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Por que a Geração Z muda tanto de trabalho? 40% dos jovens trocaram o emprego no último ano

Entenda o fenômeno ‘office frogging’ ou ‘sapos de escritório’; confira as dicas de especialistas

Eva Pires | Especial para O Liberal
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Trocar de emprego com frequência se tornou uma marca das carreiras modernas, sobretudo entre os mais jovens. Enquanto as organizações buscam formas de reter talentos, a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) segue impondo um novo ritmo ao mercado de trabalho. Segundo levantamento da LCA Consultores, 40% dos trabalhadores com até 29 anos mudaram de emprego no último ano. O dado é um retrato do fenômeno apelidado de office frogging ou “sapos de escritório”, comportamento em que profissionais saltam de um emprego para outro em busca de melhores condições, como salários maiores, flexibilidade, boa liderança e menor estresse. Para a psicóloga Érika Jiménez, essa troca também significa uma estratégia de crescimento profissional e qualidade de vida.

O cenário não é isolado. Ainda de acordo com a LCA Consultores, a rotatividade geral no mercado formal brasileiro atingiu 36% em 2025, recorde no pós-pandemia. Em 2020, antes do avanço do trabalho remoto e da digitalização acelerada, a taxa era de 25%. Entre jovens de 18 a 24 anos, chega a 41%, e entre adolescentes de até 17 anos, alcança 42%, praticamente o dobro do registrado antes da crise sanitária.

Além da alta frequência de trocas, estudos mostram que a permanência da Geração Z nos empregos é significativamente menor que a das gerações anteriores. Um levantamento da plataforma Gupy aponta que jovens entre 18 e 24 anos ficam em média nove meses na mesma empresa. Já pesquisa da Talent Academy revela que profissionais da geração Y (30 a 40 anos) são os que mais tempo permanecem em um emprego, com taxa média de retenção de 9,4 numa escala de 1 a 10. Baby boomers alcançam 8,6 pontos, a geração X 7,7, e a geração Z possui o menor índice: 6,7 pontos.

Por que a Geração Z muda tanto?

Para entender esse comportamento, Érika Jiménez explica que a mudança mais frequente de emprego precisa ser avaliada a partir de múltiplos fatores, como maior instabilidade econômica, maior competitividade profissional, busca por melhores salários e condições de trabalho, priorização de qualidade de vida para além da rotina de trabalho, mudanças nos perfis familiares, contextos de exclusão social decorrentes de raça, gênero, sexualidade e capacitismo, além do surgimento e oferta de empregos e serviços inovadores.

image Psicóloga Érika Jiménez (@erikajimenez.psi) (Foto: arquivo pessoal)

Já Adriana Agnes, psicóloga e especialista em comportamento organizacional, destaca que a digitalização moldou o comportamento da geração mais jovem. “A Geração Z é a primeira geração verdadeiramente nativa digital, tendo os dispositivos tecnológicos como parte inerente de suas vidas desde o nascimento. Isso molda a percepção de tempo, recompensa e esforço”, afirma.

Segundo ela, essa geração cresceu em um contexto de imediatismo, diferente das gerações anteriores, em que a espera era parte inevitável da rotina. Hábitos como aguardar fotos revelarem, escrever cartas e esperar o episódio semanal da série preferida não fizeram parte da rotina desse grupo. “Esse horizonte de espera reduzido pode diminuir a tolerância à frustração e a paciência”, explica.

A facilidade de acesso a novas oportunidades via tecnologia também incentiva a mudança constante: as plataformas de vagas, entrevistas online e trabalhos remotos reduziram o custo psicológico e logístico da troca de emprego, que antes exigia redes de contato físicas e mais tempo.

Saúde mental, crescimento profissional e impacto nas empresas

Adriana destaca que a Geração Z se caracteriza pela preocupação com a saúde mental e pela busca por trabalhos que estejam alinhados aos valores, oferecendo um ambiente favorável ao desenvolvimento de competências e ao crescimento acelerado. Diferentemente das gerações anteriores, eles não toleram ambientes de trabalho desrespeitosos, onde a pressão por resultados financeiros se sobrepõe ao cuidado com a saúde psicológica dos colaboradores.

Além disso, eles têm expectativas elevadas em relação à liderança, esperando feedbacks constantes — e não apenas a cada seis meses — e planos concretos que apoiem o desenvolvimento profissional dentro da empresa.

A professora de Recursos Humanos Márcia Bentes observa que a alta rotatividade já é perceptível nas empresas brasileiras. “Pode impactar na produtividade, nos custos e também no clima organizacional, já que não é um time que vestiu a camisa e ficou sólido”, pondera. Ela defende que as empresas devem apostar em políticas motivadoras e de valorização, fortalecendo liderança e relações interpessoais. "É importante criar um ambiente onde as pessoas se sintam valorizadas e tenham sensação de pertencimento", orienta.

image Márcia Bentes (Foto: arquivo pessoal)

Alerta: até onde a mudança é saudável?

Para os jovens, a busca constante por novos desafios é também uma forma de desenvolver carreira. Pesquisa da Monster revela que 80% da Geração Z acreditam que mudar de trabalho é fundamental para crescer profissionalmente. Porém, especialistas alertam para riscos dessa prática.

Segundo Érika, a exposição a diferentes ambientes de trabalho pode fortalecer habilidades de aprendizagem e adaptação, além da construção da autonomia e autoestima, mas também pode desencadear quadros de ansiedade em momentos de transição.

A pressão social por realização profissional é outro fator presente. Érika observa que muitos jovens se sentem impulsionados a melhorar renda e qualidade de vida, comparando a trajetória à de familiares e colegas. “Isso se conecta com a busca por propósito, entendido como aquilo que ‘faz sentido’ para cada indivíduo”, afirma.

Adriana alerta para o lado emocional dessa busca incessante: “Essa busca pode ser saudável quando vem do desejo genuíno de aprender e crescer, porque ativa curiosidade, sensação de progresso e propósito. Contudo, quando ela é movida pela pressa de chegar logo a algum lugar ou pelo medo de ficar para trás, tende a gerar ansiedade, autocrítica e sensação crônica de insuficiência”.

Está pensando em mudar de emprego? Especialistas dão dicas

Sobre estratégias para quem sente necessidade constante de mudança, as especialistas recomendam uma avaliação cuidadosa. “Pode ser importante avaliar o desejo de mudança e o que o motiva, tentando diferenciar incômodos pontuais (que fazem parte de qualquer trabalho) e incômodos recorrentes (insatisfação com as condições de trabalho e remuneração)”, orienta Érika.

Adriana reforça: “Vale conversar com quem pode abrir caminhos dentro da própria empresa e buscar novos desafios ali, em vez de trocar de lugar de imediato. E, se a decisão for pela mudança, é essencial manter uma narrativa coerente da própria trajetória, mostrando aprendizado e evolução em cada experiência. Isso ajudará nas entrevistas para outras vagas. E, não esqueça de cuidar da sua rede de relacionamentos e das referências profissionais, porque isso sustenta credibilidade mesmo com mudanças mais frequentes”, aconselha.

Por fim, ela ressalta que crescer leva tempo e que não apreciar todas as atividades desempenhadas, assim como atravessar fases menos empolgantes, faz parte da construção de uma trajetória profissional sólida.

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