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Projetos dão oportunidade e acesso à educação aos moradores de periferias de Belém

Um deles é a Rede Emancipa, que tem atuação na capital e em Ananindeua e é um movimento social de educação popular

Elisa Vaz

A cada 28 de abril é celebrado o Dia da Educação. Embora seja estabelecida pela Constituição como um dever do Estado, ela não é garantida a todos os brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, havia 11,3 milhões de pessoas com 15 anos ou mais ainda não alfabetizadas, uma taxa de 6,8%. E apesar da proporção de pessoas de 25 anos ou mais com ensino médio completo ter crescido no país, passando de 45% em 2016 para 48,8% em 2019, mais da metade (51,2% ou 69,5 milhões) deles não concluíram essa etapa educacional. Isso mostra que o sistema público não está perto de universalizar o atendimento e atender às necessidades educacionais da população.

Por conta desses dados, para auxiliar quem não tem acesso aos meios tradicionais de educação, há diversos projetos sociais que atendem pessoas de todas as idades. A Rede Emancipa tem atuação em Belém e em Ananindeua e é um movimento social de educação popular, sendo também um programa de extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA), vinculado ao Instituto de Ciências da Educação (Iced).

Como extensão, o grupo já existe desde 2015, com o principal objetivo de desenvolver uma proposta ampla de educação para populações periféricas de Belém e Ananindeua. “A proposta se concretiza por meio da oferta de turmas de cursinhos populares em diferentes bairros, com aulas e debates das disciplinas e componentes curriculares dos programas oficiais do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para que adolescentes, jovens e adultos pobres e oriundos de escolas públicas possam concorrer com maiores possibilidades de sucesso nos referidos processos”, explica a coordenadora do projeto, professora Lúcia Isabel Silva.

Segundo ela, não se tratam apenas de aulas sobre os conteúdos do exame, mas o trabalho também se realiza por meio de ações que visem a ampliar o acesso de jovens e adultos provenientes de classes sociais de baixa renda à educação pública superior, de forma a pensar a educação como direito humano e como instrumento de emancipação de sujeitos e de democratização da sociedade, já que é base para acesso a outros direitos.

“A Rede Emancipa pretende contribuir para diminuir as distâncias entre as classes mais pobres e a universidade brasileira, de forma que jovens das periferias rurais e urbanas possam ingressar nas universidades, compartilhar e se apropriar do conhecimento aí desenvolvido e transformá-lo, dentro e fora deste espaço. Trabalhamos, assim, para além dos conteúdos escolares ou da matriz do Enem, mas buscando a formação de sujeitos comprometidos com a superação das desigualdades sociais. É um processo coletivo de luta pelo direito à educação. É esta formação ampla que trabalhamos nos cursinhos”, conta Lúcia.

Atualmente, o projeto tem turmas e unidades, sendo que duas funcionam no prédio do Instituto de Educação da UFPA, em Belém, e as demais nos bairros da Vila da Barca, Fátima, Benguí e Marambaia e em Ananindeua. As turmas funcionam em parceria com organizações sociais em cada um desses locais. De forma geral, o programa envolve cerca de 450 pessoas como estudantes e aproximadamente 100 docentes – todos voluntários, sendo a maioria estudantes de cursos de graduação ou pós-graduação da UFPA e outras universidades. São cerca de 150 pessoas, se forem contadas as equipes de coordenação e de unidades e de apoio psicossocial.

Além das aulas, a metodologia inclui debates de questões contemporâneas, aulas interdisciplinares e visitas guiadas com debates em diferentes espaços da cidade, e os alunos também participam de diversas atividades e eventos acadêmicos, culturais e políticos realizados na universidade e demais espaços.

“Atuamos também como processo de iniciação à docência, realizando acompanhamento e um processo sistemático de formação continuada com os estudantes de graduação que atuam como professores nas turmas. Já comemoramos dezenas de aprovações em universidades no Pará e em outros estados do Brasil”, diz a coordenadora.

O grande objetivo é que todos tenham acesso à educação, que é um direito básico e fundamental para acesso a outros direitos. Como prática e espaço de educação popular, o projeto se fundamenta em conceitos interdisciplinares, considerando os sujeitos envolvidos como inseridos em um contexto complexo e dinâmico de conflitos sociais. Neste trabalho, a conscientização e o diálogo assumem lugar de protagonistas, para transformar os sujeitos e reafirmar o papel da educação popular para pensar outras lógicas educativas e transformação social e pessoal.

Outro projeto social que segue uma linha parecida é o “UniTodos: da periferia à universidade pública”, que busca dar mais oportunidades a quem deseja ingressar em um curso de graduação, oferecendo aulas preparatórias gratuitas aos vestibulandos. O grupo é direcionado a alunos de escola pública que cursam o ensino médio no bairro da Pratinha e do entorno, em Belém, e é organizado por acadêmicos de diversos cursos da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A iniciativa começou em 2019, a partir da dificuldade de ingresso no ensino superior, do déficit na educação pública no nível médio e dos altos índices de reprovação e evasão escolar, principalmente da região Norte. Segundo a organização, a primeira atividade realizada pelo projeto foi em outubro, em uma aula de revisão para o Enem, em parceria com Escola Estadual Clube de Mães Sagrada Família, que cedeu espaço da sala de aula. Hoje, são nove coordenadoras, 31 colaboradores de coordenação e 29 professores.

"Ano passado, fizemos as inscrições dos alunos que atenderíamos em 2020 e limitamos a 35 vagas por turma, para as aulas do cursinho, que começariam em março. Com a pandemia, até agora, não conseguimos fazer atividades presenciais, com exceção do aulão antes do último Enem. Nossa estratégia é diferente, com 30 alunos por turma, porque temos que evitar aglomerações e manter distanciamento. Nesses dois meses de fevereiro e março, que a pandemia ficou mais intensa, não fizemos ainda as inscrições dos novos alunos", explica Alina Ferreira, uma das coordenadoras.

Segundo ela, o principal intuito do UniTodos é desenvolver ações educacionais para as populações. Toda a atuação do UniTodos tem o apoio de estudantes de graduação das áreas do Enem e professores já graduados, possibilitando uma troca de aprendizado entre todos os participantes. Uma das finalidades é atingir ainda mais estudantes secundaristas da rede pública de ensino impactados com a execução do projeto. A metodologia de ensino conta com aulas de matemática, biologia, história, geografia, redação e educação física, além de apostilas de exercícios e treinamentos.

Mas, além da estrutura de cursinho aos fins de semana, com a organização de aulas com professores capacitados e o fornecimento de materiais, o projeto também auxilia em outras iniciativas da comunidade, que já existem, como doações de roupas, alimentos e diversas campanhas que forem surgindo.

Outra ação é o programa de apadrinhamento, que foi inspirado em outros projetos. "A ideia é que as inscrições dos alunos que estão em situação de vulnerabilidade econômica e não têm isenção sejam custeadas por quem pode. Em 2020, quando a campanha foi implementada, conseguimos mais de 90 candidatos aptos a custear inscrições. Então, a maioria dos estudantes conseguiu a isenção, e os que não conseguiram receberam o pagamento da inscrição", conta Anelise Trindade, outra coordenadora.

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