Arte na pele: tatuagens autorais paraenses se destacam com identidade amazônica
Tatuadores relatam crescimento na procura por artes autorais. Clientes buscam cada vez mais por gravuras que remetem a região norte
O Brasil está entre os países que mais abraçam a tatuagem como forma de expressão artística. De acordo com a pesquisa do instituto alemão Dalia, 37% da população brasileira possui ao menos uma tatuagem, colocando o país na 9º posição no ranking mundial. O setor também tem número expressivo de negócios: segundo o painel Mapa de Empresas, do governo federal, neste ano de 2025, o número de empresas de serviço de tatuagem e colocação de piercings ativas pelo Inova Simples chegou a 7.840, sendo São Paulo (2.37 mil), Minas Gerais (731) e Rio de Janeiro (503) os Estados com maior concentração. O painel não detalha os números do Pará nesse segmento, mas empreendedores do setor destacaram o aumento da procura por arte autoral e ressaltam que, em Belém, o movimento vai além da estética.
Com o aumento da visibilidade do Pará, impulsionado por eventos de grande porte como a COP 30, artistas locais relatam que os clientes têm buscado tatuagens que expressem pertencimento à Amazônia e à cultura nortista. A tatuadora Juka, que atua desde 2021 na área, observa uma valorização crescente da arte regional e autoral. “As pessoas querem mostrar que elas são daqui. Querem marcar na pele que são da região norte, da região amazônica. O mercado está crescendo muito para artistas que criam trabalhos exclusivos, com identidade própria e elementos que remetem à nossa cultura”, diz.
A tatuadora Juka, que atua desde 2021 na área, observa uma valorização crescente da arte regional e autoral. “As pessoas querem mostrar que elas são daqui. Querem marcar na pele que são da região norte, da região amazônica. O mercado está crescendo muito para artistas que criam trabalhos exclusivos, com identidade própria e elementos que remetem à nossa cultura”, diz.
Dan Quixote, que também atua como tatuador em Belém, concorda com o crescimento da arte autoral, afirmando que o público atual está buscando cada vez mais tatuagens com significado. "O mercado de tatuagem está em expansão, a demanda é constante e crescente porque o publico que a gente atende já não é aquele publico de mercado saturado que quer só mais um risco. Nosso publico busca tatuagem não só como estética, mas como uma forma de identidade. Isso faz com que a procura seja não só grande, mas também qualificada. São clientes que buscam mais do que um desenho na pele, buscam significado e experiência".
O tatuador Ciano, que desenvolve artes inspiradas em azulejos históricos de Belém, lembra casos que simbolizam essa busca por identidade. “Tatuei uma mãe, um pai e a filha com o mesmo desenho: o azulejo da casa da avó da família. Foi uma homenagem familiar e uma forma de carregar na pele o carinho pela história deles”, conta.
Por falar em identidade, Ciano relata como decidiu atuar na área e conta que sua profissão hoje em dia é um refúgio para ele. "A arte sempre esteve muito ligada à minha vida de várias formas, seja através da música, que eu também sou DJ, mas também como uma forma de me expressar emocionalmente. Então, eu encontrei na tatuagem um refúgio, onde eu pude conseguir expressar um pouco do que eu tinha de sentimento e carinho pelo meu Estado. E aí surgiu o que vem sendo o meu trabalho, pegando um pouco do centro histórico de Belém, os azulejos, os animais também. E, a partir disso, eu fui construindo a minha identidade dentro da tatuagem".
O artista tem uma técnica específica, ele utiliza apenas duas cores para tatuar seus clientes: o ciano e o preto. "Tanto o meu nome quanto o meu trabalho de maneira geral é muito ligado a essas duas cores porque o ciano é a cor e o tom de azul que eu trabalho dentro da arte. Cada artista tem sua própria técnica e é isso que torna o autoral tão especial e tão único para cada pessoa porque são artes exclusivas", conta.
Já a tatuadora Juka relata que iniciou no ramo por influência dos amigos, mas que sempre foi ligada à arte. "Eu sempre fui do meio artístico, sempre gostei muito de trabalhos manuais, e eu acho que a tatuagem era o que estava faltando, era o que eu nunca tinha pensado. Aí, na época, alguns amigos, falaram, "ah, por que você não tenta? Por que você não segue nesse ramo? Fiquei naquele vai e não vai, até que um dia um ex-namorado da época comprou meu material, e aí, desde essa época, eu me lancei no mercado da tatuagem. E por acreditar que eu podia levar a minha arte de um outro jeito para as pessoas, não só fazer camisas e outras coisas, eu resolvi botar na pele e deu tudo certo", diz.
Por sua vez, Dan Quixote optou pela área após vários amigos pedirem desenhos que não encontravam na internet, pois queriam algo mais personalizado. "Até que um dia fui acompanhar um amigo que iria tatuar um desenho que eu fiz, e isso fez com que o tatuador decidisse me ensinar, após eu ter mostrado outros desenhos que eu tinha feito e tinham sido transformados em arte na pele por ele".
Desmarginalização da tatuagem
Há alguns anos atrás, a tatuagem ainda era vista de forma marginalizada pela maioria da população, sendo criticada pela sociedade e pouco aceita em locais de trabalho e até em religiões, mas essa realidade mudou bastante nos últimos tempos. Hoje em dia, esse preconceito com quem deseja se tatuar ou já é tatuado vem diminuindo e esse é um dos motivos que fizeram com que essa forma de expressão corporal conquistasse o Brasil, o colocando no top 10 de países mais "tatuados".
Wilson Bezerra, de 50 anos, decidiu se tatuar apenas recentemente, após ser impedido por décadas por questões familiares e por seu trabalho. Ele conta que a tatuagem não era bem aceita pela família, então guardou essa vontade até conseguir realizá-la. Hoje, ele já fez três tatuagens e a última delas é carregada de simbolismo amazônico: Um DNA prenchido por símbolos marajoaras, que rementem a viagem que fez ao Marajó no ano passado.
Mercado em expansão e valores
Com a valorização da arte autoral, os preços das tattoos variam conforme o tamanho, complexidade e estilo. No estúdio que Juka e Ciano trabalham, por exemplo, os valores variam de R$ 300 a R$ 1.500, podendo ter valores diferenciados em eventos de Flash Tattoo, que acontecem algumas vezes ao ano. Já Dan relata que o valor de uma arte varia conforme o profissional. "Não tem um valor médio pra tatuagens, porque varia de acordo com o profissional. Tem profissional que cobra 300 reais em um fechamento de braço e outros que o valor mínimo da tatuagem no studio é 500", enfatiza.
De forma geral, a tatuagem segue e seguirá conquistando as pessoas, sendo uma forte maneira de se expressar, homenagear ou apenas simbolizar algo ou alguém.
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