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Pssica, baseada na obra de Edyr Augusto, é repleta de metáforas e reflexões, analisa pesquisador

O professor e pesquisador Relivaldo Pinho observa que, entre rios e ratos, canoas e corrupção, Pssica se revela uma narrativa que nos obriga a encarar a densidade da região.

Enderson Oliveira
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A obra do escritor paraense Edyr Augusto, um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea, ganhou recentemente maior visibilidade com a minissérie Pssica na Netflix. Baseada no romance publicado há mais de 15 anos, a produção audiovisual gerou debates sobre as formas de representação da Amazônia na ficção. Nos últimos dias, o professor e pesquisador Relivaldo Pinho, o maior especialista na obra de Edyr, lançou no canal Estética Limiar, no YouTube, o vídeo “Pssica, a minissérie”, em que mergulha na adaptação televisiva e em seus ecos literários, culturais e sociais.

Para Pinho, a importância da obra de Edyr Augusto está em propor uma visão da Amazônia que rompe com os estereótipos de floresta intocada ou de paraíso perdido. O autor traz à tona a violência cotidiana, a corrupção que atravessa instituições e indivíduos, e a precariedade de vidas que se equilibram entre rios, becos e relações de poder marcadas pela indiferença.

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Em sua análise, a minissérie tem méritos ao escapar das imagens repetidas em novelas, propagandas ou documentários turísticos. Pssica constrói uma estética marcada pelo desconforto: ritmo veloz, narrativa fragmentada, personagens em permanente deslocamento.

Janalice, jovem capturada pelo tráfico sexual; Preá, o ladrão de rios conhecido como rato d’água; e Mariangel, ex-guerrilheira em busca de vingança, formam um trio que condensa dramas humanos e símbolos sociais. Esses personagens não apenas vivem ficções, mas encarnam feridas reais da região amazônica: tráfico de pessoas, narcotráfico, precariedade de serviços públicos e conluio entre crime e política. Veja a análise De Pinho:

O pesquisador aponta também as diferenças entre livro e adaptação. Se no romance a violência é ainda mais explícita, descrita sem concessões, na série há um núcleo romântico criado para prender o espectador global. A inserção da palavra “pssica” em momentos-chave da trama, usada quase como feitiço ou praga, é um recurso que, segundo ele, amplia a potência simbólica do título e traduz para a linguagem audiovisual a ideia de destino inescapável presente no livro.

As atuações também mereceram destaque na análise de Pinho. Ele elogiou a entrega de Domila Catete no papel de Janalice e a força de Denis Lopes como Tabaco, chefe do bando. Para o pesquisador, personagens como o prefeito Brasão — interpretado por Alberto Silva Neto com domínio cênico notável — sintetizam a crítica social de Edyr Augusto, expondo a cumplicidade entre poder político e exploração humana. A própria presença dos “ratos d’água”, figuras que transitam entre margens e rios, funciona como metáfora da corrupção entranhada nos territórios amazônicos.

Por fim, Relivaldo Pinho ressalta que a minissérie, por ter sido lançada globalmente, busca equilibrar autenticidade local e linguagem universal. Essa tensão, conclui ele, é parte da força e da fragilidade da adaptação: ao mesmo tempo em que simplifica certas nuances, torna visível a complexidade amazônica a públicos que pouco conhecem a região além dos clichês.

O autor

Relivaldo Pinho é graduado em Comunicação Social, mestre em Planejamento do Desenvolvimento (NAEA/UFPA) e doutor em Ciências Sociais (Antropologia) pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É autor dos livros Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia (EDUFPA, 2015), Mito e modernidade na Trilogia amazônica, de João de Jesus Paes Loureiro e Amazônia, cidade e cinema em Um dia qualquer e Ver-o-Peso: ensaio (IAP, 2012).

Também organizou a coletânea Cinema na Amazônia: textos sobre exibição, produção e filmes (CNPq, 2004). Professor do Centro Universitário Fibra, é um dos diretores do documentário Fisionomia Belém, disponível no YouTube.

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