Amor e boletos: quanto custa ter um pet do primeiro latido à velhice

Tutora compartilha os altos e baixos financeiros de criar um cãozinho; economista mostra como planejamento pode evitar surpresas e garantir o bem-estar do animal ao longo da vida.

Jéssica Nascimento
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Adotar um pet envolve muito mais do que carinho e companhia — exige preparo financeiro contínuo e atenção a cada fase da vida do animal. A experiência de Andréa Carvalho, tutora do dachshund Apolo, revela gastos expressivos logo nos primeiros meses, com vacinas, castração e medicamentos, que chegaram a ultrapassar R$ 5 mil. Já Jéssica Cassemiro, dona de três poodles toy, conta que prioriza os cachorros nas finanças e, muitas vezes, deixa de comprar algo para si para garantir o bem-estar dos pets. Além dos custos fixos mensais com ração, plano de saúde e suplementos, um economista paraense e tutor da cachorra Ayla alerta para despesas crescentes na infância e na velhice dos animais, quando há maior necessidade de cuidados veterinários. 

Andréa Carvalho, dona do Apolo, um dachshund de 2 anos e meio, compartilhou a experiência — recheada de amor, surpresas e muitos boletos — como parte de um verdadeiro manual sobre os gastos com pets ao longo da vida.

“O Apolo foi o primeiro cachorro da minha vida. E eu não tinha essa noção de quanto custava caro ter um cachorro, né?”, desabafa Andréa. “Porque não é só pegar, descer e fazer xixi. Quando ele adoece, tem vitamina, tem vacina”, contou Andréa.

Logo nos primeiros seis meses, vieram os gastos com as imunizações obrigatórias. “Eu gastei R$ 2 mil só com vacinas. Eram duas por mês, de R$ 90 cada. E ainda tem as vacinas de verme, que eu nem sabia que existiam.”, revelou. E isso foi apenas o começo.

Porte pequeno, gastos grandes

O dachshund — ou “salsichinha” — é um cão de porte pequeno, o que pode passar a falsa impressão de que os custos serão igualmente modestos. Mas Andréa descobriu, na prática, que a raça demanda atenção especial.

“Eles têm um problema terrível de pele. Se eu troco o detergente, por exemplo, dá alergia nele. Aí corre pro veterinário, né? E remédio pra pet, às vezes, é até mais caro do que pra adulto. Eu só fui descobrir isso depois. Já paguei R$ 150, R$ 200 num único medicamento. Os mais baratos são R$ 70”, declarou Andréa.

A alimentação também exigiu adaptações. “Ele não é de comer muito. A veterinária recomendou um suplemento, que custa R$ 72, pra misturar na ração. Agora ele tá comendo melhor”, disse.

A ração mensal gira em torno de R$ 200 — dois pacotes de 3kg, suficientes para o porte de Apolo, que pesa pouco mais de 7kg.

Castração e cirurgia: o gasto inesperado de R$ 3.500

Outro susto veio com a necessidade de uma cirurgia dupla. “Descobrimos que só um dos testículos do Apolo tinha descido. Fizemos ultrassom, e a veterinária recomendou operar. Aproveitamos pra castrar ao mesmo tempo”, revelou.

O procedimento custou R$ 2.300. Além disso, vieram os gastos com fraldas, roupinhas pós-operatórias e medicamentos.

“Só de remédio, eu e minha filha calculamos uns R$ 800. No total, a cirurgia e os cuidados extras ficaram em R$ 3.500”, contou.

A castração simples, segundo ela, varia entre R$ 400 e R$ 500, dependendo da clínica. “Mas no nosso caso foi diferente, porque ele precisou de uma cirurgia mais complexa”, ponderou.

Plano de saúde e reserva mensal

Com todos esses aprendizados, Andréa buscou alternativas para equilibrar o orçamento. “Hoje eu pago um plano de saúde pra ele de R$ 100. Com isso, todas as vacinas e exames eu pago só uma taxa”, explicou.

Ainda assim, ela mantém uma reserva de emergência.

“Acho que o ideal é separar R$ 300 por mês pra esses imprevistos. Porque não dá pra deixar de comprar vitamina ou remédio”, disse.

