Apesar do potencial, Norte responde por apenas 1,3% do faturamento de operadoras de turismo

Cada vez mais, brasileiros trocam cidades grandes e agitadas por passeios com trilhas, cachoeiras e ar fresco. Mas Amazônia ainda não tornou potencial em realidade com mais turistas

Eduardo Laviano
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Aposta de especialistas do setor, o turismo de natureza vem ganhando força na escolha dos brasileiros na hora de viajar. Levantamento realizado pela Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) aponta crescimento na busca por locais que proporcionam maior conexão com a natureza. Dados analisados pelo Ministério do Turismo, mostram que entre as viagens feitas por turistas em busca de lazer, 25% tem como objetivo o ecoturismo e viagens de aventura.

Mesmo em um ano desafiador por conta das restrições impostas pela pandemia da Covid-19, o Anuário da Braztoa 2021 aponta que das viagens vendidas no ano de 2020, o mercado doméstico (viagens realizadas dentro do país) correspondeu à 77% do faturamento total, atingindo R$ 3 bilhões no último ano. O valor é 65,61% em relação a 2019, antes da pandemia.

No entanto, apesar do potencial da região amazônica, o Norte aparece com a fatia com o pior desempenho no faturamento das operadoras de turismo em 2020, com apenas 1,3% do total. O Nordeste domina o mercado de turismo, com 69,9%, seguido pela região Sul, com 13,6%.

Para 2021, a expectativa para a região Norte ainda não é das melhores. Segundo dados de pesquisa divulgada pela Braztoa, que analisou o perfil dos planos de viagens em cenário de pandemia, a região Norte – e a Amazônia - ainda não entrou na rota dos brasileiros no pós-pandemia. O Norte ficou com apenas 3,4% das viagens programadas, enquanto o Nordeste lidera a preferência, com 21,8%, seguido pela região Sudeste, com 19,8%.

O estudo da Braztoa revela que a tendência é de maior crescimento de destinos turísticos que envolvam a natureza. Para Roberto Haro Nedelciu, presidente da associação, com avanço da vacinação e redução de casos, a expectiva é positiva. “O mercado segue uma tendência animadora e isso tem ligação com a curva ascendente da sensação de segurança das pessoas, somada à demanda reprimida de viagens e à série de promoções que estão em vigor atualmente – e que não devem durar muito tempo. Estamos em um momento de excelentes oportunidades para quem quer garantir sua viagem para embarques futuros, fator que contribui para uma movimentação positiva do setor. É preciso que todos, viajantes e profissionais do turismo, se mantenham atentos e aproveitem as oportunidades”, disse Nedelciu, em entrevista para o Ministério do Turismo.

Mesmo quem vive na região amazônica acaba sendo atraído para destinos em outros Estados. É o caso da arquiteta paisagista Fernanda Brabo, que foi até Pirenópolis, município de Goiás muito demandado por turistas. "Para mim, a principal vantagem é a desconexão do ambiente urbano, fechado. Isso pode soar piegas, mas eu sinto que esse tipo de experiência me lembra como o mundo é enorme e tem tanta coisa linda e natural pra conhecer, além das coisas feitas pelo homem. Eu sempre tive um hábito de viajar para cidades maiores, foi a primeira experiência com turismo ecológico em cidades mais afastadas e foi ótimo", diz ela sobre o paraíso bucólico das cachoeiras de Goiás.

Eliete Amaral é dona de uma agência de viagens em Belém e está animada com a retomada do setor. Ela se diz bem satisfeita e acredita que daqui a dois meses a tendência é melhor ainda mais.

"Existe um crescimento muito promissor, tanto entre quem procura pacotes mais em conta quanto quem quer pacotes mais personalizados. Um destino ecológico que está com bastante procura é Carolina, no Maranhão, além do Jalapão, também em alta. As praias paradisíacas também estão no topo das buscas, pois trazem um maior contato com a natureza. As pessoas querem recarregar as energias e relaxar. Quem vai a primeira vez sempre fica fascinado e volta renovado”, afirma.

A Secretaria de Estado de Turismo foi procurada pela Redação Integrada de O Liberal para informar sobre as medidas e projetos realizados para melhorar os números e atrair mais turistas. Em nota a secretaria informou que “Entre as ações da Setur que contribuem para este propósito, é possível citar a atuação nos conselhos gestores estaduais e federais, em unidades de conservação com potencial para desenvolver e estruturar o turismo, a avaliação dos equipamentos e produtos de turismo de natureza e projetos de sinalização turística. Outros projetos estão indiretamente integrados com ações ambientais com apoio técnico da secretaria, como é o caso da formatação e a estruturação das rotas turísticas que buscam oportunizar novos ambientes as comunidades, o empresariado e os recursos naturais que fazem parte deste processo”, diz o texto.

Ecoturismo ainda pode ser melhor explorado

A tendência do turismo ecológico foi acentuada pela pandemia, quando as aglomerações tornaram-se indesejadas. Segundo o fundador do Instituto Kaluanã de educação ao ar livre, Murilo Bellese, trata-se de um momento mais do que oportuno para cada um olhar dentro de si mesmo e repensar a relação entre humanos e meio ambiente.

"Vivemos em um mundo artificial cercado de concreto que causa uma cegueira para a natureza e, por isso, acabamos destruindo o planeta sem notar. Nosso planeta é absolutamente um milagre. Nossa missão é reconectar o ser humano com a natureza pois essa desconexão nos torna mais doentes. Não à toa a outra grande pandemia do mundo é a depressão", afirma ele, que entre outras atribuições, é também instrutor de caiaque e surfe. 

Não faltam estudos para atestar os benefícios para quem decide dar um tempo das luzes da metrópole e viajar para locais onde o meio ambiente é o protagonista do turismo. Eles começam pela redução do estresse ao longo de caminhadas pela floresta até a dispersão de pensamentos negativos, fruto da admiração de paisagens.

Além disso, os adeptos do ecoturismo costumam praticar esportes de todas as sortes quando viajam, contribuindo para uma vida menos sedentária.

Enquanto alguns países possuem essa cultura muito forte e bem estabelecida, como os Estados Unidos e a Nova Zelândia, alguns outros vivem praticamente do ecoturismo, como é o caso da Costa Rica, onde 15% da população está empregada no setor, que é o que mais cresce no país desde 1995. 

A experiência bem sucedida do pequeno país caribenho ainda está longe de fazer parte da realidade Brasil - e também do Pará, na opinião de Murilo.

"A Costa Rica possui cada vez mais áreas de preservação, de uma forma saudável, que beneficia a população em termos financeiros e de qualidade de vida, atraindo turistas. E temos várias "Costas Ricas" no nosso país. É um mercado subaproveitado, especialmente no Pará, que não é valorizado por falta de visão clara do potencial e de técnica para fazer que aconteça", avalia Bellesi. 

Murilo aproveita para lembrar que é importante contar com o apoio de profissionais capacitados para evitar problemas, especialmente para quem gosta de praticar turismo de aventura.

"É essencial buscar profissionais da área para saber como visitar o local da maneira correta do ponto de vista de segurança, com impacto mínimo e conhecimento sobre o lugar. É preciso se educar e, se for contratar uma empresa para isso, buscar referências para garantir que a experiência será positiva", aconselha.

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