Belém tem a maior inflação do país em novembro puxada pela hospedagem, diz IBGE

Crescimento das tarifas de hospedagem, que subiram 155% após COP30, impulsionou a prévia inflacionária; Dieese vê movimento temporário

Gabi Gutierrez
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Depois de semanas marcadas por uma demanda atípica no setor de hospedagem na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), Belém aparece agora no topo do ranking nacional da inflação medida pelo IPCA-15 de novembro. A prévia registrou alta de 0,67% na capital paraense — a maior entre todas as capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi fortemente influenciado pelo aumento de 155% nas tarifas de hospedagem, reflexo do pico de procura durante o evento internacional. Apesar disso, especialistas avaliam que o movimento é temporário e restrito ao setor hoteleiro.

No IPCA-15 de novembro, Belém teve a maior alta do país, com 0,67%. O principal motivo continua sendo a movimentação para a COP30, que mexeu bastante nos preços ligados ao turismo. De acordo com o IBGE, os valores de hospedagem subiram 155,24% e as passagens aéreas ficaram 25,32% mais caras, o que puxou o custo de vida para cima na capital. Isso por que, o grupo habitação foi o que mais pressionou a prévia da inflação, refletindo o impacto das tarifas hoteleiras em um curto intervalo de tempo. A movimentação "extraordinária" no setor, porém, não deve se manter. 
Apesar do salto em hospedagem e transporte, o grupo alimentação e bebidas – que costuma se destacar – exerceu pressão muito baixa no índice. Em novembro, o IPCA-15 nacional para esse grupo variou apenas 0,09%. O IBGE destaca que os preços da alimentação no domicílio caíram 0,15% (com recuos no leite longa vida, arroz e frutas) e que só itens pontuais subiram neste mês: por exemplo, batata inglesa (+11,47%), óleo de soja (+4,29%) e carnes (+0,68%).

Em outras palavras, a inflação da cesta básica ficou praticamente nula em Belém. A quedas nos alimentos de casa compensaram as altas discretas em alguns produtos, como a batata inglesa, óleo de soja e o pão francês, levando a um efeito quase neutro no índice geral. Esses dados reforçam que a alta da inflação em Belém em novembro foi concentrada em itens ligados à COP 30, enquanto a alimentação sofreu pouca elevação de preços. 

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Everson Costa, explica que o salto nos preços deve ser entendido como um fenômeno concentrado e de curta duração.

“Essa forte elevação traz efeitos inflacionários, provoca movimentações no setor hoteleiro, mas é um salto temporário nesses preços. É muito mais um jogo de mercado para atender uma demanda excepcional do que uma tendência duradoura”, afirma.

Segundo ele, Belém entrou definitivamente no “mapa do turismo mundial”, e isso eleva a expectativa dos empresários sobre a demanda — mas não significa que os preços permanecerão inflados.

“Eventos de grande porte costumam gerar esses movimentos inflacionários. Isso acontece no Rio, em São Paulo... Agora Belém passa a fazer parte desse rol. Mas não vejo tendência de manutenção de preços inflacionados no setor hoteleiro”, explica.

Everson ressalta que, encerrada a COP30, a tendência é que as tarifas retornem a patamares mais equilibrados e competitivos. “O risco de especulação existe, claro, mas é baixo. Os indicadores futuros devem mostrar uma acomodação natural dos preços, influenciada pela taxa de ocupação e pela concorrência com hospedagens alternativas, como plataformas digitais e hostels.”

A concorrência, inclusive, é apontada como fator fundamental para evitar preços fora da realidade.

“Hoje você tem uma área de hospedagens alternativas que também força uma precificação diferenciada, e isso evita tarifas especulativas. Preços muito elevados afastam turistas dos restaurantes, do transporte, do comércio. Quando a hospedagem encarece demais, toda a cadeia perde”, analisa.

O economista destaca que o setor hoteleiro deve mirar em tarifas “regulares e competitivas” para se manter forte após o grande evento. Ele reforça ainda que Belém demonstrou capacidade para receber grandes fluxos turísticos, mas precisa continuar investindo em portfólio de eventos para evitar ociosidade na rede de hospedagens.

“Saímos da COP30 e precisamos manter aquecido o turismo de negócios, ecológico, religioso. Equipamento sem evento não se sustenta. Mas, com uma cadeia qualificada e preços coerentes, o setor tem tudo para consolidar essa divisa econômica”, pontuou.

Para Everson, a alta atual, embora expressiva, não representa um aumento real do custo de vida da população local.

“É uma inflação temporária, muito mais sentida por quem veio de fora. Belém já tem um custo de vida alto por outros motivos — energia, combustíveis, alimentos — mas esse movimento atual é extraordinário, provocado pelo volume de pessoas buscando acomodação em um curto período”, diz o especialista.

Ele conclui que um aumento tão elevado só deve se repetir em ocasiões igualmente excepcionais: “Talvez algo parecido aconteça nas próximas edições do Círio, mas nem de longe com esse impacto. Foi um ponto fora da curva.”

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