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Peça ‘Por que não nós?’ mostra em Belém as agruras da masculinidade tóxica

Espetáculo coloca em cena três atores da hora – Samuel de Assis, Amaury Lorenzo e Felipe Velozo - e propõe questionamentos com bom humor por parte do público nos dias 14 e 15 de junho, no Theatro da Paz

Eduardo Rocha
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Aquela imagem do troglodita que sai de casa para caçar e a mulher dele fica para cuidar dos filhos e dos afazeres do lar parece ser coisa do passado, mas acaba não sendo bem assim. Nas últimas décadas, a mulher saiu de casa, encarou estudos e o mercado de trabalho, passou a concretizar sonhos, a conciliar emprego e tarefas de casa (que são intermináveis), ainda que sofra toda uma pressão social, em particular do próprio companheiro, em muitos casos. Enquanto isso, o homem ou o Super-homem idealizado por muitos mostra-se em uma encruzilhada: descobriu que não é infalível no que se espera dele e tem pavor em revelar suas emoções e mostrar que é apenas um ser humano com virtudes e imperfeições. Esse desafio  masculino é o mote da peça “Por que não nós?” que o público de Belém vai poder conferir nos dias 14 e 15 de junho no Theatro da Paz. No palco, vão estar três talentos da arte cênica brasileira: Samuel de Assis, Amaury Lorenzo e Felipe Velozo.

“Por que não nós?” conta com texto de Júlia Spadaccini e tem a direção de Débora Lamm. Nesse espetáculo, a abordagem da temática se dá de forma bem-humorada, mas propiciando a reflexão por parte de quem está na plateia. Esse mergulho profundo e ácido no psiquismo do que é ser homem em nossa sociedade ocorre mediante a reunião de três amigos, muito próximos e que sabem tudo da vida uns dos outros. São três personagens sarcásticos e penetrantes em uma dramaturgia que debate um conceito muito atual: a masculinidade tóxica  e suas consequências. 

Desse modo, o público é convidado a olhar para essa questão, a partir de uma sequência de questionamentos, até que possam ser dissolvidos dogmas limitantes da liberdade do ser, em particular dos homens. “Quisemos entender como somos atingidos pela contenção do que sentimos, mesmo rindo das ansiedades e das angústias que essa contenção provoca”, explica Felipe Velozo.

Tóxica

Ser homem não é algo assim tão simples, como mostra a peça. Até porque, como indica o espetáculo, a masculinidade tóxica é percebida como um conjunto de ideias e mecanismos voltados para que os homens se encaixem em padrões que mantenham um equilíbrio social baseado na violência. Até que essa violência se volta contra os próprios homens em uma espiral de manifestações que incluem a exacerbação da virilidade, o machismo, a violência contra a mulher, homofobia e transfobia.

Esse pressuposto é capaz de responder por muitos dos problemas visíveis nos relacionamentos entre gêneros; na violência de todo dia nas cidades; nas guerras; nas agressões à natureza, à criança e ao adolescente; na falta de diálogo entre as pessoas e em famílias; na violência verificada nas redes sociais e em outras situações. Tudo porque o papel do machão, do homem durão se sustenta no orgulho, vaidade e egoísmo e não deve rimar com demonstrações perenes de amor, respeito a toda pessoa, compaixão com erros alheios e por aí vai. Ao que parece, o mito do homem que não chora persiste, camufladamente.

Entretanto, “Por que não nós?”, em formato de comédia, descortina assuntos sérios, como saúde emocional, estigmas e preconceitos. “A história fala de amizade, de educação emocional, sobre como nós, homens, não somos criados para falar, para discutir nossas emoções. É um espetáculo sobre isso. Sobre a dificuldade que a gente tem em nos relacionarmos emocionalmente”, destaca Samuel de Assis.

O universo impresso neste espetáculo é foco constante de campanhas de saúde mental, palestras, livros, teses, estudos culturais e sociais, reportagens, filmes e outros trabalhos. Para se ter uma ideia, existem campanhas para que os homens ou Super-homens compareçam a consultas médicas para checagem da sua saúde. Em geral, homem não gosta de médico, como se diz.

 “O teatro pode, e muito, contribuir para os debates que brotam das questões de gênero, no mundo em que vivemos, que estão fervilhando e reclamando outros modos de discussão”, diz Amaury Lorenzo. Hoje mais que nunca, a questão dos gêneros fervilha na sociedade, em um debate em escala planetária, com muito pano pra manga.

Como exemplo, se tem que uma das agressões mais chocantes ao ser humano, na questão de gênero, ou seja, em algo fundamental da vida em sociedade, ocorre quando uma pessoa assume-se como homoafetiva, por exemplo, e é, então, expulsa da própria família. Essa situação configura-se como o ponto de partida de  uma sequência de fatos em geral muito duros para a pessoa em questão: isolamento, discriminação, dificuldades para se manter dignamente (mendicância), depressão e até, muitas vezes, o autoaniquilamento. Tudo porque se contrariou o padrão social de gênero.

Por isso, conferir um espetáculo que provoca questionamentos sobre esse assunto é sempre uma oportunidade. O humor tem a faceta de construir situações surpreendentes e o teatro é uma arte-mãe capaz de sempre provocar a sociedade a pensar ou a se repensar. Quem sabe, o troglodita que anda por aí não ganhe um novo olhar sobre si mesmo, torne o lugar em que vive aconchegante para todos e se sinta mais feliz.  

 

Serviço:

Espetáculo: ‘Por que não nós?’

Com os atores Samuel de Assis, 

Amaury Lorenzo e Felipe Velozo

Nos dias 14 e 15 de junho

No Theatro da Paz, na avenida da Paz,

Praça da República, S/N, centro de Belém do Pará

Ingressos: Vendas disponíveis na bilheteria do Theatro da Paz e no site da Ticket Fácil











 

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