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Trabalho: Maioria dos jovens brasileiros prefere área de Humanas a Exatas, revela pesquisa

Dificuldade com matemática e custos afastam jovens das Exatas.

Jéssica Nascimento

A preferência dos jovens brasileiros por cursos superiores na área de Ciências Humanas supera com folga o interesse pelas Ciências Exatas, especialmente a Engenharia. Uma pesquisa nacional realizada pelo Instituto Locomotiva com 1.150 estudantes do Ensino Médio a pedido do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) revelou que apenas 12% dos estudantes do Ensino Médio querem seguir carreira em Engenharia. O número equivale a 2,3 milhões de jovens no Brasil, segundo estimativa baseada na PNAD 2024 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).

Segundo o levantamento, 49% dos estudantes disseram preferir cursos relacionados às Ciências Humanas, como Artes, Comunicação, História, Sociologia, Geografia e Filosofia. Em comparação, apenas 28% demonstraram interesse por áreas das Exatas, como Matemática, Estatística, Química e Física. Outros 23% preferem cursos de Ciências Biológicas (Biologia, Anatomia e Medicina).

A escolha por Humanas é puxada principalmente por mulheres (53%), enquanto nas Exatas, o interesse maior vem dos homens (39%, contra apenas 16% de mulheres). Já nas Biológicas, o equilíbrio volta a favorecer as mulheres (31% frente a 16% dos homens).

Engenharia perde espaço entre os jovens

Os cursos de Engenharia, tradicionalmente associados à inovação, infraestrutura e desenvolvimento tecnológico, aparecem com baixa atratividade: somente 12% dos estudantes demonstram interesse na área. Entre os que ainda cogitam a Engenharia, 27% preferem Engenharia Civil, seguida por Engenharia de Computação (23%) e Engenharia Elétrica (19%).

Mais alarmante é o fato de que 53% dos jovens não consideram os cursos de Engenharia atrativos — o que representa aproximadamente 3,1 milhões de estudantes, segundo estimativa baseada na PNAD 2024 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio). 

Matemática é barreira central

Um dos principais entraves para o ingresso nas Engenharias é a dificuldade com matemática: 70% afirmam que é difícil acompanhar matérias que envolvem cálculo, e a nota média de segurança com matemática entre os entrevistados foi de apenas 5,2 em uma escala de 0 a 10.

Entre os que rejeitam a Engenharia, 22% citam dificuldades com matemática como principal motivo, ficando atrás apenas do “interesse por outras áreas” (46%). Até mesmo entre os que querem cursar Engenharia, apenas 16% se sentem muito seguros com cálculos.

Custo da graduação também pesa

O fator financeiro também aparece como obstáculo relevante. Oito em cada dez estudantes acreditam que os cursos de Engenharia são caros, e 23% dos interessados no curso afirmam que podem desistir por não conseguirem arcar com os custos

Escolhas são pautadas por afinidade e mercado

A identificação com a área do curso (78%) e as oportunidades de estágio ou emprego (72%) são os dois fatores mais determinantes na hora de escolher uma graduação.

A remuneração ou estabilidade financeira também é relevante para metade dos entrevistados (50%).

Por outro lado, apenas 15% afirmam que escolhem um curso baseado na viabilidade financeira.

Afinidade desde a infância e o gosto pela prática

A estudante Gabriella Pinheiro, de 18 anos, caloura de Ciências Biológicas na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), conta que seu interesse pela área vem desde a infância. “Sempre tive uma afinidade muito grande com ciências naturais. Desde criança eu assistia muitos programas e desenhos relacionados a isso”, diz.

image Gabriella Pinheiro, de 18 anos, caloura de Ciências Biológicas na UFRA. (Foto: Thiago Gomes)

Ela revela que chegou a considerar cursos das Humanas, mas que a parte prática das Ciências Biológicas falou mais alto: “Sempre gostei muito de mexer com a prática. É uma área com muita experimentação e aplicação real”.

A relação com a matemática também influenciou sua decisão.

“Tive muita dificuldade com as ciências exatas quando eu fazia o estudo isolado delas. Quando aplicadas às ciências da natureza, meu desempenho era muito melhor”, explica Gabriella.

