‘Absurdo’: Reajuste na tarifa de energia gera críticas e preocupação entre consumidores paraenses
Nova tarifa entra em vigor em 7 de agosto e terá aumento médio de 3,74% para todos os consumidores atendidos pela Equatorial Pará.

A partir desta quinta-feira (7/08), os consumidores atendidos pela Equatorial Pará passarão a pagar, em média, 3,74% a mais pela energia elétrica. O reajuste tarifário anual foi homologado nesta terça-feira (5/08) pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A decisão tem causado descontentamento entre os consumidores paraenses, que apontam impactos diretos no orçamento familiar e questionam a justiça do aumento em um momento de instabilidade econômica. Um estudo do Dieese/PA aponta que, desde a privatização da antiga Celpa, a tarifa de energia elétrica no Pará já acumula alta de 81,62%, bem acima da inflação e da evolução dos salários no estado.
Qualidade de vida comprometida
A dona de casa Helena Gaspar lamenta o aumento e destaca que qualquer reajuste em serviços básicos compromete o bem-estar da família.
“Todo aumento nas despesas de consumo básico diminui a qualidade de vida para toda a família. Por isso, esse aumento não é bom para ninguém”, explicou ao Grupo Liberal.
Helena também critica o fato de os moradores da região Norte, grande produtora de energia, pagarem tarifas elevadas.
“Sabemos que estamos no período da estiagem, só que nós, do Norte do país, somos fornecedores para todo país. Por isso, não devíamos pagar essa taxa”, ressaltou.
Para tentar amenizar os impactos, ela conta que já adota medidas de economia em casa:
“Ligar o ar-condicionado só na hora de deitar e nunca deixar lâmpadas acesas sem necessidade.”
Peso no bolso e na mesa
A recepcionista Liliana Silva também está preocupada. Segundo ela, o aumento vai exigir cortes em outras áreas importantes do orçamento.
“O aumento vai interferir em outras contas que tenho pra pagar, inclusive na parte de alimentação”, lembra.
Liliana discorda do reajuste neste momento e diz estar mais atenta ao uso dos aparelhos elétricos.
“Desligo eletrodomésticos das tomadas e luzes de cômodos que não estão sendo usados”, disse.
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Contadora vê injustiça no aumento
Para a contadora Helida Natalie, o reajuste é mais um peso sobre os contribuintes.
“Eu pago imposto em tudo e todo e qualquer acréscimo no meu orçamento é ruim”, declara.
Ela afirma que o aumento não é justo e já vem tentando reduzir os gastos com energia.
“Procuro manter o mínimo de luzes acesas e evito o desperdício”, conta.
Orçamento doméstico sob pressão
O funcionário público Gérson Silva considera que qualquer aumento, por menor que pareça, traz consequências no orçamento.
“Todo aumento impacta no nosso orçamento, independente de que seja!”, declarou.
Para ele, o reajuste não se justifica, e a única saída é redobrar os cuidados com o consumo:
“Temos que adotar (medidas), senão vamos pagar mais!”
Medidas práticas para economizar
A autônoma Maria Silva é contra o aumento e diz que vem fazendo sua parte para tentar compensar:
“Desligo da tomada os eletrodomésticos, desligo o ar na madrugada e etc.”
Já a decoradora de festas Renata Santana afirma que o novo valor compromete o planejamento financeiro mensal.
“Haverá um desfoco na administração da renda”, lamentou.
Ela também é contrária ao reajuste:
“Não considero justo. Sempre tentamos economizar energia.”
"Um absurdo", diz consumidora
A dona de casa Selma Brito foi uma das entrevistadas mais críticas quanto ao reajuste:
“Eu acho um absurdo aumentarem as coisas agora. Essa medida não tem nada a ver com a região Norte, já que a energia é daqui.”
Selma afirma que já implementou várias formas de economia:
“Desligo a televisão mais cedo, desligo ventilador, ligo o ar-condicionado uma vez ou outra.”
Energia mais cara: 27 reajustes desde a privatização
Segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), esta é a 27ª revisão tarifária autorizada pela Aneel desde que a antiga Celpa foi privatizada em 1998.
Everson Costa, supervisor técnico do Dieese no Pará, destaca que os reajustes ao longo dos anos superam em muito a evolução dos salários no estado.
“Mesmo que os salários tivessem sido corrigidos integralmente pela inflação desde então, ainda assim não acompanhariam os aumentos da tarifa de energia, que já acumula uma alta de 81,62%”, explica.
Isso ocorre porque, conforme o levantamento do Dieese/Pa, nos últimos 10 anos (2016-2025), enquanto a tarifa de energia elétrica residencial do Pará acumulou alta de quase 82% a inflação acumulada medida pelo INPC/IBGE para o mesmo período girou em torno de 56%.
Salário mínimo mal cobre a alimentação
A alta da energia elétrica no Pará atinge especialmente a população de baixa renda, que sente no bolso os impactos mais imediatos. Segundo dados do Dieese/PA, mais da metade do salário mínimo (56%) atual de R$ 1.518,00 é comprometida com a compra da cesta básica, que custa cerca de R$ 700,00 no estado.
“Com mais um aumento na tarifa de energia elétrica, entre tantos outros, o já apertado orçamento familiar, em especial de quem recebe apenas um salário mínimo de renda mensal, fica mais complicado no Pará”, alerta Everson Costa.
O paradoxo da energia cara em um estado produtor
Apesar de abrigar importantes hidrelétricas e ser um dos maiores produtores de energia do país, o Pará segue com tarifas acima da média nacional – muitas vezes, entre as mais caras do Brasil. O que deveria ser uma vantagem competitiva acaba se tornando um paradoxo, segundo o Dieese.
“Essa situação é vista como um paradoxo, gerando questionamentos sobre os motivos que levam os paraenses a pagar um dos custos de eletricidade mais altos do país, mesmo com elevada produção interna”, reforça o supervisor técnico.
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