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Resíduos domiciliares ajudam cooperativas de Belém a seguir trabalhando

Brasil produz menos resíduos industriais, porém, domicílios salvam a atividade

Natália Mello / O Liberal
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Com a chegada da pandemia e a desaceleração do setor produtivo e das atividades industriais, a preocupação das cooperativas foi sobre como sobreviver sem os grandes geradores de matéria-prima para a garantia da fonte de renda de milhares catadores pelo Brasil. Mas a compensação veio de onde menos se esperava: do lixo produzido dentro dos lares brasileiros. O país registrou, em 2020, um aumento de 10% na geração de resíduos domiciliares e de limpeza urbana, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). E, em Belém, duas cooperativas entrevistadas pelo Grupo O Liberal ratificaram: o faturamento passou a vir de dentro das casas.

Resíduos domiciliares ajudam cooperativas de Belém a seguir trabalhando

O estudo revelou que a alta está diretamente relacionada à pandemia, que levou mais pessoas a trabalharem de casa, concentrando a geração de resíduos fora das áreas comerciais e industriais. As mudanças de hábito durante a pandemia modificaram, ainda, o perfil dos resíduos urbanos. Foi registrado um acréscimo médio de 25% na quantidade de materiais recicláveis coletados, relacionado ao aumento das compras pela internet, que existem mais embalagens para o envio dos produtos.
O balanço, divulgado no fim de 2020, mostra que, em 2019, a média per capita do país era de 379,1 quilos de resíduos sólidos gerados por ano. Já em 2010, cada indivíduo produzia em média 348,3 quilos de resíduos anualmente. 

Portas abertas

A presidente da Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), Débora Baia, afirma que a queda na coleta foi sentida com muita intensidade pelos colaboradores, devido às indústrias que tiveram que fechar as portas, mas que perceberam o aumento dos resíduos produzidos nas residências.
“Principalmente das embalagens plásticas que são consumidas nas residências. Temos roteiros porta a porta em condomínios, residências, e percebemos esse aumento e foi o que manteve a cooperativa nesse período de pandemia. O que manteve a gente aberto foi a necessidade dos colegas e a necessidade de atender a população. Foi o que manteve a renda dos catadores”, explicou.
Formada em gestão ambiental, Débora viu no mercado dos resíduos uma oportunidade de trabalhar e de obter renda, e hoje não se arrepende de ter seguido os passos de uma tia próxima. Há 9 anos na cooperativa, localizada bem no meio da cidade, no bairro do Jurunas, ela conta que a organização existe há 16 anos e hoje conta com 38 catadores trabalhando. Embora o faturamento tenha sido reduzido em 2020, chegando a cair em torno de 30%, a entidade começou a se reerguer a partir do mês de fevereiro deste ano, quando recuperou cerca de 15% da renda obtida por cada um dos catadores.
“Antes da pandemia, cada cooperado nosso tirava em torno de R$ 1.400 a R$ 1.500. Em dezembro e janeiro perdemos muito em termos de faturamento e caímos para uma produção de mil reais. Aí começou fevereiro e de lá em diante conseguimos estabilizar em torno de R$ 1.200, um pouco acima do salário-mínimo para cada catador”, relata. Atualmente, a Concaves atua com a coleta seletiva nos bairros de Nazaré, Umarizal, Terra Firme, Guamá, e parcialmente em São Brás, Reduto, Cremação, Caripunas.

Icoaraci

A diretora financeira da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis Visão Pioneira de Icoaraci (Cocavip), Nádia Gomes, usa um verbo ainda mais forte para dar significado ao que os lares belenenses, mais precisamente localizados no distrito de Icoaraci, foram responsáveis: salvar. Para ela, foi a proximidade com a população e a necessidade de união que permitiu que muitos catadores não viessem a passar fome.
“Foi o que salvou e aumentou o fluxo da matéria-prima. Nos unimos a moradores mais próximos de nós. Temos um projeto hoje que, inclusive, eles vêm trazer o resíduo aqui. Engraçado, porque o distanciamento que ajudou a nos ajudarmos. E, além de irmos até os conjuntos habitacionais e condomínios, eles vieram até o nosso espaço. Era até uma forma de sair de casa, porque o nosso serviço era essencial. Aí fizemos uma ligação com esse morador que produz o resíduo”, conta.
Um item que apresentou queda na geração foi o plástico filme colorido, hoje com menos 15 toneladas de produção por mês, tudo devido ao fechamento de algumas indústrias. Segundo Nádia, com a alta do dólar, tudo passou a ser vendido por um valor menor. “Perdemos 50% na venda dessa matéria-prima que coletamos. Mas hoje temos 84 colaboradores e, se juntar aos que estão na nossa porta, mas não registramos porque o estatuto não permite, somos 300. E conseguimos ficar de portas abertas”.
Há 11 anos atuando com a coletiva de resíduos, hoje a cooperativa contabiliza 40 toneladas de resíduo domiciliar de 55 toneladas produzidas – ou seja, os lares representam mais de 70% desse faturamento. Mas a estrada de Nádia com a “catação” é ainda mais longa. São 35 anos atuando com a coleta de resíduos, de onde ela mesma afirma ter tirado forças para viver e sustentar os quatro filhos sozinha. “Eu mantenho tudo sozinha e agradeço muito a oportunidade de poder viver disso”, finaliza.

A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informa que a média da coleta de resíduos sólidos no município de Belém é de 30 mil toneladas por mês, e que não foi constatado aumento por conta da pandemia do novo coronavírus. Por outro lado, foi percebido um aumento na quantidade de entulhos coletados pela Sesan, que saltou este ano de 2021 de uma média de 19 mil para 25 mil toneladas todo mês. A Secretaria acredita que o aumento se deu pelo combate aos pontos críticos de descarte de entulhos e as campanhas de educação ambiental, que têm implantado nesses bairros juntamente com a ação dos agentes de fiscalização. A Sesan informa também, que atualmente mantém parceria com 12 cooperativas em Belém e uma na ilha de Mosqueiro.

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