Belém deve ter 6,8 mil vagas temporárias no 2º semestre, aponta Dieese

Estimativa é 23% maior que a de 2024; setor de serviços e comércio concentram maioria das oportunidades.

Jéssica Nascimento
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O mercado de trabalho em Belém deve ganhar fôlego extra no segundo semestre de 2025. Um estudo exclusivo enviado ao Grupo Liberal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Pará (Dieese/PA) aponta que a Região Metropolitana poderá abrir cerca de 6.800 vagas temporárias, um aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o número projetado foi de aproximadamente 5.500 oportunidades.

Cenário positivo no emprego formal

O estudo foi produzido pelo Observatório do Trabalho do Estado do Pará, parceria entre o Dieese e o governo estadual, por meio da Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster).

Nos últimos 12 meses (julho de 2024 a junho de 2025), os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o Pará registrou 495.654 admissões e 459.117 desligamentos, gerando saldo positivo de 36.537 postos de trabalho. O estado lidera a criação de empregos formais na Região Norte, respondendo por cerca de 35% do saldo total da região.

Serviços e comércio se destacam no desempenho, somando juntos 18.723 vagas, metade do saldo total. Na Região Metropolitana de Belém, o saldo foi de 20.951 empregos formais quase 60% do total do Estado. Nessa área, serviços e comércio geraram mais de 14.600 postos, equivalentes a quase 70% do saldo regional.

As estimativas do Dieese/Pa são de que o número de contratações temporárias neste segundo semestre de 2025, na Região Metropolitana de Belém, possam alcançar aproximadamente 6.800 vagas, cerca de 23% a mais que o quantitativo estimado para o mesmo período do ano passado - cerca de 5.500 vagas.

Contratações temporárias e diferenças em relação à terceirização

Segundo o supervisor técnico do Dieese/PA, Everson Costa, “o trabalho temporário é uma modalidade de contratação criada para atender necessidades transitórias das empresas” e não estabelece vínculo empregatício direto entre o trabalhador e a empresa onde o serviço é prestado. Ele lembra que a relação é regulamentada pela Lei nº 6.019/74, atualizada pela Reforma Trabalhista de 2017.

O especialista explica que as contratações temporárias só são permitidas em dois casos: substituição transitória de pessoal permanente ou demanda complementar de serviços, como em picos de vendas e eventos especiais. O contrato pode durar até 180 dias, prorrogáveis por mais 90.

Everson também destaca que o temporário não é o mesmo que terceirizado. “Enquanto o trabalhador temporário tem vínculo com uma Empresa de Trabalho Temporário (ETT) e atende a uma necessidade pontual, o terceirizado presta serviço contínuo, por tempo indeterminado, para uma empresa contratante”, esclarece.

Oportunidade para renda extra e recolocação

As vagas temporárias, segundo Costa, ajudam tanto na movimentação da economia quanto na qualificação de mão de obra. “O aumento das vagas temporárias ajuda a formar trabalhadores qualificados, que podem ser efetivados pelas empresas após o período de alta demanda”, afirma.

Apesar do cenário positivo, ele pondera que a economia brasileira ainda enfrenta entraves. 

“Nossa conjuntura ainda conta com juros altos, crédito caro, endividamento elevado das famílias, preços mais caros de bens e serviços e, mais recentemente, impactos da tarifa imposta nas exportações do Brasil pelo governo dos EUA. Todos esses fatores inibem uma arrancada mais forte da economia”, analisa.

Mesmo assim, o especialista ressalta que o otimismo do setor produtivo é um indicador importante. 

“Representantes dos setores produtivos vêm se pronunciando de forma positiva sobre as expectativas de vendas e faturamento deste ano, sinalizando inclusive a necessidade de contratação de mão de obra”, conclui.

Fecomércio otimista com Círio, Natal e COP 30

A expectativa para a contratação de trabalhadores temporários no comércio é positiva, impulsionada por eventos tradicionais e pela realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em novembro. Sebastião de Oliveira Campos, presidente do Sistema Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, de Serviços e de Turismo do estado do Pará), afirma que as três datas devem gerar um impacto significativo na demanda por mão de obra.

