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Agricultura familiar cresce cada vez mais na região metropolitana de Belém

Fundo Constitucional do Norte (FNO) destina cerca de 60% dos recursos para os negócios agrícolas de pequeno porte, diz Banco da Amazônia

Elisa Vaz
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O desenvolvimento econômico do Pará tem aumentado as possibilidades de investimentos em setores produtivos, como é o caso da agricultura, que se amplia cada vez mais nos municípios centrais – Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Izabel, por exemplo. A principal fonte de investimentos no agronegócio é o Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), operado pelo Banco da Amazônia há três décadas e responsável por alavancar muitos negócios. Quase 60% de seus recursos, por exemplo, são resguardados aos segmentos de menor porte.

No ano passado, foi investido pela instituição, em todo o Pará, R$ 1,5 bilhão em empreendimentos rurais, contra os R$ 911,5 milhões em 2018, o que representa um crescimento de 39% nos investimentos. Além disso, 45% de tudo que é aplicado pelas instituições financeiras no setor rural paraense vêm do Banco da Amazônia.

De acordo com o superintendente regional do Pará e Amapá do órgão, Luiz Lourenço, existem várias formas de acessar os recursos do FNO na área rural. Por exemplo, há linhas de crédito de custeio, que fornecem os produtos que o agricultor precisa em seu dia a dia, como insumos e sementes. “É um crédito que age como um capital de giro para o produtor. Enquanto uma empresa gira o que ela vende, esse trabalhador vai girar sua produção”, explicou. Há também as linhas de crédito de investimentos, que oferecem os implementos agrícolas, além de atividades voltadas para o reflorestamento. De modo geral, o investimento é em longo prazo e o custeio é em curto prazo, segundo Lourenço. O primeiro teve crescimento de quase 50% em 2019, enquanto o segundo teve alta de mais de 25%.

Para ter acesso a uma dessas linhas, o cliente precisa ter uma conta corrente e, em seguida, deve apresentar um projeto para investimento ou acessar o custeio. O banco, então, fará uma análise de crédito, em que um técnico do banco vai até a propriedade avaliar. Com esses dados, o banco dá um limite de crédito para o produtor. Os trabalhadores ainda podem tentar acesso às linhas de crédito do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que envolvem o cultivo de açaí, cacau, mandioca e outros alimentos. Fora do FNO, há o giro do produtor rural, cujos recursos podem ser utilizados como o agricultor quiser. Além disso, é possível “casar” o pagamento com a receita.

Esses pequenos produtores também contam com o apoio e atendimento direto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater). O acompanhamento da empresa, há mais de meio século, permite capacitações constantes, visita técnica semanal e crédito rural. O atual contrato de crédito é de R$ 4 mil, pela linha B do Pronaf, em parceria com o Banco da Amazônia.

Conforme explicou a presidente da Emater, Cleide Amorim, um total de 70 mil famílias são assistidas pela instituição em todo o Estado. Existem escritórios em todos os municípios do Pará, responsáveis por conferir ao produtor a oportunidade de acessar créditos, além de fazer assistência técnica e capacitações. “Internalizando o projeto nas comunidades é possível melhorar a qualidade de vida das pessoas e de suas famílias. Também melhora a economia do município, por isso a Emater é muito importante”, declarou a presidente.

Na avaliação do supervisor-adjunto do escritório regional da Emater, engenheiro agrônomo Valdeides Lima, “existe todo um movimento de cinturão verde, ajuste ambiental, segurança alimentar e qualidade de produtos que é ofuscado quando se fala das periferias das cidades. Porém, com o trabalho da Emater, para cada dado contra temos um dado a favor: são quintais produtivos, pessoas resgatadas de subempregos e que agora têm renda digna e condizente com suas origens rurais e a valorização das tradições amazônicas”.

A agricultora Maria de Nazaré, de 77 anos, fez da agricultura sua vida. Já trabalha com essa atividade há 35 anos – foi a forma que encontrou, ao lado do marido, de sustentar a família. Hoje, viúva há 25 anos, ela conta com a ajuda de um dos sete filhos para plantar e colher os itens que colaboram para a subsistência da casa. A horta é a principal atividade e são produzidos, entre outras coisas, alface, cheiro-verde, jambu e couve, e em breve haverá a plantação de chicória e açaí. O pequeno empreendimento fica no bairro do Tapanã, em Belém.

“Eu comecei a plantar cerca de cinco anos após me mudar para essa casa, antes morava na Augusto Montenegro. Percebi que a terra era boa quando deixei cair feijão no chão do quintal e nasceu bonito. Pensei ‘essa terra é boa’ e decidi investir, junto com meu marido. Já existiam outros agricultores por perto e fui aprendendo com eles. Ia para suas plantações e ajudava enquanto eles me ensinavam. A primeira coisa que plantei de verdade foi muruci”, relembrou. Mas outros alimentos também passaram pelo terreno de nove mil metros quadrados: cupuaçu, tucupi, mandioca, pupunha e até flores. Tudo era e continua sendo vendido no bairro. Maria de Nazaré chegou a liderar, por quatro anos, a associação de agricultores, arrecadando fundos e investindo na comunidade. “Fui a primeira mulher a liderar uma associação aqui”, disse.

image Paulo é filho de Maria Nazaré e assumiu a responsabilidade pela horta (Everaldo Nascimento / O Liberal)

Cerca de dois anos atrás, a agricultora precisou se afastar do trabalho por recomendação médica, quando o filho, Paulo, assumiu. Ele contou que, na época do final do ano, como Natal e ano novo, as vendas aumentam muito. Foram vendidos 300 maços de cheiro-verde, e R$ 800 foram arrecadados apenas com a safra da pupunha. O que é arrecadado com a venda, mais a pensão que Maria recebe, de R$ 1.500, paga as contas da casa e com a saúde. Além disso, a produtora tem uma dívida de R$ 500 com o Banco da Amazônia, por onde contratou um empréstimo em 2014 e não conseguiu pagar porque usou o dinheiro para os remédios.

“Não dá para enriquecer, mas ajuda muito. É muito difícil a vida do agricultor porque o trabalho não acaba nunca, e fiz isso durante décadas. Mesmo assim, sem ficar rica e sem ter muito lucro, agradeço a Deus por ter conseguido me manter até aqui, sou muito orgulhosa”, declarou a agricultora. Em sua homenagem, a associação vai ser transformada no Instituto Maria de Nazaré.

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