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Com ferramenta de educação e inclusão social, projeto incentiva o hábito da leitura

Grupo Cineclube TF, de Belém, promove intervenções urbanas com saraus, em diferentes expressões da arte: teatro, dança, poesia, arte visual, audiovisual e música

Elisa Vaz
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Embora seja garantido por lei como um direito fundamental, o acesso a uma educação de qualidade não chega a todos os grupos sociais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, atualmente, ainda existem 11 milhões de brasileiros analfabetos, que não sabem ler nem escrever, uma taxa estimada em 6,6% da população.

Além disso, segundo a entidade, em 2019, a proporção de pessoas com 25 anos de idade ou mais que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram, no mínimo, o ensino médio, foi de 48,8%. No mesmo ano, 46,6% da população desta faixa etária estavam concentrados nos níveis de instrução até o ensino fundamental completo ou equivalente; 27,4% tinham o ensino médio completo ou semelhante; e apenas 17,4%, o superior completo.

Com o objetivo de incentivar a leitura como ferramenta de educação e inclusão social, o projeto Cineclube TF, de Belém, potencializa a arte da juventude preta periférica no intuito de reconhecer e valorizar sua identidade afro, indígena, ribeirinha e quilombola, além de contribuir para o crescimento dos jovens das comunidades.

Segundo a coordenadora do grupo, professora Lília Melo, o público-alvo são os jovens de periferia, e as ações desenvolvidas são as intervenções urbanas com saraus, em diferentes expressões da arte: teatro, dança, poesia, arte visual, audiovisual e música. Essas intervenções são feitas em pontos estratégicos do bairro da Terra Firme, em locais de difícil acesso e criminalizados pela sociedade, tidos como perigosos. Desta forma, a equipe vai até o espaço, ocupa com arte e reverte a situação.

“O grupo de audiovisual é nosso carro-chefe. Ele transforma em mídia, que possa ser exposta ou divulgada em plataformas virtuais, todas as produções culturais que o projeto tem. São seis Grupos de Trabalho (GTs): o Poame-se, que trabalha com a literatura afro e indígena; o Periferarte, com artes visuais e grafites; Perifinções, que trabalha com música; o Cinedance, que trabalha com dança; o Perifincena, com teatro; e o audiovisual, que é o próprio Cineclube”, comenta.

A equipe ainda tem o Cine Garagem, em que uma obra é escolhida para ser exibida, de acordo com os debates que são feitos nas coordenações. Depois, o filme é exibido e um debate é realizado. Há também as oficinas de escrita criativa, de audiovisual, de grafite e de poesia. “Recentemente, entregamos cinco painéis para a comunidade da Terra Firme, grafitamos o muro da escola Brigadeiro Fontenelle, onde surgiu o projeto, e conseguimos fazer a oficina de poesia online”, diz Lília.

Com a pandemia, o grupo tem tentado manter suas atividades. Antes da crise sanitária, havia 58 pessoas cadastradas, e agora já não é possível contabilizar, já que não há encontros presenciais como antes. No último sarau, 35 jovens compareceram, mas, no geral, cada oficina só tem 10 integrantes por vez. O Cineclube TF também precisou mudar seu foco durante a pandemia, com um viés mais assistencialista.

A coordenadora do projeto conta que iniciaram campanhas de arrecadação de material de higiene e alimentos; foram confeccionadas cestas básicas, entregues aos familiares dos integrantes; cadastramento de mães para renda emergencial; entrega de kits de saúde íntima para as meninas; entregas de gás de cozinha; e uma intervenção nas redes sociais, com pequenos vídeos de um minuto, para orientar a população e incentivar os jovens a respeitar as informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Esses vídeos foram feitos com linguagem periférica, considerando nossas realidades. Os integrantes fizeram junto com suas famílias para combater a covid-19. Além disso, também confeccionamos um clipe com uma música explicando as orientações, entre outras ações. Também lançamos uma campanha na internet chamada ‘Não te faz de lesa’, que agrega um conjunto de ações com essas orientações. Entregamos máscaras nas feiras e pontos públicos, e outras ações”, conta. De acordo com a professora, ainda não foi possível retomar as atividades do grupo, e não há previsão.

Grupo é beneficiado com doação

No mês de maio, a livraria Fox criou uma campanha para incentivar compras, fazendo um apelo à população com o intuito de salvar a empresa, que é genuinamente paraense e tem mais de 30 anos no mercado, e que corre o risco de fechar, diante da diminuição das vendas na crise econômica da pandemia do novo coronavírus.

Após essa campanha, uma paraense, Martha Letícia Ferreira, que mora em Brasília, tomou a atitude de comprar R$ 700 na livraria. Depois, ela escolheu um projeto social para receber os livros comprados: o Cineclube TF. “Ela quis beneficiar uma comunidade da periferia, pesquisou na internet e conheceu nosso projeto, se encantou com as ações, entrou em contato comigo e disse que tinha um crédito na Fox para que a gente pudesse consumir. Eu levei as meninas da literatura afro e indígena para escolher os exemplares, na última sexta”, lembra.

Mas a coordenadora não queria ser beneficiada sozinha, e pensou na dificuldade de acesso à literatura dentro das comunidades periféricas. Criou, então, uma outra campanha, chamada “A importância do ato de ler”, para ajudar livrarias de pequeno porte que estão passando por dificuldades financeiras devido à pandemia, coletivos que trabalham com leitura na periferia e bibliotecas comunitárias. Funciona por meio de um cadastramento, feito pelas entidades, que disponibilizam uma chave do PIX, específica para a campanha, por onde receberão doações. Ao doar, o doador precisa comunicar o grupo para o qual se destina o valor. Até o momento, só há dois empreendimentos cadastrados: livrarias Fox e Solar do Leitor.

“Há um entendimento preconceituoso e criminalizante que a sociedade tem para com os jovens de periferia dizendo que eles não leem. Fazendo alusão a Paulo Freire, é necessário compreender a leitura no sentido dialético. A periferia lê e gosta de ler, mas a sua leitura é leitura de mundo, não é a leitura da palavra escrita, porque não se tem acesso. Os livros representam esse outro entendimento de leitura, no aspecto formal, porém nós, da periferia, que temos a nossa ancestralidade voltada predominantemente para a oralidade, temos a criatividade, a leitura de mundo, construção de textos orais, mas, pela condição financeira, não temos acesso aos livros. Essa campanha vem minimizar a falta desse acesso”, explica.

O grupo também teve outra iniciativa. Há 15 exemplares de livros que serão usados em um sistema de empréstimo rotativo, feito pelo WhatsApp. Eles têm diferentes abordagens, dentro das temáticas abordadas no GT: combate ao racismo, diversidade de gênero e feminismo preto. O integrante do grupo sinaliza qual título quer ter, pega o livro, vai para casa, lê, e ao terminar devolve, e uma outra pessoa pode emprestar ou trocar. O intuito é conseguir contemplar todas as integrantes do Poame-se.

Doações:

Para a Livraria Fox:

PIX CNPJ: 05382022000187

Para a Livraria Solar do Leitor:

PIX e-mail: livraria.bc@solardoleitor.com.br

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