Planejamento é essencial

Para Andréa, os custos fixos com Apolo entraram na rotina da casa.

“Eu já deixo o dinheiro separado, como se fosse pagar uma conta de luz ou condomínio. A gente sabe que vai ter que gastar com isso. Não tem como fugir”, avaliou.

E, apesar dos sustos no bolso, ela não se arrepende. “Minha filha apareceu com esse cachorro porque era o sonho dela. Mas hoje ele é mais meu do que dela. Dizem que o animal escolhe o dono, né? Ele me escolheu”, brincou.

Resumo dos gastos de Apolo

Despesa     |   Valor aproximado

Vacinas (primeiros 6 meses)                    R$ 2.000

Cirurgia (testículo + castração)                R$ 2.300

Remédios pós-cirurgia                             R$ 800

Ração mensal                                          R$ 200

Suplemento alimentar                              R$ 72/mês

Plano de saúde                                        R$ 100/mês

Acessórios e roupinhas                            Variável

Reserva de emergência recomendada     R$ 300/mês

“Deixo de comprar algo pra mim pra dar preferência a eles”: como Jéssica se organiza financeiramente para cuidar de três poodles toy

Jéssica Cassemiro, tutora de três poodles toy de dois anos, chamados Sérgio, Tiquinho e Mel lembra bem dos primeiros gastos com os filhotes:

“Os nomes deles são Sérgio, Tiquinho e Mel. Nos primeiros meses, gastei R$ 360 com cada um. Ou seja, R$ 1.080 no total”, conta.

Segundo Jéssica, os valores se dividiram entre vacina (R$ 80), ração (R$ 120), vermífugo (R$ 55), acessórios (R$ 100) e banho com tosa (R$ 240). Esses números representam apenas o início do investimento.

 À medida que os animais crescem, outras demandas surgem, como consultas veterinárias, medicamentos, exames e até tratamentos especializados.

“Eu não sei exatamente quanto gastei com medicamentos, consultas e tratamentos, mas quando eles adoecem, é um gasto muito grande por conta dos exames e remédios, que são caros”, afirmou.

Diante disso, ela mantém um controle financeiro rigoroso:

“Eu me organizo financeiramente e sempre deixo de comprar alguma coisa pessoal minha pra dar preferência a eles, até porque, se eles adoecerem, posso ter um gasto bem maior”, admitiu. 

Gastos iniciais com os três poodles toy (Sérgio, Tiquinho e Mel)

Vacinas: R$ 80 por animal

Ração: R$ 120 por animal

Vermífugo: R$ 55 por animal

Acessórios (ex.: coleira, cama): R$ 100 por animal

Banho com tosa: R$ 240 por animal

Infância, vida adulta e velhice: fases com impactos financeiros distintos

Para entender melhor os custos ao longo da vida de um animal, o Grupo Liberal conversou com o economista paraense Nélio Bordalo Filho, tutor da Ayla, uma cadela adotada ainda filhote, que hoje está na fase adulta

Segundo Nélio, as despesas com o pet acompanham seu ciclo de vida — e não de forma linear. “Na infância, há custos iniciais substanciais com vacinas, castração, acessórios e brinquedos, que elevam os gastos iniciais do tutor”, explica. 

Para ele, “na idade adulta, predominam os custos com alimentação, cuidados básicos e eventuais tratamentos de doenças. Já na terceira idade, o custo volta a subir com consultas mais frequentes, exames, dietas especiais e medicamentos.”

O economista destaca que a infância e a velhice são os períodos mais custosos, exigindo maior atenção preventiva no início e cuidados médicos intensificados no final da vida do pet.

Os picos de gasto: do início ao fim da vida

É nos extremos da vida do animal que o orçamento sente mais impacto. 

“Na infância, os custos elevados devem-se aos investimentos em saúde preventiva, como vacinas e castração, e aos materiais básicos. Já na velhice, os tutores enfrentam mais gastos com cuidados veterinários complexos, suplementos e dietas específicas”, aponta Nélio.

Esses custos incluem desde exames de sangue e imagem até medicamentos contínuos, que, em muitos casos, podem ter valor superior aos usados em humanos.