Segundo ela, esse padrão é comum: “Acho que a matemática influencia até quem escolhe Biológicas. Muitos estudantes só descobrem a complexidade depois de ingressar no curso”.

Para Gabriella, a popularidade das Humanas se justifica pela maior proximidade com a realidade dos estudantes:

“É mais fácil enxergar como aquelas matérias se aplicam no nosso cotidiano. Já Exatas e Natureza acabam parecendo distantes e difíceis”.

Humanas como escolha natural e refúgio da matemática

Para Maria Laura, de 18 anos, caloura de História na Universidade Estadual do Pará (UEPA), a escolha pelo curso sempre foi clara.

“Desde criança eu já queria História. Nunca me vi fazendo outra coisa”, afirma. A afinidade com leitura e escrita, e a aversão a cálculos, pesaram na decisão.

Ela acredita que a insegurança com a matemática, revelada na pesquisa como um dos principais motivos de rejeição aos cursos de Engenharia, também afasta muitos alunos das Exatas.

“É determinante. Quem não se identifica ou sente dificuldade com a matéria, vai buscar cursos com o mínimo de cálculo possível”, declarou.

Maria Laura também vê um momento de valorização das Humanas entre os jovens. “Acho que o ENEM e a própria academia ajudaram nisso. Antes só se via as ciências naturais e exatas como ‘ciência de verdade’. Hoje isso vem mudando, e nossa geração está acompanhando”, disse. 

image Maria Laura. (Foto: Arquivo pessoal)

Quanto ao futuro profissional, ela é realista: “A educação é desafiadora e exige muito amor. A tecnologia e a inteligência artificial vão trazer ainda mais desafios, mas os profissionais de Humanas já enfrentam dificuldades mesmo hoje. Entrar e sair da universidade é desafiador. A gente já entra pensando em seguir para um mestrado ou doutorado.”

A estratégia do CIEE para engajar jovens nas Exatas

Ao Grupo Liberal, Humberto Casagrande, CEO do CIEE, compartilhou as iniciativas da instituição para incentivar os jovens a se aprofundarem nas disciplinas de Exatas, especialmente Matemática, considerada um desafio para muitos.

"O CIEE oferece uma plataforma gratuita de capacitação online, o CIEE Saber Virtual, que proporciona cursos desde oratória até planilhas e trilhas voltadas especificamente para o ensino das Ciências Exatas", afirmou Casagrande. 

Além disso, ele destacou o Programa Jornada CIEE, que utiliza um jogo interativo para ensinar Matemática de forma lúdica. O jogo acontece na fictícia ilha de Mátika, onde os jogadores devem usar robôs para resolver problemas matemáticos e restaurar uma inteligência artificial. 

“O jogo mostra como o ensino de Matemática pode ser mais leve e agradável, diminuindo a resistência dos alunos às disciplinas que envolvem números”, completou.

Casagrande ressaltou que a pesquisa sobre Engenharia, conduzida em parceria com universidades de Engenharia de São Paulo, visa a criar soluções para tornar a área mais atrativa para os jovens. 

"Nosso compromisso é atuar como uma ponte entre a educação, o trabalho e a juventude, ajudando a formar gerações mais preparadas e confiantes", disse o CEO.

A contribuição das escolas e empresas para a orientação profissional

Em relação à orientação profissional, Casagrande acredita que escolas e empresas têm papéis essenciais nesse processo.

"A orientação profissional é uma responsabilidade compartilhada entre instituições de ensino, empresas e toda a sociedade", afirmou. 

Para ele, as escolas precisam ampliar o repertório dos estudantes, conectando o conhecimento acadêmico com as demandas reais do mercado de trabalho.

Ao mesmo tempo, as empresas devem abrir suas portas para oferecer experiências práticas, como estágios e programas de aprendizagem. O CIEE também enfatiza a importância de tornar o ensino das matérias de Exatas mais acessível e aplicável ao cotidiano. 

"É preciso mostrar aos estudantes a parte prática das disciplinas e suas aplicações na vida real, além de demonstrar como o aprendizado de Matemática pode desenvolver o raciocínio lógico e melhorar a qualidade de vida", afirmou Casagrande.

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