Pará e Maranhão têm seguro-defeso com 49 mil pescadores em cidades sem produção de peixe, aponta TCU

Auditoria do TCU revela que municípios do Pará têm números altos de pescadores registrados, enquanto a produção de peixe é mínima.

Jéssica Nascimento
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Uma auditoria preliminar do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que 43 cidades nos estados do Maranhão e Pará, com nenhuma produção registrada de peixe, têm 49 mil supostos pescadores cadastrados no Ministério da Pesca. Os dados foram revelados em uma reportagem exclusiva do Uol. A irregularidade é mais grave com o pagamento do seguro-defeso. Destes, 25 mil receberam em 2024 seguro-defeso, benefício pago pelo INSS a pescadores para compensar o período do defeso ambiental, quando é proibido pescar determinadas culturas. 

Desproporção entre pescadores e produção de peixe no estado

Os dados mostram que em municípios do Pará, como Melgaço, Bagre e Curuá, a quantidade de peixe produzido por pescador é muito baixa. 

Em Melgaço, por exemplo, cada pescador teria produzido em média apenas 0,56 quilo de peixe em 2024. Isso levanta dúvidas sobre a realidade da pesca na região e a veracidade do número de pescadores registrados.

Maranhão e Pará no foco

Segundo a auditoria do TCU, em 107 municípios do Maranhão e Pará a produção de peixe é inferior a dez quilos por pescador, sugerindo que há um número excessivo de registros no seguro-defeso. 

Juntas, essas regiões concentram quase um terço dos beneficiários do seguro no Brasil. Em cidades como Mocajuba (PA), 96% da população adulta recebeu o benefício, mas a produção foi de apenas 25 mil quilos de peixe, o que levanta ainda mais suspeitas de irregularidades.

Em resposta aos indícios de fraude, o governo federal iniciou uma auditoria e alterou as regras de concessão do seguro-defeso. Entre as novas exigências, destaca-se a necessidade de as prefeituras homologarem o recebimento do benefício. Porém, a medida gerou críticas por parte de entidades ligadas à pesca.

Crescimento no número de pescadores regulares

Apesar das mudanças nas regras, o número de pescadores registrados no Brasil não dá sinais de diminuição. No Pará, o número de pescadores por mil habitantes é alto, com 39,52 pescadores registrados a cada mil pessoas. O seguro-defeso pago no estado em 2024 alcançou o valor de R$ 1,54 bilhão.

A auditoria do TCU ainda está em andamento, e os dados apresentados precisam ser analisados caso a caso. No entanto, os primeiros sinais de inconsistências indicam que o número de pescadores e a produção de peixe não batem, o que pode resultar em prejuízos ao erário e fraudes em grande escala.

O que diz o TCU?

Em resposta ao Grupo Liberal, o Tribunal de Contas da União (TCU) disse que o processo está sob a relatoria do ministro Augusto Nardes, que trata de auditoria no Seguro-Desemprego Pescador Artesanal (Seguro-Defeso) e que não há decisão do órgão no momento

Segundo o tribunal, só há um documento público disponível na página do processo e a secretaria de comunicação do órgão não divulgou peças do processo.

O Grupo Liberal procurou o Ministro da Pesca e Aquicultura, mas não obteve retorno até o momento. 

Pouco peixe, muito pescador 

Quilos produzidos em 2024, em média, para cada um dos beneficiários do seguro-defeso, nos municípios em que há a menor média (Fonte: TCU, com dados do IBGE)

Melgaço (PA)

  • Média de quilos produzidos em 2024: 0,56 kg por beneficiário
  • Porcentagem da população adulta que recebe seguro-defeso: 11,50%

Bagre (PA)

  • Média de quilos produzidos em 2024: 0,6 kg por beneficiário
  • Porcentagem da população adulta que recebe seguro-defeso: 27,50%

Curuá (PA)

  • Média de quilos produzidos em 2024: 0,77 kg por beneficiário
  • Porcentagem da população adulta que recebe seguro-defeso: 35,90%

Breves (PA)

  • Média de quilos produzidos em 2024: 0,85 kg por beneficiário
  • Porcentagem da população adulta que recebe seguro-defeso: 11%

Óbidos (PA)

  • Média de quilos produzidos em 2024: 0,89 kg por beneficiário
  • Porcentagem da população adulta que recebe seguro-defeso: 17,60%
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