Concentração de etanol aumenta na gasolina brasileira: entenda o que muda para o consumidor
Governo aprova para agosto aumento de 30% na concentração de etanol na gasolina e especialista explica impactos em automóveis e no meio ambiente.

Ocorre de forma gradativa o aumento da concentração de Etanol no combustível brasileiro, mas o consumidor se preocupa com o valor e se seu automóvel pode ser prejudicado. Para Tiago Lima Coelho, doutor em em catálise e processos de refino pela UFRJ e atualmente consultor de desenvolvimento de produtos na Fábrica Carioca de Catalisadores a combinação de etanol e gasolina é positiva tanto para carros e motos, como também para o meio ambiente.
O aumento de 27,5% para 30% da concentração de etanol na gasolina era previsto para ocorrer em dezembro, mas em função da atual guerra envolvendo Irã, Estados Unidos e Israel, há incerteza quanto aos valores dos barris de petróleo.
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Sendo o Irã um dos principais países a exportar a matéria prima, segundo o economista Douglas Alencar, professor do Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) da UFPA é possível que exista um aumento nos preços internacionais do petróleo: “é possível que haja um aumento significativo nos preços internacionais do petróleo. Isso ocorre porque o Irã controla o Estreito de Hormuz, uma rota estratégica por onde passa cerca de um quinto do petróleo comercializado globalmente. Se o Irã decidir interditar esse estreito, algumas estimativas indicam que o preço do barril pode subir em até 20% no mercado internacional.”
É preciso relembrar que a Petrobrás considera os valores internacionais do petróleo, por isso “um eventual fechamento do estreito (no Irã) impactaria diretamente os preços internos dos combustíveis, afetando o custo de vida no Brasil, especialmente no transporte e na cadeia de suprimentos.”, reitera Douglas Alencar. Entretanto, o uso do etanol pode trazer diminuição ou a estabilização do valor do combustível nos postos de gasolina brasileiros, além de fortalecer a economia interna e aumentar o uso de biocombustíveis no país.
O Ministério de Minas e Energia (MME) estima que os automóveis que rodam em torno de 7.500km por mês terão uma economia mensal de até R$150, podendo chegar em até R$1.800 anualmente. Além disso, Tiago relembra que a mistura entre etanol e gasolina é uma solução que contribui positivamente também para o mercado interno brasileiro, já que a cana-de-açúcar (matéria-prima do etanol) é produzida nacionalmente, com o aumento do uso do etanol na gasolina, há a possibilidade do Brasil em breve não necessitar mais importar gasolina de outros países, reduzindo a dependência externa e aumentando a autossuficiência brasileira, evitando impactos prejudiciais relativos a oscilações externas e também estabilizando a inflação.
Coelho afirma não precisar de pânico em relação à potência dos automóveis ou possíveis danos ao motor. Testes realizados pelo Instituto Mauá de Tecnologia em carros e motos de modelos de 1994 a 2024 com motor exclusivo a gasolina, não notaram modificações quanto a: dirigibilidade, desempenho e emissões. Nesse sentido, para o especialista, considerando que a maioria dos automóveis atualmente possuem combustíveis flex e os testes foram realizados em motores especificamente movidos a gasolina, não é necessário se preocupar quanto aos efeitos negativos nos carros e motos.
O especialista em processos de refinamento ressalta ainda os pontos positivos ao meio ambiente com o uso do etanol: existem menos emissões de gases estufa ao utilizar a matéria-prima e estudos apontam a redução de 1.7 milhão de toneladas na emissão de gases de efeito, o equivalente a diminuir a circulação de 720 mil carros por ano.
Mudança
Em Belém, a mudança gera preocupação em alguns motoristas. Os condutores demonstram preocupação com possíveis prejuízos para automóveis que funcionam apenas com gasolina. Manoel Garcia, diretor pedagógico, acredita que ainda há muita desinformação sobre o assunto.
“Acho que é necessário o maior esclarecimento para a população, inclusive sobre essa questão do percentual de etanol, porque existem informações divergentes. Além disso, não há tanto detalhamento sobre quanto o aumento implica no resultado da performance e na durabilidade do veículo”, afirma o motorista.
Para o motorista, esse aumento na porcentagem é visto de maneira negativa. “O que eu posso observar pelo pouco que me informei é que quanto maior essa quantidade [de etanol], aparentemente seria mais prejudicial ao veículo por conta do aumento de produtos que têm uma octanagem menor. No entanto, é interessante que haja uma maior explicação nesse sentido, de diversas fontes. Talvez fontes da própria Petrobras, com relação à distribuição dos combustíveis”, disse Manoel Garcia.
O teleatendente Carlos Roberto da Silva Ferreira Júnior também diz ter preocupações com os efeitos da nova mistura, especialmente em carros mais antigos. “Dependendo do veículo, como alguns mais atuais, até aceitam essa mistura. São os chamados ‘flex’. Mas também temos que pensar que nem toda a população tem a condição de adquirir um carro mais novo, justamente por ter essa mistura do etanol com a gasolina. Então, pensando nos carros mais antigos, da população que não tem condições de ter um carro mais atual, acaba sim prejudicando. Além disso, pode ser que essa mistura ocasione certos defeitos futuramente”, encerra o condutor.
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