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Conflito entre Israel e Irã pressiona o petróleo e deve encarecer combustíveis no Pará; veja cenário

Alta do barril e dólar em valorização formam cenário preocupante; efeitos já começam a ser sentidos nos postos e tendem a se espalhar por toda a economia paraense nas próximas semanas caso guerra continue.

Jéssica Nascimento
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A nova escalada do conflito entre Israel e Irã acendeu o alerta no mercado internacional de petróleo e já começa a afetar o bolso do consumidor brasileiro. No Pará, o impacto pode ser sentido tanto na bomba de combustível quanto no preço de produtos básicos, com risco de encarecimento em cadeia nos próximos meses.

Representantes de diversos setores ouvidos pelo Grupo Liberal preveem efeitos diretos e indiretos sobre transporte, alimentos e inflação, atingindo especialmente famílias de baixa renda.

image (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

Tensão no Oriente Médio dispara o preço do petróleo

A tensão crescente entre Israel e Irã, dois dos principais protagonistas do Oriente Médio, tem efeitos globais — e não é diferente no Brasil. Desde o início das hostilidades, o preço do barril de petróleo tipo Brent saltou cerca de 10 dólares, segundo Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).

“O Irã não é um dos maiores produtores, mas sua localização estratégica no Estreito de Ormuz, por onde passa 20% do petróleo mundial, torna qualquer conflito na região um gatilho imediato para a alta dos preços”, explica Ardenghy.

Além disso, como destaca o economista Nélio Bordalo Filho, o risco de bloqueio de rotas e a insegurança comercial aumentam custos com frete e seguro. “Se o barril ultrapassar os US$ 100, o impacto nos combustíveis será inevitável, mesmo com a política atual da Petrobras”, diz.

Petrobras pode segurar preços por pouco tempo

Desde maio de 2023, a Petrobras abandonou a política automática de Preço de Paridade de Importação (PPI), buscando considerar custos internos e competitividade. Para o representante jurídico do Sindicombustíveis Pará, Pietro Gasparetto, essa medida tende a retardar os aumentos — mas não a evitá-los.

“Essa nova política será colocada à prova agora. É difícil manter o preço artificialmente estável por muito tempo sem causar prejuízo à estatal”, afirma. 

Gasparetto lembra que nem toda a gasolina e diesel usados no Brasil vêm da Petrobras. “Há refinarias privadas e distribuidoras que seguem o mercado externo e já começaram a repassar os aumentos aos postos.”

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O impacto para o consumidor paraense

No Pará, os reflexos começam a surgir nas bombas. Marcelo Mendes, engenheiro mecânico que atua no setor petroquímico, já percebe os efeitos. “A gasolina já está a R$ 6,30 em média. E o etanol, que costumava ser alternativa mais barata, já beira os R$ 5”, relata.

O consumidor Daniel Pinhão de Sousa, que trabalha com segurança, também está preocupado. 

“Vai ficar mais caro, não tem jeito. Tudo que vem do petróleo vai subir: gás, gasolina, alimentos”, afirmou.

Nélio Bordalo explica que o tempo entre o aumento internacional e o repasse ao consumidor pode variar entre 10 a 20 dias. E a pressão pode ser amplificada com a alta do dólar. 

“Como o petróleo é cotado em dólar, um real mais fraco torna a importação mais cara, agravando o impacto”, analisa.

Diesel mais caro afeta o transporte e a comida

O diesel, essencial para o transporte de cargas no Brasil, é o que mais preocupa. Segundo Bordalo, mais de 60% das mercadorias brasileiras são transportadas por rodovias. No Pará, estado que importa a maior parte dos produtos consumidos, o aumento nos fretes pode ser imediato.

Com a alta no diesel, o economista estima um repasse de até 15% nos preços de produtos, especialmente alimentos perecíveis como hortaliças e frutas, que têm transporte frequente. E isso é apenas o começo.

A longo prazo, produtos industrializados, itens de limpeza, têxteis e embalagens plásticas — todos derivados de petróleo — também devem subir de preço. Fertilizantes e defensivos agrícolas, igualmente afetados, pressionam os custos da produção rural, impactando arroz, feijão, leite e carne.

image (Foto: Adriano Nascimento | Especial para O Liberal)

Inflação, juros e efeitos em cadeia

O encarecimento dos combustíveis não para na bomba. Segundo o economista Nélio Bordalo, o efeito dominó pode atingir toda a cadeia produtiva, gerando pressão inflacionária. Com isso, o Banco Central pode ser levado a subir a taxa básica de juros, encarecendo o crédito para empresas e consumidores.

“Se o juro sobe, o custo do dinheiro aumenta. Empresas terão mais dificuldade para financiar estoques e capital de giro. Já os consumidores enfrentarão taxas maiores em empréstimos e financiamentos”, alerta Bordalo.

Pará também sente pela exportação

Mesmo as exportações paraenses podem ser afetadas. O professor de Relações Internacionais da UFPA, Mário Tito, aponta que a insegurança na região do conflito pode impactar rotas comerciais.

“O Pará tem uma pauta de exportação interessante com o Líbano, especialmente de boi em pé. Um conflito prolongado pode afetar esse comércio, prejudicando a balança comercial local”, destaca.

Soluções ainda estão longe

Apesar de o Brasil ser autossuficiente em petróleo bruto, a maior parte de suas refinarias não é equipada para processar o petróleo pesado nacional. 

“Hoje o Brasil depende da troca com petróleo leve da Arábia Saudita, e isso também será impactado se a crise se agravar”, lembra Marcelo Mendes.

Para ele, a falta de refinarias modernas limita o país em momentos de crise. “Se tivéssemos tecnologia para refinar nosso próprio petróleo, seríamos líderes também nesse setor. Mas, por enquanto, ficamos vulneráveis.”

O que muda para o paraense com a guerra entre Israel e Irã, segundo especialistas entrevistados

  • Gasolina e diesel devem subir: repasse pode ocorrer em até 20 dias;
  • Fretes mais caros: aumento no diesel encarece transporte de mercadorias;
  • Alimentos devem subir até 15%: hortaliças e frutas serão os primeiros afetados;
  • Outros produtos também sobem: plásticos, roupas, itens de limpeza, etc.;
  • Inflação e juros em alta: impacto sobre crédito e consumo;
  • Exportações ameaçadas: conflito pode prejudicar comércio com países do Oriente Médio.
     















 

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