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Fora do Oscar, a graça escrachada de Dolemite é destaque na Netflix

Eddie Murphy protagoniza o filme que mostra o show biz americano e os caminhos nem sempre ortodoxos percorridos para alcançar o estrelato

Agência Estado

Muita gente estranhou a ausência de Eddie Murphy entre os indicados para o Oscar de melhor ator. Basta assistir a 'Meu Nome É Dolemite', na Netflix, para se convencer de que o espanto tem razão de ser. Murphy está fantástico na pele de Rudy Ray Moore que, mais tarde, assume a persona do escrachado Dolemite e faz um sucesso danado.

Esta é também uma história do show biz americano e dos caminhos nem sempre ortodoxos percorridos para alcançar o estrelato. No começo de sua trajetória, Rudy tenta emplacar suas músicas, e ninguém o leva a sério. Nem mesmo o dono da loja de discos onde trabalha.

Estamos nos anos 1970, em Los Angeles, na era de ouro do vinil e dos comediantes stand up. Nesse segundo gênero, Rudy também faz uma ponta.

Trabalha à noite num clube como apresentador dos comediantes. Tenta fazer das suas apresentações uma escada para deixar a posição secundária e ocupar a frente do palco. Com pouquíssimo sucesso. Suas piadas não têm graça e o público o hostiliza. Plateia de stand up é cruel - quando não gosta, vaia mesmo e expulsa o ator. Ainda mais nas bocas pesadas onde Rudy tentava cavar seu espaço.

O turning point da vida de Rudy acontece quando ele descobre um mendigo desdentado e inconveniente, mas excelente contador de histórias. Elas giram em torno de um cafetão chamado Dolemite, de pensamento escrachado e boca imunda - não há frase que não contenha a palavra "motherfucker" ou outras do mesmo calibre.

Se um dia Charles Chaplin teve inspiração num vagabundo para compor o personagem que o eternizou - Carlitos -, Rudy faz o mesmo com o seu mendigo. Grava as histórias do morador de rua, as desenvolve à sua maneira e inventa uma indumentária e um modo de ser para um novo tipo cômico. Nasce Dolemite e o que temos a seguir é uma trajetória de sucesso.

Óbvio, a história é muito boa. Passeia pela comédia, por essa arte estranha de tornar risível situações que, de outra forma, seriam mais para fazer chorar. No caso, um humor particular, nada refinado e que alcança o espectador em seu lado, digamos assim, mais rústico e elementar.

Há um inegável fascínio pelo humor bagaceira e se hoje ele sofre o anátema do politicamente correto, naquele tempo corria solto. Dolemite podia se sentir livre para dizer as maiores barbaridades em cena sem ser crucificado nas redes sociais - que na época não existiam nem na imaginação dos escritores de ficção científica.

O filme é muito bem dirigido por Craig Brewer, em cima do roteiro de Scott Alexander e Larry Karaszewski. Tem dinâmica, tem pulsão e flui. Não se sente o tempo passar, apesar das quase duas horas de duração. Traz, além do resgate de um personagem da cultura black de Los Angeles, um olhar sobre o mundo do cinema, que não poderia estar ausente naquele contexto

Agora por cima, graças ao seu personagem Dolemite, Rudy acha que seu próximo passo terá de ser no mundo glamouroso do cinema. O estalo lhe vem quando assiste, em companhia de amigos, à fabulosa comédia Primeira Página (Front Page), de Billy Wilder, sobre o mundo do jornalismo. É uma das maiores comédias do mundo. Mas ninguém, do grupo, acha graça.

Rudy então se convence de que precisa fazer filmes para o seu público, misturando sexo, palavrões e kung fu. Então passamos a assistir a uma espécie de making of dessa primeira tentativa do ator em estrelar um longa-metragem. Um filme dentro do filme. Rudy encontrará mais dificuldades do que previa. 

A trajetória tão rica quanto caótica de Dolemite tem graça e um toque da melancolia própria de toda vida. Belo ressurgimento de Eddie Murphy, não reconhecido pela Academia.

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