Mesmo com queda de 5,6% pela Petrobras, preço da gasolina sobe no Pará
Em Belém, reajuste tem alta de quase 7% em um ano

Um mês após a Petrobras anunciar a primeira redução do ano no preço da gasolina nas refinarias — queda de R$ 0,16 por litro, equivalente a 5,6% —, os consumidores paraenses ainda não sentiram alívio no bolso. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) do Pará, com base em dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o litro da gasolina ficou mais caro no estado mesmo após o reajuste.
A redução, que passou a valer no dia 3 de junho, deveria refletir uma queda do valor médio cobrado pelas refinarias, de R$ 3,01 para R$ 2,85. A expectativa era de repasse nos postos. Mas, no Pará, o preço médio subiu para R$ 6,27 entre as semanas de 1 a 14 de junho — uma alta de 0,16%.
O estudo do Dieese aponta ainda que o Pará registrou o 13º maior preço médio da gasolina entre os estados, com valores oscilando entre R$ 5,59 e R$ 7,15 — uma diferença de mais de 30% entre os postos mais caros e mais baratos. O órgão alerta que, embora custos logísticos e margens variem, essa disparidade levanta dúvidas sobre repasses e concorrência no setor.
Preços dos combustíveis em Belém têm alta de até quase 7% no ano
Em Belém, no período de 29 de junho a 5 de julho de 2025, o etanol manteve-se estável, com leve queda de 0,2%, a R$ 4,79; o diesel recuou 2,3%, fechando a R$ 5,99; já a gasolina seguiu tendência contrária e subiu 1,3%, chegando a R$ 6,34.
Ainda conforme os dados são da ANP, analisados pelo Dieese Pará, na comparação anual, o cenário é de alta generalizada: o etanol subiu 6,9% em 12 meses; a gasolina 6,6% e o diesel 4,5%. Com exceção do etanol, os reajustes superam a inflação acumulada de cerca de 5,35% no período.
Cenário nacional: AGU investiga repasse e mistura de etanol aumenta em agosto
No âmbito nacional, um mês após o corte da Petrobras, o preço da gasolina segue estável nos postos, com repasses bem abaixo dos R$ 0,16 esperados pela estatal. Segundo a ANP, o litro foi vendido a R$ 6,23 na primeira semana de julho, o mesmo valor das duas semanas anteriores e apenas R$ 0,04 por litro abaixo de antes da redução do preço da Petrobras.
A diferença estaria sendo absorvida por distribuidoras e postos como margem, o que gerou críticas do governo. A Advocacia-Geral da União (AGU) foi acionada para investigar os preços praticados nos postos.
Apesar da defasagem cair, a Petrobras ainda vende gasolina acima do mercado internacional — com prêmio de R$ 0,13 em 9 de julho, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). No dia 7 de julho, o ministro de Minas e Energia disse já ver espaço para nova redução no preço da gasolina vendida pela Petrobras, caso as cotações internacionais se mantenham.
Enquanto isso, o governo aposta em outras estratégias para conter os preços. A partir de 1 de agosto, a gasolina terá 30% de etanol — três pontos a mais que a mistura atual. O governo aposta na medida para ajudar a reduzir preços, mas o setor avalia que o impacto será limitado e dependerá das políticas de compra das distribuidoras, além da alta do biocombustível na entressafra.
Dieese critica baixa fiscalização e distorções no preço da gasolina no Pará: 'Todos pagam essa conta'
Everson Costa, supervisor técnico do Dieese Pará, explica que o preço da gasolina no estado é influenciado por margem de lucro, impostos, encargos e, principalmente, os custos logísticos de transporte em um território de dimensões continentais. Apesar de apontar essas dificuldades como legítimas, o supervisor observa que elas não justificam diferenças de preços superiores a 30% entre postos no mesmo estado. Isso sugere a possibilidade de práticas especulativas e falta de fiscalização, que permitem a formação de preços com base na especulação.
