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Pesquisa resulta em catálogo com mais de 100 anos de obras audiovisuais do Pará

No esforço de tirar o cinema paraense da invisibilidade, catálogo é lançado junto ao bom momento da produção local graças as leis de fomento a cultura.

Toni Cavalcante
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Os últimos 10 anos na vida do professor Ramiro Quaresma foram conduzidos por um propósito: tirar a história do cinema paraense de uma penumbra que a cobria. Para isso, por dias e noites, esteve em busca de longas, curtas-metragens e videoclipes produzidos no estado nos últimos 113 anos (1910 a 2023). “Foi desafiador pela dificuldade de ter acesso às obras. Elas não tinham um acervo organizado e as poucas cópias existentes ainda eram em película”, relembrou Quaresma.

Todo esse esforço virou sua tese de doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um presente ao cinema paraense na data de hoje, 5 novembro, Dia Mundial do Cinema. Intitulada “O cinema e o audiovisual do Pará: memórias submersas de uma filmografia invisível", a pesquisa virou um catálogo registrando mais de 130 obras produzidas no Pará e contendo análises históricas de todas elas.

“Meu papel de pesquisador foi tirar essas obras do fundo do rio e trazê-las à superfície”, comparou. A analogia para falar sobre sua pesquisa não é um exagero. A dispersão das obras e a falta de catalogação é era tanta que gerava uma impressão de “não existência do cinema paraense”, segundo ele.

Mas, agora, a partir de sua tese, ficou evidente uma intensa produção local, principalmente a partir dos anos 1960. “Acredito que ela (a pesquisa) contribui muito para estabelecer marcos inicias para pesquisas futuras”, confia Ramiro, que também é professor do Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Após a conclusão do trabalho, o professor organizou todo esse acerto no site “Cinemateca Paraense”, onde pode ser encontrado todas as mais de 300 obras do audiovisual produzidas no estado.


Divisão da Pesquisa

Desse acervo, foram selecionados 132 títulos ilustrativos para marcarem sete ciclos do cinema do Pará: da chegada de Ramon de Baños, no início do século XX, até o cinema de Líbero Luxardo; as experimentações entre os anos 1970 e 1990 de nomes como Chico Carneiro, Januário Guedes, Edna Castro e Moisés Magalhães; o cinema dos anos 2000 e o início dos editais de fomento, com destaque para a produção de nomes como Fernando Segtowick e Jorane Castro; os documentários, animações e videoclipes pela enorme produção a partir dos anos 2000 também ganham capítulos próprios; e o cinema contemporâneo com realizadores como Roger Elarrat, Zienhe Castro, Priscilla Brasil, Mateus Moura e Adriana Oliveira.


2024: ‘Momento’ do Cinema Paraense

A tese do professor Ramiro Quaresma já vem sendo considerado um marco na história do cinema paraense. Um feito e tanto para uma região ainda pouco lembrada pelo restante do país quando se fala de cinema. “Eu acredito muito na potência criativa do estado do Pará. É só questão de tempo para chegarmos ao nível de Recife em produção cinematográfica”, confia Quaresma.

A referência a cidade de Recife, capital de Pernambuco, não é à toa. Nos últimos anos, nacionalmente, e ela quem mais se destacou, graças a produções como "Bacurau", "Divino Amor", "Boi Neon" e "Aquarius", sucessos de crítica e público, consolidando a cidade como um dos polos cinematográficos do país. “Nós temos a atmosfera poética e cultural propícia para termos o protagonismo na produção de filmes nacionais”, garante o pesquisador.

E para se chegar a esse patamar de protagonismo, na opinião de Ramiro, falta apenas um detalhe: investimentos. Durante muito tempo, a captura de recursos era um dos grandes percalços para a produção local. No atual cenário, no entanto, essa etapa ganhou aliados importantes para resolver esse problema de anos atrás: as leis de fomento a cultura, lançadas nos últimos anos, como a Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Só a Paulo Gustavo, segundo informações do Ministério da Cultura, injetou mais de R$ 165 milhões no estado,

Apesar de ainda enxergarem com críticas como repasse dos recursos dessa lei são feitos, outros profissionais do audiovisual paraense ouvidos por O Liberal compartilham da mesma confiança do professor Ramiro: o cinema paraense deve viver um grande momento a partir de 2024.

Rafael F. Nzinga, Diretor da produtora Cine Diáspora e conselheiro da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), considera o repasse da Lei Paulo Gustavo como “histórico” para a região. “O que normalmente vai para as mesmas produtoras do eixo Rio/São Paulo, graças a essa Lei Paulo Gustavo, vamos finalmente receber recursos para realizações de alta qualidade”, comenta.

O videomaker Márcio Crux, participante das produtoras independentes Equipe Reduzida e Visagem, lembrou como essas leis foram importantes para a sobrevivência dos profissionais durante a pandemia. E que foi sobrevivência, agora, vira esperança. “Com os repasses e a interiorização dos recursos, mais gente conseguirá produzir seus produtos e até se profissionalizar. 2024 será um bom ano em termos de produções e trabalho no audiovisual no Estado do Pará”, acredita.

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