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Alta no preço de seminovos provoca queda de 50% nas vendas de revendedoras em Belém

Vendedor compara preços de carros antes considerados populares e afirma que aumento chega a ultrapassar 60%

Natália Mello

O aumento contínuo no preço dos veículos, provocado por inúmeros fatores – entre eles a falta de peças devido à paralisação das indústrias logo após a chegada da pandemia da Covid-19 –, teve um efeito bastante negativo nas vendas de automóveis no Brasil. Em Belém, duas revendedoras tiveram queda de cerca de 50% nas vendas de seminovos nos últimos dois anos. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), por exemplo, o recuo na comercialização dos veículos foi de 30,48%, se comparado o índice de abril deste ano com abril de 2021.

No acumulado de janeiro a abril, essa queda também foi expressiva, comparando o período nos dois anos pesquisados: segundo o Fenabrave, a negativa foi de 27,43%. E os dados demonstram a continuidade dessa queda: o levantamento revela menos 7,72% no percentual de vendas de veículos no que se refere às vendas de março para abril de 2022 – foram comercializadas 2.545 unidades de automóveis de passeio e comerciais leves no mês quatro deste ano, enquanto no mês três foram vendidos 2.758 carros de igual segmento.

“Temos uma perda de 50% de clientes em comparação ao que tínhamos antes da pandemia. Aqui na loja vendíamos 50 carros por mês, às vezes até 60, hoje a gente vende 15, 10 por mês”, afirmou o vendedor de uma revendedora localizada no bairro do Marco, Maykon Pires.

Há 10 anos atuando no segmento de venda de automóveis, Maykon lembra que não somente os seminovos subiram de preço, mas também os veículos zero quilômetro, que ele atribui à falta de matéria-prima e tem como resultado um produto final mais caro no mercado. Com essa mudança de cenário, também mudaram as buscas dos consumidores, segundo o vendedor, que hoje buscam suprir necessidades, ao invés de apenas ostentar marcas.

“Hoje em dia, a busca dos clientes já não é mais por um carro de luxo, mas um carro que possa suprir as suas necessidades e vá caber no orçamento, porque temos um grande agravante dos preços no mercado e os juros, que também aumentaram bastante. Para se comprar um veículo tem que se planejar muito bem. O carro que mais sai na loja é o Ônix e o Kwid, chamados de econômicos. O Kwid, quando foi lançado, custava R$ 39 mil, zero, hoje o carro custa R$ 60 mil, um aumento de 50%. O Ônix é um dos carros mais vendidos do Brasil e também um dos preços mais salgados do país, antes custava R$ 65 mil, o top de linha, agora chega a R$ 85 mil”, finaliza.

Dangelo Lobo tem uma revendedora de carros há 12 anos no bairro da Sacramenta, e reforça um detalhe: o preço na ponta, que chega ao consumidor, é um reflexo que afeta também aos que atuam nesse mercado. “O preço também aumentou na nossa compra, a captação do carro ficou mais cara. Mas agora, para nós, já deu uma estabilizada e a ideia é que comece a baixar, devido à retração do mercado, juros alto”, explica o proprietário. “Vendemos zero também na loja, mas com essa falta de insumos para os zero quilômetro, o seminovo ficou em alta e continua mais aquecido que os carros novos. Mas os dois subiram muito de preço”, declarou.

Desaceleração de produção é o principal causador

O economista Valfredo de Farias confirma a paralisação temporária da indústria de automóveis como o principal causador desse aumento de preços. E ele explica que esse problema começou lá na China. Ele afirma que, em função da pandemia, a China, que é um grande exportador mundial, teve problema na logística, na produção, e na cadeia de suprimentos, e por causa disso muitas peças não chegaram em vários países. Portanto, no Brasil, alguns componentes de carros novos não chegaram ou chegaram com muito atraso.

“Então as montadoras tiveram muita dificuldade para de fato concluir a montagem dos veículos, o que levou a um atraso muito grande no mercado de carros zeros, isso fez com que a demanda por carros novos fosse transferida para os carros usados. Ao invés do cara comprar um carro zero e esperar três, quatro, cinco meses, ele preferia comprar um seminovo. E essa demanda pelo seminovo fez que aumentasse os preços. Foi a famosa lei da oferta e da demanda trabalhando neste mercado de veículos. E deve estar tendo até agora carro que está sendo vendido acima da tabela FIPE, uma coisa que poucas vezes aconteceu”, analisou Valfredo.

O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon PA/AP), Nélio Bordalo, relata, inclusive, três fatores que possivelmente impactaram negativamente na venda de veículos. “A questão da escassez dos componentes eletrônicos, que persistiu no início do ano semicondutores, tivemos impactos negativos da onda do coronavírus com a nova cepa ômicron nos primeiros dois meses do ano, por seu alto índice de contágio, além do conflito da Ucrânia e Rússia que preocupou clientes com a elevação de preços dos combustíveis, retraindo portanto as compras de veículos”, concluiu.

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