Ele também destaca que a não redução dos preços impacta diretamente as famílias paraenses e motoristas de aplicativo, diminuindo a verba para outras despesas essenciais. Além disso, como o transporte de cargas depende dos caminhões, o custo do combustível eleva o frete e, consequentemente, os preços de bens e serviços. "Todos pagam essa conta, mesmo quem não tem carro, porque o combustível influencia a formação de preços em toda a economia", avalia Costa.
A política de preços da Petrobras tem impacto direto na inflação regional e nacional, já que os reajustes nos combustíveis elevam o custo de vida. "Apesar da estratégia atual buscar conter a frequência dos aumentos, o país ainda depende da importação de derivados, como diesel e gasolina. Como o Brasil exporta o petróleo cru e importa parte dos combustíveis refinados, o mercado interno fica vulnerável às variações internacionais", explica Costa, reforçando que, em Belém, essa realidade é agravada pela alta inflação e baixa renda média da população.
Sindicato aponta distribuidoras como principais responsáveis por manter preços altos
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Pará (Sindicombustíveis-PA) afirmou que não há obrigação de os postos repassarem uma redução fixa anunciada pela Petrobras, já que a estatal apenas define o preço que praticará nas refinarias — que não são as únicas do país — e não determina o valor final nas bombas.
O representante do jurídico do Sindicato, Pietro Gasparetto, declara que há um descompasso entre os anúncios da Petrobras e o comportamento das distribuidoras, que, segundo ele, frequentemente não repassam integralmente a redução aos postos. Sem essa redução efetiva na compra, os revendedores não conseguem baixar os preços ao consumidor sem comprometer a viabilidade financeira.
Ele enfatiza que, quando a Petrobras não consegue atender toda a demanda, as distribuidoras também importam combustíveis. Os postos, em contrapartida, atuam no último elo da cadeia, comprando diretamente dessas distribuidoras, o que reforça a dependência do preço definido por elas.
Outro ponto levantado pelo Sindicato é que o cálculo da Petrobras considera apenas a gasolina pura, sem incluir outros fatores que compõem o preço final, como os biocombustíveis. Desde maio, houve aumento de R$ 0,06 no PIS/Cofins do etanol anidro, que representa 27% da mistura da gasolina — percentual que será elevado para 30%.
Gasparetto também critica a concentração no setor de distribuição. Ele afirma que o setor é dominado por três grandes empresas que operam em regime de oligopólio. Essa estrutura permitiria que aumentos sejam repassados rapidamente, enquanto reduções demoram a chegar aos consumidores. “Os preços sobem como foguetes e caem de paraquedas", conclui.
'Alívio que não veio': motoristas de Belém questionam alta no preço de combustíveis
O motorista de aplicativo Ataniel Tolosa, de 45 anos, sente no bolso a diferença que poucos centavos podem fazer no preço da gasolina. Ele gasta, em média, R$ 150 por dia com o combustível para rodar em Belém. No dia 10 de julho, o litro da gasolina em um posto na avenida Júlio César, em Belém, estava a R$ 6,59. Se o desconto de R$ 0,16 fosse aplicado sobre esse valor, ele economizaria cerca de R$ 3,64 por dia — o que representa R$ 109,20 ao mês.
Para o servidor público Jonas Araújo, de 66 anos, o preço da gasolina tem sido um absurdo não só no último mês, mas nos últimos anos. "É incoerente que um país com produção suficiente de petróleo pague valores tão altos", diz.
Já o motorista de órgão público George Sampaio, de 46 anos, desabafa sobre a alta nos preços: “Sempre ouvimos falar que o preço vai cair, mas a gente sente que não cai, e a tendência é aumentar. Dizem que o valor nas refinarias diminui, mas o preço final ao consumidor permanece o mesmo. A gente está tão acostumado que nem espera mais que o desconto chegue ao bolso". Ele relata que os gastos com combustível para o carro que utiliza no trabalho ultrapassam mil reais por mês.
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