Quanto do orçamento familiar deve ser reservado?

Para calcular o impacto no orçamento doméstico, Nélio cita dados da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação) e do Centro de Políticas Sociais da FGV (Fundação Getúlio Bargas)

“Nas classes D/E, os tutores chegam a comprometer até 24,3% da renda mensal com seus animais. Já na classe A, essa proporção é bem menor: cerca de 2,4% no caso de cães e 1% no caso de gatos.” 

Mesmo a alimentação evidencia essa disparidade. “Famílias da classe A destinam aproximadamente 2,2% da renda mensal à compra de ração. Nas classes D/E, esse percentual pode alcançar 11,3%”, revelou.

Ou seja: embora o gasto absoluto seja maior entre os mais ricos, o peso proporcional dos custos recai com muito mais força sobre as famílias de renda mais baixa.

Reserva de emergência: fundamental para quem quer evitar sufoco

“Sim, é altamente recomendável criar uma reserva de emergência específica para o pet”, afirma Nélio.

“Uma regra prática é reservar o equivalente a R$ 270 a R$ 550 por mês, e, ao longo do tempo, formar um fundo entre R$ 5.500 e R$ 11.000”, detalhou.

A dica é clara: essa poupança deve estar separada das demais contas da família e considerar fatores como porte, idade e histórico de saúde do animal.

“Assim, é possível enfrentar desde pequenos imprevistos até emergências mais graves, sem desorganizar o orçamento”, defendeu.

Plano de saúde ou fundo próprio? O que vale mais a pena?

De acordo com o economista, a melhor estratégia é encarar os gastos com o pet como uma despesa fixa do mês, tal como luz, água ou condomínio.

“Você reserva uma quantia para ração, consultas, cuidados básicos e também guarda uma parte para emergências”, orientou.

Os planos de saúde veterinários podem ser uma boa alternativa para diluir gastos anuais, mas exigem atenção.

“É importante comparar os planos com base em coberturas e exclusões, porque nem todos cobrem exames ou internações. Muitas pessoas acabam preferindo montar uma poupança específica para o pet”, aconselhou.

Filhote ou adulto? Diferenças no planejamento

A escolha entre adotar um filhote ou um animal adulto afeta diretamente o tipo de planejamento necessário.

Filhotes exigem um investimento inicial maior, com vacinas, castração, acessórios e alimentação específica. Também há os custos com treinamento e socialização”, disse o economista.

Já no caso dos adultos, o desembolso inicial tende a ser menor.

“Alguns procedimentos já foram realizados e, em alguns casos, os próprios abrigos ou ONGs oferecem castração gratuita. Mas é importante ficar atento à saúde geral do animal, especialmente se ele tiver histórico de doenças”, disse.

Inflação e insumos: quando o preço da ração vira peso no bolso

A inflação também entrou no radar dos tutores de pets. Nélio explica que os aumentos no setor superam a inflação média da economia.

“Em 2021, a ração subiu cerca de 23,7%, contra 8,24% da alimentação humana. Em 2025, houve outro aumento, puxado pelo milho e farelo de soja, elevando os custos em cerca de 15%”, destacou.

Os medicamentos veterinários, por sua vez, acompanham a inflação da saúde, com reajustes regulados — cerca de 3,8% autorizados em 2025, segundo o economista. “Esses aumentos exigem revisão constante do orçamento familiar ou cortes em outras áreas. É mais um motivo para criar uma reserva e se planejar”, lembrou.

Nélio resume: “No fim, o segredo é planejar e reservar uma parte do orçamento, evitando surpresas e garantindo que o pet seja cuidado sem apertar o bolso.”

Resumo das dicas financeiras de Nélio Bordalo Filho:

  • Trate os gastos com pets como parte do orçamento fixo mensal;
  • Reserve de R$ 270 a R$ 550 mensais para emergências;
  • Avalie a contratação de plano de saúde veterinário com atenção às coberturas;
  • Planeje com cuidado se for adotar um filhote: os gastos iniciais são altos;
  • Reavalie o orçamento anualmente, considerando a inflação da ração e dos medicamentos;
  • Adote práticas preventivas para evitar custos com doenças no futuro.
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