Empreendedorismo sustentável: artesã de Belém transforma garrafa PET em biojoias

Economia circular pode quase dobrar a reutilização de materiais no mundo, passando de 8,6% para impressionantes 17% até 2032, diz levantamento da Circle Economy

Eva Pires | Especial para O Liberal

As urgências da crise climática estão remodelando o cenário global de produção e consumo, e o Pará emerge nesse movimento. Empreendedores e consumidores paraenses, cada vez mais conscientes, buscam ativamente alternativas que mitiguem os impactos ambientais e sociais, impulsionando uma verdadeira revolução no mercado local. Entre as várias formas de empreendedorismo sustentável, a economia circular surge como um pilar fundamental de transformação, apostando intensamente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de insumos e energia.

Um levantamento de 2021 da Circle Economy, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que as estratégias circulares podem quase dobrar a reutilização de materiais no mundo, passando de 8,6% para impressionantes 17% até 2032. Essa projeção não é apenas um número, mas a promessa de um futuro mais verde, que se traduziria em uma redução de 39% nas emissões de gases de efeito estufa no mesmo período.

Em meio a essa onda de conscientização e inovação, surgem iniciativas criativas que transformam o que antes seria considerado lixo em algo de valor. Um exemplo disso é a história de Higina Souza, uma artesã de 50 anos que confecciona biojoias a partir de garrafas PET, encontrando nesse material não apenas uma forma de arte, mas um caminho para realizar sonhos, ressignificar a própria trajetória e contribuir para um planeta mais sustentável.

Empreendedora divulga biojoias em feiras de Belém e nas redes sociais

Biojoias são confeccionadas a partir de garrafa PET

A jornada de Higina com o artesanato começou há duas décadas, com a criação de arranjos delicados feitos a partir de garrafas PET. No entanto, uma lesão nos braços a forçou a interromper essa atividade. O sonho de mudar de vida a partir do artesanato foi adiado, e a frustração profunda a levou a um período de depressão. Mas, com o apoio de projetos de empreendedorismo promovidos no estado, Higina decidiu, mesmo diante de incertezas, retomar a ideia que tanto a motivara no passado. Ela relata que, ao retomar, pensou: "Produtos de garrafa PET... será que vão aceitar?". Contudo, após iniciar a produção de brincos e colares, percebeu a calorosa aceitação do público. Ela também destaca que notou um aumento considerável na demanda por produtos sustentáveis no mercado atual.

Higina compartilha que aprendeu o ofício assistindo a um programa de televisão, que a impulsionou a explorar essa nova paixão. Hoje, as biojoias autênticas são vendidas em feiras como a da Usina da Cabanagem, Usina da Bengui e Porto Futuro, além de expandir o alcance por meio de entregas online, com uma presença ativa no Instagram (@higina_souza). O contato e a troca de experiências com outras artesãs nesses espaços foram essenciais para que ela aprimorasse as técnicas e, mais importante, aprendesse a precificar corretamente o trabalho que executa, garantindo que a dedicação se transformasse, finalmente, em lucro e reconhecimento.

Entenda o processo de transformação da garrafa PET

O processo de transformação das garrafas PET em peças únicas é meticuloso, exigindo paciência e um olhar artístico apurado. Tudo começa com a limpeza rigorosa e a secagem completa das garrafas, seguida do recorte preciso em formatos que simulam folhas e pétalas. Em seguida, Higina realiza a queima cuidadosa das bordas e inicia o complexo processo de pintura, que pode levar até três dias para secar completamente, antes da etapa final de envernizamento. Ela gosta de misturar a garrafa PET com pedras, sementes e caroços de açaí, destacando a riqueza de detalhes e a fusão de elementos naturais nas criações.

A matéria-prima essencial para as biojoias – as garrafas PET – é coletada com o apoio fundamental de amigos e familiares, que se tornaram parte integrante desse ciclo. As peças de Higina são mais do que simples acessórios; são verdadeiras obras de arte inspiradas na flora amazônica e em elementos regionais, como a bandeira do Pará, trazendo consigo a essência, a beleza e a identidade cultural do estado.

A reação dos clientes é a parte que mais encanta e motiva a empreendedora. Ela conta com um brilho nos olhos que, ao revelar que as peças são feitas de garrafa PET, a surpresa é imediata. Para ela, transformar uma garrafa que seria descartada em uma biojoia, que será usada em ocasiões especiais e terá valor afetivo ao cliente, é o que dá o verdadeiro significado ao trabalho.

Conscientização ambiental e os desafios do empreendedorismo sustentável

No mês passado, Higina conduziu uma oficina na escola Cidade de Emaús, ensinando crianças a transformarem garrafas PET em arte. Ela destaca o poder transformador da educação ambiental, afirmando que ao explicar o trabalho com reciclagem, a percepção das pessoas, tanto sobre o artesão quanto sobre o produto, é modificada. Para os planos futuros, a artesã conta que pretende expandir o alcance do empreendimento, levando as criações a eventos de maior porte para alcançar visibilidade nacional e, quem sabe, internacional. Para concretizar esse anseio, ela busca ativamente apoio de diversas frentes: da prefeitura, do governo ou de empresas privadas. Ela enfatiza: "ninguém consegue vencer sozinho, eu preciso de ajuda".

Para quem pensa em trilhar o caminho desafiador do empreendedorismo sustentável, Higina oferece uma mensagem carregada de resiliência e esperança. "É muito difícil, você tem que ser persistente e, acima de tudo, amar o que você faz". Higina compartilha a própria experiência com a dor e a frustração, mas enfatiza a importância de seguir em frente, pois o mundo gira e um dia se pode mudar a história. Para ela, "as coisas acontecem no tempo certo", conclui.

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