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Premiado cineasta pernambucano Marcelo Gomes filma adaptação de livro de Hatoum em Belém

'Relato de Um Certo Oriente' é a nova produção do diretor de 'Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar'

Lucas Costa / O Liberal
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A umidade paraense e os casarões antigos são cenário do novo filme do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, que começou a desenhar nas últimas semanas sua adaptação para as telonas do romance “Relato de Um Certo Oriente”, do renomado escritor manauara Milton Hatoum. O longa de ficção teve suas filmagens em Belém finalizadas na última terça-feira, 14, depois de algumas semanas tendo como locações diversos endereços da cidade.

Premiado com o Jabuti de melhor romance em 1990, o livro da Hatoum no qual o filme de Gomes é inspirado, conta uma história sobre a chegada de imigrantes libaneses à Amazônia, na década de 1950. Na adaptação de Marcelo, que além da direção, também assina o roteiro com colaboração de María Camargo, Isadora Rodrígues e Gustavo Campos; Belém é que protagoniza o cenário amazônico. Em entrevista a O Liberal, o diretor explicou o motivo de ter escolhido a capital paraense.

“Belém tem um casario maravilhoso, muito preservado, muito mais preservado do que Manaus. Belém tem uma luz maravilhosa, uma atmosfera maravilhosa, uma cultura maravilhosa, pessoas maravilhosas. Então esse caldo cultural de Belém é maravilhoso. É muito prazeroso trabalhar em Belém, é muito prazeroso filmar em Belém. E além disso tem um casario antigo preservado que é de extrema importância para nós, que iríamos narrar um filme que se passa no início dos anos 50. Então fiquei muito feliz em decidir por Belém, uma cidade que nos tratou muito bem. E quem sabe voltaremos aqui um dia para contar outras histórias que se passam em Belém”, conta Marcelo.

Outra curiosidade sobre o filme é que todos do elenco, que interpretam personagens libaneses, são libaneses nativos; uma exigência do diretor. “Eu acho que ia trazer uma cor, um jeito de falar, um jeito de ser muito verdadeiro para o filme”, defende Gomes.

Em “Relato de Um Certo Oriente”, Emilie é interpretado por Wafa’a Celine Halawi; Omar, o mascate muçulmano que se apaixona por ela, interpretado por Charbel Kamel; o irmão de Emilie, Emir, que viaja desde o Líbano com ela até Manaus, é interpretado por Zakaria Kaakour. O elenco tem ainda o ator italiano Eros Galbiati, que interpreta o fotógrafo europeu Dorner; e a amiga indígena de Emilie, Anastasia, é interpretada pela atriz da etnia Tukano, Rosa Peixoto.

O filme conta com produção de Guilherme Coelho, Mariana Ferraz, Eliane Ferreira e Ernesto Soto. A cinematografia é de Pierre de Kerchove. “Relato de Um Certo Oriente” teve ainda quase metade de sua equipe formada por profissionais de Belém, passando por setores como direção, produção, arte, figurino e transporte.

Marcelo Gomes conta uma história de imigração nos anos 50, mas que reflete sobre temas urgentes na contemporaneidade

O diretor e roteirista Marcelo Gomes, de Recife (PE), é conhecido por sua forma singular de contar histórias, seja na ficção ou documentário. Ele tem no currículo produções como “Cinema, Aspirinas e Urubus” (2005), “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (2009) e “Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar” (2019). Gomes também já esteve mais de uma vez nas seleções do Festival de Cinema de Berlim.

Em “Relato de Um Certo Oriente”, Marcelo Gomes se dedica a abordar um tema que “nunca foi tratado pelo cinema anteriormente”, a chegada dos libaneses à Amazônia. Mas o interesse do diretor pela história inicialmente contada por Hatoum vai além da imigração. 

“É um tema extremamente singular, e cinema é sobre singularidade. Por isso decidi trazer essa história para um público mais amplo que promove o cinema. Além disso, ele toca em dois temas que, para mim, são muito urgentes e de extrema relevância: alteridade e intransigência religiosa”, explica Marcelo, que defende também a urgência dos temas.

Alteridade, conceito que versa sobre as relações humanas a partir da demarcação das diferenças de cada um, está dentro da narrativa por meio do contato entre duas culturas - a dos libaneses e a amazônica - como explica Marcelo.

“É um encontro de alteridades magnífico, e isso é muito importante, discutir alteridade hoje em dia, porque alteridade é a relação com o outro, como você vê o outro. E a partir da construção da relação com o outro, os preconceitos se destroem. Porque se você entende sua diferença em relação ao outro, respeita essas diferenças e convive harmonicamente”, diz.

É a alteridade que leva aos dois outros assuntos principais abordados dentro da produção de Marcelo Gomes: a intransigência religiosa e a imigração. Mesmo localizado na década de 50, entre o Norte do Brasil e o Oriente, o diretor defende que são temas universais e urgentes.

“Acho que o ‘Relato de Um Certo Oriente’ fala de histórias de pessoas que tentam construir uma convivência a partir de culturas diversas, mas também sobre pessoas que, de uma forma ou de outra, tentam dar um sentido à própria vida”, justifica Marcelo.

Elenco estrangeiro tem primeira experiência na Amazônia

Em “Relato de Um Certo Oriente”, a experiência de contato com outra cultura vai além da frente das câmeras. O elenco de estrangeiros é composto de artistas que também tiveram seu primeiro contato com a região amazônica durante as gravações. 

Charbel Kamel, que vive muçulmano Omar, descreve o período em Belém com uma palavra: “Úmido”. Ele também revela que a jornada amazônica foi dividida em duas partes, a primeira dela 18 meses atrás, quando as gravações foram interrompidas logo nos primeiros dias, por conta da pandemia de coronavírus; e a continuidade agora.

“Nós, claramente vimos os efeitos da pandemia no roteiro, em nós, e na forma como estamos lidando com esse filme e essa jornada. O roteiro mudou nesse meio tempo, e a representação da Amazônia também mudou. Minha experiência com a Amazônia é humilde e curta. Eu não vim com a pretenção de conhecer mais do que a história conta, ou de conhecer mais locações do que as filmagens nos levaram e que o elenco nos mostrou. Eu pude ver a Amazônia por meio do roteiro do Marcelo, e estou ansioso para assistir ao filme e ver a Amazônia através dos olhos dele. Talvez um dia eu possa voltar e ter outra história com esse lugar”, diz Charbel.

Libanês radicado na França, Charbel fala também sobre a experiência com a migração, muito presente no filme, e sua percepção do tema no norte brasileiro. “O que eu notei durante minha estadia é que quase todo brasileiro tem (ou conhece alguém que tem) uma avó libanesa. Tem mais libaneses pelo mundo que no próprio Líbano!”, diz ele.

“Estamos com os corações despedaçados procurando por um lugar para chamar de casa. E uma vez que encontramos um lugar para chamar de casa, mantemos essa saudade em nossos corações, em nossos nomes, em nossas histórias, em nossa comida; e carregamos isso tudo de novo, tentando proteger tudo isso, ou se esconder disso, constantemente nos perguntando ‘e se?’”, descreve Charbel, sobre o povo libanês.

Com as filmagens em Belém, finalizadas, “Retrato de Um Certo Oriente” deve ter novas cenas filmadas na Itália em 2022. O filme é uma coprodução oficial entre Brasil e Itália, coproduzido pela Kavac Film Itália. O longa de ficção tem lançamento previsto para o início de 2023.

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