Paraenses concordam com regulamentação de apostas eletrônicas, mas têm receios
Tributarista afirma que atividade ficará mais cara, e apostadores estão temerosos quanto à burocracia que pode passar a existir no mercado

Quem trabalha com apostas eletrônicas ou vê na modalidade uma renda extra no final do mês pode ser afetado com mudanças que devem ocorrer na legislação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a falar sobre a intenção do governo de taxar o mercado de apostas eletrônicas em Medida Provisória (MP) que deve sair depois de viagem à China, prevista para o fim de março. Ainda está em avaliação qual será a alíquota do tributo a ser cobrado das empresas, mas, provavelmente, diz o ministro, será um tipo de contribuição.
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Segundo o advogado da área tributária Jimmy do Carmo, já existem pelo menos dois Projetos de Lei (PL) no Senado para inserção em pauta: o 202/2019, que trata sobre os jogos online, com a tributação dos e-games, e o 845/2023, de regulamentação da modalidade denominada apostas de quota fixa.
“Tanto o Legislativo como o Executivo pretendem tributar jogos e apostas online. Sendo uma atividade cujo fato gerador incide na legislação, eu me filio à possibilidade da tributação, uma vez que as expressões econômicas dos valores envolvidos com e-games e apostas online são significativas atualmente”, opina.
A tributação, segundo Jimmy é um custo previsível de qualquer atividade econômica, então ter em vista a maior carga tributária sobre atividades de apostas online, provavelmente, fará as administradoras das plataformas de games e apostas online capturarem esse novo custo, e elas deverão incluir isso na formação de preço, como uma taxa de administração ou assinatura, por exemplo. Portanto, a expectativa é de que a atividade encareça para os usuários das plataformas e os consumidores desse tipo de produto.
Para o governo, o tributarista afirma que a arrecadação se tornará uma receita recorrente para cooperar junto ao orçamento público da União, disponibilizando maior capacidade de investimento ao Executivo federal. “Com certeza, isso provocará um incremento e uma folga aos cofres públicos”, adianta.
Impacto
Dois anos atrás, o servidor público Alex Mafra, de 34 anos, começou a apostar mais efetivamente, depois de pelo menos dois anos tendo uma prática menos regular nesse mercado. O que motivou ele a tornar as apostas mais frequentes foi a possibilidade de garantir uma renda extra no final do mês.
“Inicialmente eu apostava de maneira amadora, sem a devida orientação, mas acabava jogando dinheiro fora. Depois, eu comecei a me profissionalizar um pouco, estudar o mercado, entrar em alguns grupos de apostas personalizadas e comecei a ter melhores resultados”, lembra.
Na opinião dele, por se tratar de um mercado em que muito dinheiro circula e que tem uma movimentação financeira alta, mas sem a devida contribuição por parte das empresas, a motivação do governo pode estar correta. Por outro lado, Alex acha que apostar vai se tornar um serviço mais caro e burocrático.
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“Teremos mais dificuldades com relação a valores, com a diminuição do índice de rentabilidade em cima dos ganhos, e eu acredito que cabe a discussão e mais estudo, para que seja dialogado de maneira consensual entre o governo e os empresários. A classe que faz o mercado girar somos nós, os apostadores”, enfatiza.
O engenheiro civil Caio Campos, de 29 anos, também já aposta há algum tempo, mas, diferente de Alex, largou a profissão para trabalhar com as apostas esportivas - hoje é dono da Movxtips, empresa de consultoria para apostadores. A primeira vez que Caio “jogou” foi em 2017, para acessar uma renda a mais, complementar ao seu salário, mas ele começou a se profissionalizar um ano depois.
“O que me motivou foi gostar do mercado de esporte e entender que isso poderia gerar uma renda extra, porque eu via algumas pessoas fazendo isso, e eu tinha a ambição de querer ganhar uma grana em cima daquilo que eu já gosto, na modalidade de apostas esportivas. Comecei a trabalhar, estudando antes, e fui vendo que ganhava bastante grana, mais do que com meu trabalho, e acabei largando minha profissão e virou minha única fonte de renda. Já são mais ou menos quatro anos vivendo só disso”, conta o profissional.
Embora Caio tenha experiência com outras áreas das apostas eletrônicas, o foco de sua empresa é o esporte, mais especificamente o futebol. Hoje, ele tem um grupo onde vende seu serviço de análise para outras pessoas em forma de assinatura mensal, trimestral, semestral ou anual. “Essas pessoas meio que compartilham das minhas entradas e compartilham dos meus ganhos relacionados às entradas que eu faço”, explica.
O especialista do mercado tem acompanhado as discussões a respeito da taxação da atividade, mas confessa estar indeciso sobre o que a MP trará de mudança. “Eu não sei se vem um texto muito conservador, que vai empurrar o imposto para a mão de quem aposta, ou se vai dificultar nosso acesso às apostas em si. Hoje não é regulamentado, mas é legalizado. Daí, a gente consegue ter um acesso, mas tem também alguns problemas do mercado, muita gente consegue burlar o sistema, fazer acordos com os jogadores, então eu concordo com a regulamentação”, argumenta.
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