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Produção de cacau no Pará avança com benefícios socioambientais

Agregação de valor a partir do emprego da mão de obra local e da preservação ambiental é tendência do segmento

Fabrício Queiroz

A cacauicultura desponta como uma das principais atividades para a economia paraense. Atualmente, o estado lidera a produção nacional do fruto, contribuindo com 96% da produção da região Norte. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram 270 mil toneladas de amêndoas de cacau produzidas entre 2020 e 2021. Mais da metade desse total veio de terras paraenses, onde o volume alcançado foi de cerca de 145 mil toneladas.

Além da importância que o cacau tem ganhado no campo e na economia paraense, o fruto se destaca por ser também um promotor de práticas de recuperação do solo e conservação ambiental, bem como de geração de emprego e renda entre a população, amplificando seus benefícios sociais. Um estudo desenvolvido por um conjunto de pesquisadores liderados pelo engenheiro agrônomo e pós-doutor em geografia Adriano Venturieri, da Embrapa Amazônia Oriental, mostrou que a produção tem se expandido de forma sustentável pela região.

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Com base em imagens de satélite obtidas junto ao Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), ao projeto de Mapeamento do Uso da Terra na Amazônia (TerraClass) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR) aliados a estudos de campo, a pesquisa mapeou o avanço da área cultivada em todo o estado, evidenciando a representatividade dessa cultura principalmente para os municípios das regiões da Transamazônica, do sudeste, do nordeste e do Baixo Tocantins. O principal destaque é o município de Medicilândia, que detém mais de um terço da produção do estado.

Os dados indicam que até 2019 haviam cerca de 70 mil hectares no estado, porém com a continuidade do trabalho foi possível acompanhar a evolução dessa área, que alcançou 90 mil hectares em 2021, o que representa um incremento de quase 30% no período analisado. O avanço em si já é um dado relevante da pesquisa, porém ela contribuiu ainda para demonstrar que a cacauicultura não é um agente motivador de desmatamento, ou seja, a atividade permite o aproveitamento de áreas que já sofreram com intervenção humana, dando finalidade produtiva a elas.

“O que gente viu é que está ocorrendo a expansão do cacau em áreas já abertas ou com pastagens ora degradadas e, com essa expansão, reduz a prática do uso do fogo para limpeza de área. Com isso, se fixa carbono e se deixa de emitir gases do efeito estufa”, afirma Venturieri, destacando ainda que grande parte da produção se dá em sistemas agroflorestais (SAF), isto é, mantendo culturas diversas em consórcio em integração com a floresta. Dessa forma, se mantem a cobertura florestal e se favorece a recuperação do solo e a prestação de serviços ecossistemicos.

image O pesquisador Adriano Venturieri defende permanência do modelo de expansão da cacaicultura por meio de sistemas agroflorestais (Igor Mota / O Liberal)

Apesar dos indicadores favoráveis para o segmento, Adriano Venturieri alerta que tem notado a investida de produtores para cultivos a pleno sol, ou seja, fora do padrão do SAF, apostando em monocultivos e no aumento de produção a curto prazo. “Esse modelo de expansão do cacau em cima de áreas degradadas é um excelente modelo e muito melhor se for em sistemas agroflorestais porque se restaura um pouco daquele prejuízo ambiental, então vai ter uma restauração produtiva, mas também o produtor vai ter uma renda em benefício dele e da familia”, defende o pesquisador.

Produtores investem em verticalização do fruto

Outro fator que tem beneficiado a cadeia produtiva da cacau no Pará são os projetos para agregação de valor focados nos aspectos diferenciais do fruto nativo. Essa é um filão de alguns empreendedores locais que viram na grande variedade e disponibilidade de amêndoas uma oportunidade para criar negócios com atrativos amazônicos.

Esse é o caso do chocolatier César de Mendes, mestre em quimica de produtos naturais e tecnologia de alimentos que desde 2005 acompanha o desenvolvimento do setor. Inicialmente, Mendes atuava como consultor técnico e viu de perto a expansão da cacaicultura na região da Transamazônica. “De lá para cá houve muita mudança, há uma consolidação de investimentos por parte do Governo do Estado quer seja na doação de sementes, quer seja no apoio técnico, na formação de mão de obra, oficinas continuadas na área de produção e outras medidas”, avalia.

Anos mais tarde, ele esteve a fundou a primeira fábrica de chocolates do estado, vendeu o negócio e passou a trabalhar em parceria com comunidades ribeirinhas e quilombolas estabelecidas no município de Santa Bárbara, na região metropolitana de Belém. A proposta visa oferecer ao mercado o chamado chocolate de origem, em que se busca mais do que um produto, mas uma experiência de sabor e cultura.

“O diferencial é que esse chocolate oferece uma complexidade sensorial maior. O chocolate fino é uma vertente de nicho. O cacau é sempre uma commodity, mas a gente vê o cacau pelas suas nuances, a forma como ele é plantado ou até pré-processado ou colhido e tem também o aspecto geográfico e das pessoas que estão envolvidas naquela cadeia”, conta De Mendes, que atualmente produz até 600 kg de chocolate por mês, com a colaboração de cerca de 10 mil pessoas de 71 comundades do estado.

“O impacto social é bastante grande porque você afeta muitas pessoas dentro da cadeia. São pessoas que ajudam na colheita, no trato, no manejo, no transporte, etc. É um impacto positivo e que dá um retorno para pessoas que vivem às vezes até em situação de vulnerabilidade social”, ressalta o chocolatier.

Neste mesmo segmento, outro nome de destaque é de Izete dos Santos Costa, mais conhecida como Dona Nena, que chamou atenção de chefs renomados nacionalmente pelo chocolates orgânicos oriundos da ilha do Combu. “Nós trabalhamos com um cacau de várzea, que é rodeado por outras culturas sazonas e especiais, que ajudam a formar os sabores diferentes daquele cacau da terra firme”, pontua a produtora que atualmente toca uma empresa focada tanto na oferta de produtos como nibs, cacau em pó e barras rusticas quanto experiências de turismo criativo. O resultado tem se materializado em reconhecimento e em geração de emprego e renda para a comunidade local.

Para Nena, que iniciou no ramo há mais de 20 anos, é gratificante ver a valorização crescente da cacaicultura no Pará. “O preço melhorou ao longo desse tempo e com isso estimulou muitas pessoas a fazer o cultivo do cacau como forma de geração de renda, mas também de reflorestamento e de agregação de valor dentro das propriedades”, avalia a empreendedora que planeja implantar um café na ilha, mas sem perder de vista o que lhe fez conquistar o mercado. “Não pretendemos trabalhar em escala. Quero manter o foco na qualidade do produto”, frisa.

Principais regiões produtoras de cacau no Pará 

  • Medicilândia (34.7%)
  • Uruará (13.5%)
  • Anapu (6.7%)
  • Brasil Novo (6.2%)
  • Placas (6.02%)
  • Altamira (5.22%)
  • Vitória do Xingú (4.04%)
  • Senador José Porfírio (3.61%)
  • Tucumã (2.85%)
  • Pacajá (2.76%) 

(Fonte: Embrapa Amazônia Oriental)

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