vai ter uma boa durabilidade, aí eu me arrisco em comprar”, afirma.

Mais que o dobro

O percentual da taxa também assusta quem já estava habituada em comprar os importados antes dos novos impostos. “Na Shein eu não compro mais de R$100 reais porque eu tenho medo dessa taxa, de vir acima do que eu espero, porque às vezes a taxa ela é acima do valor da compra que nós fizemos”, destaca Ingrid. Ainda enfatiza a preocupação com taxas mesmo quando os produtos já estão em território nacional. “A gente ainda fica naquela apreensão, se quando chegar lá em Curitiba, onde eles fazem esse recebimento dessa carga para poder distribuir para os outros estados… se vai taxar ou não”.

A experiência com as plataformas de e-commerce do fotógrafo e filmmaker de Belém, Roma de Freitas, evidencia o sentimento de insatisfação do público a respeito dos novos impostos. Segundo ele, “o Aliexpress antes das taxas e impostos funcionava muito bem e nós conseguimos comprar algumas coisas isento de taxas”, afirma o consumidor. O fotógrafo relata que as taxas sobre os produtos já aconteciam eventualmente, mas que atualmente qualquer compra acaba sofrendo com os impostos. “Hoje em dia nós compramos com a certeza da taxa, se for um pacote um pouquinho grande já era, é taxa”, relata.

Na sua compra mais recente, o profissional conta que os impostos somaram quase o dobro do valor do produto dentro da plataforma. “Comprei recentemente um kit de mangueiras de moto, ele já veio com o imposto no caso, que é de se eu não me engano, quase que dobrar o valor, ele custava R$400 reais e veio a R$782”. O consumidor não consegue mais enxergar na plataforma a possibilidade de realizar compras por prazer, para ele, “o Aliexpress, é uma plataforma que tu só vai comprar o que tu precisa, antigamente nós comprávamos coisas por comprar mesmo, hoje em dia é só se você precisar muito mesmo comprar por lá”, lamenta.

Análise especializada

Na visão da consultora financeira, Elaine Cardoso, o programa tem uma proposta positiva ao consumidor final, “já que zera uma alíquota que seria de 60%, o que pode impactar diretamente o preço”. No entanto, esclarece que a medida “pode diminuir a competitividade das empresas locais – que já tem no preço uma desvantagem em relação aos marketplaces”. Para a especialista, a falta de competitividade reflete em fatores como “estoque, liquidez de caixa, geração de empregos, novos investimentos, entre outros”.

Ainda enfatiza que têm percebido um  “aquecimento das vendas físicas no mercado local desde o final do ano passado”, decorrentes de fatores como o “pagamento do décimo terceiro e da restituição do IR, as festas de final de ano e uma ligeira melhoria nos índices de empregabilidade no País”. Apesar da avaliação otimista, a consultora pontua que o comércio local possui o desafio de atrair o cliente de volta. “O empresário local precisa ser estratégico e criativo. Lançar cada vez mais promoções, criar combos de produtos que possam agregar valor ao cliente, investir mais em marketing e publicidade e propaganda nas mídias que couberem em seu orçamento e, principalmente, oferecer variedade, customização e comodidade ao consumidor”, explica a especialista.

Em nota, o AliExpress informou que "tem sido receptivo ao diálogo desde o início das discussões e foi uma das primeiras plataformas a ser aceita no Programa Remessa Conforme do Governo Federal. Embora essa medida traga mais transparência ao comércio eletrônico internacional no Brasil, temos observado uma redução significativa nas compras, especialmente de itens acima de US$50, devido ao impacto dos impostos. Isso é evidenciado pela queda de quase 40% nas vendas de sites internacionais em novembro, um mês historicamente movimentado para o varejo. Como parte de nossa estratégia, continuamos investindo na categoria "Do Brasil" para oferecer produtos locais com entrega rápida e sem taxas extras, mas reconhecemos a importância dos produtos importados para consumidores que não têm acesso fácil a certos itens no país. Nesse sentido, avaliamos que a carga tributária de 92% para produtos acima de US$50 está fora do padrão internacional e impacta negativamente os consumidores brasileiros. Por isso, defendemos uma política tributária que atenda aos interesses daqueles que mais precisam: os consumidores brasileiros".

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