Mesmo com destaque, mulheres ainda enfrentam desafios no teatro

De Maria Sylvia Nunes a Wlad Lima, o campo teatral paraense tem cara de mulher, mas ainda há dificuldades

Lucas Costa
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Recém falecida, Maria Sylvia Nunes é uma daqueles nomes que enche de orgulho a história do teatro no Pará, mas desde o início desse legado, esta história também vem sendo escrita por muitos outros nomes femininos. O teatro pode ser considerado a expressão artística onde a presença de mulheres em sua história é equiparada a de homens, mas isso não excluiu o machismo desta narrativa.

Letícia Olivier, 24, é uma destas mulheres do teatro. Ela descobriu a aptidão para a atividade em 2010, quando resolveu compensar as aulas de educação física com as de artes cênicas, no IFPA. De lá pra cá ela até tentou ir pra área de museologia, mas o teatro falou mais alto, e ela foi para a Escola de Teatro e Dança da UFPA. 

Letícia atua em todas as áreas, desde a direção e dramaturgia, até os palcos. Na escola, ela já dirigiu o espetáculo “Casa das Madalenas”, e também participou de produções no teatro juvenil da instituição.

A paixão de Letícia no teatro, no entanto, também lhe trouxe alguns problemas pelo simples fato de ser uma mulher dentro da atividade. “Em ‘Casa das Madalenas’ eu tive problemas grandes. Na segunda temporada eu cheguei a sofrer violência psicológica. Quando a gente começa a se impor, às vezes eles [os homens] sentem e não aceitam muito bem que uma mulher esteja fazendo algo. Mas você percebe que quando um homem sugere a mesma coisa, a ideia é acatada facilmente”, conta Letícia.

O problema fez com que a diretora deixasse a montagem, e chegou a ser diagnosticada com depressão por conta dos problemas nos bastidores. Ela também relata que algo parecido ocorreu com sua ex-namorada, que na época ela trabalhava na divulgação da peça e também sofreu violência. Ela foi afastada do trabalho, e o cargo passou então a ser ocupado por um homem, o que tornou a divulgação mais sexualizada, como conta Letícia.

Atualmente os problemas foram resolvidos em acordos e Letícia voltou para a montagem. “Quando a gente trabalha com muitos homens é complicado, mas vale lembrar que o teatro paraense é cheio de mulheres, como a Wlad Lima, Marluce Oliveira, a própria Maria Sylvia Nunes… Nossa história é cheia de mulheres fortes”, destaca.

Letícia relembra ainda a história de que a primeira montagem de “Morte e Vida Severina”, conhecida Brasil afora, foi dirigida por Maria Sylvia Nunes, em Belém; mas nos livros o registro é de que a estreia teve direção de Silnei Siqueira, no Teatro da Universidade Católica, em São Paulo. “Acho que isso diz muito sobre como o Brasil vê essas histórias de mulheres no teatro”, avalia.

“Agora a gente precisa construir esse futuro bonito como ele foi no passado. Tem nomes muito bons na cena atualmente, como a Rhero Lopes, Alana Lima e Barbara Gibson. Acho que a gente tem que ocupar esse espaço e fazer valer nossa voz”, diz Letícia.

Uma das mulheres que também representa a cena construída ao longo do tempo no teatro de Belém é Tânia Santos, 54. Ela faz parte do Grupo de Teatro Palha, formado em 1980.

Economista por formação, Tânia foi encantada pelo teatro quando conheceu seu marido, Paulo Santana. Na época ele a chamou para escrever projetos para captação de recursos, e foi esse o pontapé para que ela entrasse de cabeça nas artes cênicas. “Comecei a assistir e acompanhar essa vida dele de diretor e o teatro acabou entrando na veia”, conta.

“Hoje a cidade tem muitos produtores, mas na época havia uma precariedade grande de quem fizesse produção, então eu virei a economista que se tornou produtora. Fui mergulhando cada vez mais nesse fazer de produtor, que tem que conhecer, viver o teatro. Como captadora de recursos eu não tinha como fazer projetos sem vivenciar aquilo”, relembra.

Tânia então entrou no mestrado em artes, também por conta de alguns preconceitos que chegou a enfrentar na atividade. “As pessoas diziam muito que eu não era artista. Não me olhavam como produtora, mas como economista”, conta.

Atualmente ela segue no cargo de produtora, mas não deixou de lado a atividade de economista. Casada com Paulo, com quem tem dois filhos, ela conta que se divide entre as duas atividades.

Como mulher no teatro, Tânia enxerga que elas tem rompido barreiras ao longo do tempo. “Acho que hoje nós mulheres do teatro não temos medo, a gente vai para cima. Conheço mulheres poderosas que estão na cena e já romperam com isso, mas é uma percepção minha”, diz ela, que também destaca nomes como Wlad Lima, Zê Charone, Marluce Oliveira e Zélia Amador de Deus.

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