Para formar atletas é preciso, além de trabalho, muito investimento
Uma cadeira de rodas espacial para basquete pode chegar a R$ 15 mil

Mais do que determinação, é preciso muito dinheiro e investimento para ser atleta no Brasil. Rildo Saldanha sabe bem como é isso. Ele começou no esporte aos 15 anos, no time de basquetebol All Star Rodas, de Belém.
"Antes disso, não sabia que existia esporte para pessoas com deficiência. Em 2004, em um circuito de atletismo, o treinador Caju estava lá e me fez o convite para conhecer o clube, o esporte e, desde então, não parei. ingressei no basquete e no atletismo. Hoje, graças a deus, o All Star Rodas cede o material para o atleta usar, completo. É uma benção. Mas o começo sempre é muito difícil", lembra.
Enquanto muitos atletas vivem a expectativa da Paralimpíada de Tóquio, que começam na terça-feira, 24, Rildo espera uma escalação definitiva da seleção brasileira que irá disputar o Campeonato Sul-americano de Basquete em Cadeira de Rodas, para a qual ele já foi pré-convocado.
Ele relata que os preços das cadeiras de rodas especiais para a prática de esportes vão de cinco a quinze mil reais. Já o eixo da cadeira pode custar duzentos reais.
"Mais do que o equipamento, temos gastos com alimentação, algumas situações também com passagem e hospedagem. O incentivo privado aqui no Estado é pequeno, quase não existe. O que ajuda a manter os atletas é o Estado, que é o que supre as necessidades, além da parceria do time com o Banco da Amazônia", destaca.
Carreira
Rildo lembra que é preciso gostar muito de um esporte para seguir carreira nele, já que o retorno financeiro não é garantido no curso prazo. A excelência na prática esportiva lhe rendeu uma bolsa para uma faculdade, onde ele cursa administração.
“No Pará, a chance é de que o esporte possa abrir as portas, como foi o caso da faculdade para mim. Minha família apoiou financeiramente no começo e ajuda até hoje, mas como os resultados demoram um pouco para vir, é difícil. Hoje, no Pará, não dá para se manter somente com a vida de atleta. Mas todo sonho nunca é fácil no começo. Mas, se você quer viver isso, se dedicar, acho que no final você vai cumprir o seu objetivo", aconselha.
Os custos também são elevados, claro, para quem não é paratleta. Flávia Pimentel começou a praticar skate em 2018, mas somente graças ao amigo Lucas, que emprestou um para ela.
"Demorei para juntar dinheiro e comprar um. Aparecia algo imprevisto e eu gastava do dinheiro do skate que custou 200 reais na época. Hoje deve estar mais caro. E sou uma praticante, não uma atleta que compete e tudo mais. Esses preços desmotivam qualquer um", lamenta.
Trabalho duro
Muitos atletas conquistam patrocínios ao longo da carreira, o que ajuda muito quem depende do esporte para viver. O treinador do All Star Rodas, Wilson Caju, lembra que a melhor maneira de um esportista ou de um time, seja paralímpico ou não, é trabalhar duro para mostrar resultados.
"O primeiro passo é apresentar um projeto que mostre qualidade e para que acreditem no projeto. Os custos de modalidades como basquete e atletismo são altos. Pode chegar a 15 mil reais uma cadeira do basquete, 35 mil, próteses específica para atletismo. Já pensou?", diz.
Ele conta com a ajuda do governo do Pará e do Banco da Amazônia, mas relata que a pandemia reduziu os incentivos por conta do cancelamento de diversas competições e campeonatos.
"Estamos no escuro, sem saber do futuro das competições mais importantes. A pandemia quebrou muito a gente. E tudo aumentou de preço, né? Pneu, roda, raio. O pneu de R$ 180 passou pra 450 reais. Seria bom para nós se o governo federal tirasse os impostos do material esportivo. Nos Estados Unidos você consegue comprar uma cadeira de rodas por quatro mil reais e voltar nela sentado no avião. É muito mais barato", afirma.
Bolsa
Além das questões financeiras, ele lamenta a falta de política públicas no Brasil para incentivar a prática esportiva de maneira direcionada para crianças e adolescentes.
"O resultado disso é o nosso Estado estar apagado no esporte, por exemplo. Antigamente, tínhamos grandes nomes de projeção internacional, mas é difícil. A maioria são pessoas carentes e atendidas por bolsas, mas os recursos da bolsa acabam virando parte do orçamento familiar para o dia a dia mesmo, que é a prioridade, em vez de ajudar na capacitação deles, treinamento", conta.
Campeões de impostos do esporte brasileiro
Skate - 52,78% (ouro)
Bola de futebol - 48,49% (prata)
Prancha de surfe - 43,65% (bronze)
Fonte: Associação Comercial de São Paulo
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