Com 10% do rebanho nacional, Pará é prioridade para expansão da rastreabilidade, mostra diagnóstico
Levantamento aponta potencial produtivo e recomenda incentivos para ampliar a adoção da rastreabilidade de forma inclusiva no estado
O Pará reúne 2,6 milhões de hectares com potencial de intensificação produtiva e cerca de 70 mil imóveis rurais aptos a avançar na regularização e na adoção da rastreabilidade bovina. Os dados integram um novo diagnóstico da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável, elaborado pela Agroicone com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Segundo o estudo, o estado — que abriga 10% do rebanho brasileiro — deve ocupar posição central na expansão da identificação individual de animais, especialmente diante da possibilidade de obrigatoriedade nacional a partir de 2027, com o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB).
Pará reúne desafios e oportunidades
A presidente da Mesa Brasileira, Ana Doralina Menezes, afirma que o estado vive um ponto de inflexão. “O Pará concentra um conjunto de desafios estruturais, mas também uma das maiores oportunidades de transformação produtiva do país”, destaca.
Ela lembra que a realidade de muitos pecuaristas ainda envolve baixa produtividade, entraves fundiários, pendências ambientais e dificuldade de acesso ao crédito.
“Esses fatores mantêm milhares de produtores afastados de mercados mais exigentes. Não é por falta de capacidade — é por falta de condições. E é justamente aí que a rastreabilidade pode ser decisiva”, afirma.
Para a presidente, a implementação do sistema deve ser entendida como parte de um processo maior. “A rastreabilidade não é só um requisito burocrático. É um instrumento de inclusão, modernização e competitividade. Ela abre portas para quem nunca conseguiu acessar mercados formais”, diz.
Caminhos propostos pelo estudo
O diagnóstico apresenta um conjunto de recomendações para que o estado avance de forma estruturada e sem exclusão produtiva.
Plataforma integrada de rastreabilidade
O estudo sugere a criação de uma plataforma única, reunindo dados de sanidade, origem, conformidade ambiental e movimentação animal.
Segundo Ana Doralina, a integração é essencial para facilitar a vida do produtor: “Hoje, cada exigência está em um lugar. O produtor precisa navegar por sistemas diferentes, documentos diferentes. Uma plataforma integrada reduz custos, aumenta a transparência e dá previsibilidade.”
Incentivos fiscais, crédito e assistência técnica
Outra recomendação é ampliar incentivos financeiros vinculados à rastreabilidade.“Não podemos exigir que o produtor se adapte sem fornecer ferramentas. Crédito, assistência técnica e regularização precisam caminhar juntos com a rastreabilidade”, defende a presidente.
Ela reforça que a transição deve ser gradual: “Se a implementação não for faseada, corremos o risco de excluir justamente quem mais precisa ser incluído.”
Integração entre sistemas públicos e privados
O estudo pede também a interoperabilidade entre plataformas já existentes.
Para Ana Doralina, essa medida é essencial para evitar retrabalhos: “O produtor não pode informar o mesmo dado três ou quatro vezes. A integração reduz burocracia e melhora a governança.”
Impactos no dia a dia do pecuarista
A rastreabilidade, segundo o estudo, tende a se consolidar como elemento central da pecuária moderna. Na prática, isso significa:
- acesso facilitado a mercados formais;
- valorização de boas práticas;
- previsibilidade regulatória;
- acesso a linhas de crédito ligadas à sustentabilidade;
- maior segurança jurídica e sanitária.
Ana Doralina resume:“Quando organizamos a cadeia, ganham os grandes, os médios e, principalmente, os pequenos. A rastreabilidade não é sobre punir — é sobre reconhecer o produtor que faz certo e ajudar quem precisa se adequar.”
Próximos passos
A Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável espera que o estudo sirva como referência para governos, instituições financeiras e frigoríficos estruturarem políticas públicas e iniciativas privadas alinhadas ao avanço da rastreabilidade.
“O Pará pode ser o motor dessa virada. Se conseguirmos estruturar o caminho aqui, abrimos portas para o Brasil inteiro”, conclui a presidente.
O que é a rastreabilidade?.
A rastreabilidade é um sistema que permite identificar, acompanhar e registrar todas as etapas da vida de um animal, desde o nascimento até o abate, incluindo cada movimentação entre propriedades.
Na prática, ela funciona como um “histórico completo” do boi ou búfalo, reunindo informações como:
- origem (onde nasceu, por quais fazendas passou);
- dados sanitários (vacinas, exames, tratamentos);
- informações ambientais (se a propriedade está regular, se há desmatamento ou embargo);
- movimentações (transferências, vendas, transporte).
Isso é feito por meio de identificadores individuais — normalmente brincos eletrônicos, chips ou QR codes — conectados a sistemas digitais.
Por que isso é importante?
A rastreabilidade permite:
- garantir segurança sanitária e prevenir doenças;
- dar mais transparência à cadeia produtiva;
- comprovar conformidade ambiental;
- abrir acesso a mercados mais exigentes, que só compram carne rastreada;
- facilitar o acesso do produtor a crédito e certificações;
- aumentar a competitividade da pecuária brasileira.
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