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O empoderamento da arte amazônica

Moara Tupinambá e Nayara Jinknss, são mais duas paraenses selecionadas na categoria Fomento à Produção de Artistas Emergentes da Amazônia Legal

Bruna Lima
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O resgate e a verdade da arte e da história da Amazônia estão como principais recursos nos discursos e nas obras das artistas paraenses Moara Tupinambá e Nayara Jinknss, selecionadas na categoria Fomento à Produção de Artistas Emergentes da Amazônia Legal. As artistas usam a fotografia como forma de mostrar o silenciamento e o apagamento da cultura, e esses trabalhos poderão ser conferidos pelo público a partir de 22 de setembro, na Casa das Onze Janelas, no bairro da Cidade Velha, em Belém.

O Projeto Arte Pará 2022 é apresentado pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio do Centro Universitário Fibra e do grupo Equatorial Energia e com apoio institucional do grupo O Liberal e dos Institutos Inclusartiz e Pivô Arte e Pesquisa. O Arte Pará é uma realização da Fundação Romulo Maiorana.

Moara Tupinambá, Pará, 1983

Moara se entende como artista desde quando pintava roupas de brechó, em Belém, ao lado de uma amiga. Mas de fato começou a se dedicar à atividade de forma autônoma e profissional quando fez o curso "Processos criativos" , na Sala Ilustrada, com Catarina Gushiken.

“Atualmente meus processos criativos se dão em torno da minha própria história indígena que foi apagada, das minhas origens, da minha ancestralidade e pertencimento advindo dos povos tupi da Amazônia. As minhas referências são a minha família, os encantados, a floresta, as tecnologias ancestrais, os conhecimentos ancestrais, as sacacas, as cosmologias, as pajelanças, e também como a nossa cultura foi afetada, folclorizada, e ainda é pela colonização”.

Obra em destaque

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Moara inscreveu três obras, sendo duas fotopinturas da família; é a única foto que aparece o avô da artista. E a outra é uma foto que pertence ao acervo de Cucurunã, de crianças na escola. “Comunidade onde meu pai nasceu, em Santarém. A outra imagem é uma fotocolagem, que eu fiz para falar do passado e do presente e como as epidemias, desde a invasão, vem matando corpos indígenas. Eu fiz no momento da pandemia esta imagem”. 

Arte Pará

“Eu fico muito feliz de ter sido selecionada, pois é um espaço que nunca deu a oportunidade de corpos como o meu estarem presentes neste local que sempre foi muito fechado. Considero também um marco histórico para uma indígena da retomada Tupinambá estar presente neste lugar. Que seja uma abertura para que mais indígenas possam ocupar esse espaço que também é de nosso direito”

Arte Contemporânea

“Atualmente eu enxergo com mais interesse, pois vários corpos indígenas e pretos estão trazendo suas artes contemporâneas, que são artes reais, da vida. Tem muita coisa interessante sendo produzida pela arte indígena contemporânea, por exemplo, nomes como Denilson Baniwa, Emerson Uyra, Julie Dorrico, Edilene Hunikuin, dentre outros. Desde pinturas, filmes, poesias, performances. Eu vejo a arte contemporânea neste momento como um dos melhores na história da arte no Brasil, muito mais cheio de vida e verdade”.

Nayara Jinknss, Pará, 1990

Nascida e criada na Cidade Nova, em Ananindeua (Região Metropolitana de Belém), Nayara trabalha com fotografia e com artes visuais há 13 anos. Mas antes de ser fotógrafa e documentarista, se diz professora, pois enxerga a educação como a única saída para um mundo digno. Por meio da fotografia, ela explica que pode documentar a beleza das pessoas e denunciar também alguma condição além da estética. 

Entre as referências, a artista cita Alexandre Sequeira, a companheira Ana Mendes, Jaider Esbell, entre outros. "Todo mundo bebe muito na fonte do João Roberto Ripper, se todo mundo o conhecesse, a gente teria uma fotografia mais honesta", pontua.

Obra em destaque

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A fotógrafa foi selecionada com dois trabalhos: "A estética do cotidiano" e o "Brega como empoderamento do paraense". Como admiradora do brega e da cultura paraense, a fotógrafa fez um registro de trabalhadores dançando e se divertindo com a própria cultura no Mercado do Ver-o-Peso, lugar onde as pessoas são vistas por estereótipos marginalizados. Neste segundo trabalho, a fotógrafa encontrou uma forma de empoderar ainda mais essa cultura da periferia.

"Estética do cotidiano" se trata de um trabalho mais particular, onde a fotógrafa tenta resgatar um pouco da história do pai e da vida ribeirinha, vida essa que já teve preconceito. "Hoje meu olhar se volta para lá porque quero estar perto deste lugar", destaca.  

Arte Pará

"Vejo que há muitas críticas e eu também critico muitas vezes o Arte Pará. Critico o método de avaliar o artista pela questão do portfólio, pela questão do edital, pois eu sempre tive muita dificuldade com o edital. Mas eu fico muito contente quando o meu trabalho consegue acessar lugares que eu acho que são lugares de poder. Quando consigo chegar nesses espaços e dialogar eu fico muito realizada porque não existe nada de errado em ter que revisitar, rever um método, voltar atrás, saber que pode errar, mas saber que a gente pode fazer diferente numa próxima vez, mas enfim, eu me sinto confortável em saber que eu posso errar e pensar".

Arte Contemporânea 

"A arte contemporânea se você não tem muita firmeza do que você está discutindo, ela vai ocupar a sua cabeça. É um lugar de muito poder, de muita vaidade, disputas e eu não gostaria de participar dessa arte contemporânea. Eu como uma documentarista, acredito que quando a arte contemporânea começar a compreender as questões populares e parar de chamar sempre as mesmas pessoas, o mesmo padrão, os mesmos salões, os mesmos curadores, os mesmos professores, ela vai continuar sendo muito do lazer".

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