“O Círio, o Natal e a COP 30, especialmente, têm potencial para aumentar as vendas e, consequentemente, a necessidade de mais funcionários temporários no período”, afirma.

Ele lembra que as festividades religiosas e de fim de ano já costumam aquecer o comércio local, mas a COP 30 pode ampliar esse efeito. “A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas deve atrair milhares de visitantes para Belém, movimentando o comércio, a hotelaria, o transporte e até a limpeza urbana”, acrescenta.

Impacto antes e durante o evento internacional

Campos destaca que a influência da COP 30 sobre a economia paraense não se restringe ao período de realização do evento. 

“Os investimentos em obras e demais preparativos já estão movimentando a economia local. Esperamos maior aquecimento das atividades turísticas mesmo antes de setembro de 2025, com reflexos no comércio, serviços e micro e pequenos negócios”, explica.

Segundo ele, bares, restaurantes, transportes, hospedagens e agências de viagens devem receber boa parte dos gastos dos turistas, com previsão de bom desempenho também em passeios turísticos. 

“Antes mesmo do evento, já observamos que muitos outros encontros e feiras estão sendo marcados para acontecer no Pará, o que também aquece o comércio local”, afirma.

Mais vagas no fim do ano e em setores estratégicos

O presidente da Fecomércio avalia que o pico de contratações temporárias deve ocorrer entre novembro e dezembro, período de maior movimento no comércio de rua, supermercados e shoppings. “O setor de serviços aliado ao comércio — como logística, atendimento e e-commerce — deve seguir gerando vagas temporárias, e com a COP 30 essas perspectivas são ainda maiores”, projeta.

Para Campos, o cenário é de continuidade da expansão econômica, com aumento no número de contratações temporárias em vários ramos. “Além das festas que tradicionalmente impulsionam as vendas e a demanda por serviços, teremos a COP 30, que contribuirá significativamente para a necessidade de ampliar contratações”, conclui.

Sindilojas projeta aumento nas contratações

Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Belém (Sindilojas), Eduardo Yamamoto, o cenário é favorável para novas admissões, impulsionado pelas datas comemorativas do segundo semestre, como o Círio de Nazaré, o Natal e a realização da COP 30.

“Com o crescimento da demanda decorrente destas datas, surgem diversas oportunidades para a contratação de profissionais temporários”, afirma. 

Segundo ele, a Pesquisa Índice de Expectativa do Empresário no subitem Intenção de Contratação de Funcionários (CNC/Fecomércio PA) indica aumento nas contratações de 11% a 14% nos próximos meses em relação ao mesmo período de 2024.

Oportunidades vão além do atendimento presencial

Yamamoto ressalta que as vagas abertas não se restringem apenas ao atendimento nas lojas físicas, mas também incluem funções estratégicas para ampliar as vendas. 

“Entre as principais frentes de atuação estão a organização e suporte nas lojas físicas, implementação de tecnologias de comunicação e informação, apoio aos sistemas operacionais e ações de marketing e divulgação”, explica.

O dirigente também destaca o crescimento das oportunidades no comércio eletrônico, que abrangem desde a criação ou atualização de ofertas digitais até a exposição de produtos nos canais online, além da logística de transporte e entrega de pedidos.

Comércio já se prepara para datas especiais

No centro comercial de Belém, empresários do setor de calçados já fazem planos para aproveitar o aumento de movimento esperado com o Círio de Nazaré e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). Patrícia França, supervisora de uma sapataria, explica que a loja aguarda um fluxo maior de clientes para dar início às contratações.

image Patrícia França. (Foto: Igor Mota)

“Estamos com uma expectativa muito boa sobre a COP, mas esperando esse fluxo de clientes aumentar para poder contratar. Queremos vender muito e contratar bastante gente”, afirma.

Segundo ela, a estratégia é aproveitar o tradicional pico de vendas do Círio para manter os novos funcionários até a COP 30, que acontece logo em seguida. 

“Já fizemos um planejamento para atender tanto ao fluxo de turistas da COP 30 quanto à demanda do Círio e do Natal. No nosso Círio já vem muito turista e ele vai acompanhar a COP 30. Por isso, a expectativa é de fazer uma contratação alta para o Círio e manter a equipe até a COP 30”, diz.

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